Amberle
Caminho pelo corredor cercada pelos meus melhores guardas. Na verdade, isso me irrita as vezes. Durante muito tempo depois do massacre no castelo, eu fui incessante. Passei dias e noites com espada em mãos, treinamentos agressivos e exercícios intensos. Corri por toda redondeza do castelo mas não me distanciei. Agora o meu tio mais novo se tornou rei, todos os herdeiros foram massacrados, além do meu namorado Lorin. Sobramos apenas nós. Ele agora exagera na minha segurança, além de querer me empurrar para um príncipe qualquer. O próximo é um tal de Will Ohmsford, ainda não o vi, mas meus olhos já podem se revirar.
Após minha corrida matinal pelos corredores quase vazios do castelo e aos arredores, vou para o quarto e vejo Catania, a serva e amiga, sentada em minha cama à minha espera.
- Você ainda vai explodir um dia - ela diz
- Eu não posso estar despreparada de novo. - digo e retiro meu colete, ficando apenas com uma faixa que cobrem meus peitos - Não posso ficar escondida no castelo enquanto estão numa batalha novamente.
Pulo e agarro-me na barra de ferro pra roupas que adaptei para mais exercícios, apoio a parte de trás dos joelhos e passo a ver Catania e todo o quarto de forma invertida.
- Pelo que eu me lembre, você escapou do castelo pra ir à batalha.
- É... E o tio Ander quase morreu tentando me resgatar.
- Você pode, por favor, parar de fazer essas coisas? Você já está vermelha de tanto esforço que já fez.
- "Isso" se chama flexão na barra, eu quem inventei. E ficar vermelha é algo bom, o suor também.
Catania solta um muxoxo e se levanta.
- Vou preparar o seu banho. Você vai precisar.
Ela se retira para o reservado.
- Obrigada. - digo
Continuo as flexões mesmo depois que ela parte, após preparar o banho. Dou socos no ar vezes ou outra, eu preciso estar em forma... mas na verdade, algo me diz que eu não quero esvaziar a mente. Não quero pensar nas mortes, nas responsabilidades, em nada. Por isso tudo parece tão corrido.
Ao descer da barra, me dispo e apanho alguns pergaminhos antes de entrar para o banho. A banheira real tem espaço o suficiente para mim e meu pensamentos, então, acho que um pouco de desenho não me fará mal. Pelo contrário.
Para minha surpresa, ou não tanto assim, vejo Catania adentrar pela porta. Sorrio pra ela de imediato e ela prontamente se senta onde outrora jazia minha cabeça e massageia meus ombros, cabeça e cabelos. Eu não posso me queixar, Catania sempre esteve ao meu lado e quando eu descobri que ela havia sobrevivido, foi como uma bênção. Ela costuma massagear meu corpo na banheira ou na cama, costumo abraçar-lhe com frequência e em longos tempos, costumamos conversar e até mesmo brincar, certas vezes, em meu aposento. Ela me faz sentir em paz por alguns minutos, vezes ou outra pedia para que ela ficasse à noite, assim poderia me sentir um pouco mais tranquila. Temo por ela, pois sei o que sente por meu tio, e agora com esse casamento forjado, ela não terá sua devida chance.
Quando saio do banho, visto meu traje de repouso e vou até meus aposentos, Catania parte. Coloco os pegaminhos de lado e apanho outros, assim como o mapa do castelo e dos quatro reinos, então, repouso em meu leito. Não só meu corpo deve estar preparado, mas também minha mente. Estudo cada lugar dos quatro reinos e até mesmo o castelo, e em meus pergaminhos monto estratégias. Eu sei que é dever do rei, mas eu não me limito a isto. Tio Ander diz que o mais prudente a se fazer é me casar com um príncipe para que ganhemos aliados, mesmo contra minha vontade, assim como ele deve se casar com uma princesa contra sua vontade. A comitiva de Leah estará aqui em breve, assim como a de Shady Valle, no mesmo dia. Será um dia daqueles.
Demoro por horas antes que tio Ander se dê por minha falta. Eu sei que ele deseja o meu bem, mas o meu bem é saciar o que preciso que seja saciado. Ele entra e fica parado, de pé, encarando-me enquanto continuo meu estudo.
- O que está fazendo? - ele questiona
- Estou lendo.
- Vejo apenas mapas e anotações suas.
- Estou lendo os mapas.
- Novamente, Amberle?
- Rei Ander, eu não estou fazendo nada que agrida a ninguém.
- Eu entendo o seu luto, entendo sua dor e entendo que queira se preparar. Mas você está exagerando. Já se faz dois anos desde tudo o que aconteceu.
- Eu apenas estou gastando meu tempo com coisas produtivas. - explico
Ele revira os olhos e respira fundo.
- Enfim, eu não vim aqui pra isto. Eu só vim lembrar que nossos pretendentes chegam amanhã pela manhã.
- Eu me recordo. Vá direto ao ponto.
- Não trate o Príncipe Will de forma agressiva.
Reviro os olhos com suas palavras.
- Sei que você não está com disposição pra um relacionamento, mas é bom pro reino e pra você. - ele continua
- Pra mim? No quê? Não me leve a mal, eu quero me casar um dia, mas não agora. E não com um Príncipe qualquer.
- Amberle, você já está na sua maior idade. Vinte anos já é uma boa idade pra pensar em pretendentes.
- A resposta pra isto já foi dita.
Ele revira os olhos novamente.
- Só, por favor, coopere amanhã. É um pedido, como tio.
Suspiro.
- Ok. Não que eu planejasse ser mal educada ou coisa do tipo, mas permitirei que ele tente criar conversas.
- Obrigada. - ele sorri pra mim - e antes que eu vá, lembro-lhe que faltam apenas alguns minutos para o jantar.
- Eu lhe encontro lá.
- Certo.
Ele se retira e eu finalmente respiro com facilidade. Encosto-me e largo meus papéis ao meu lado, eu não quero um pretendente agora, mas entendo meu dever. E irei cumpri-lo. Não é que eu não queira alguém, como eu disse, algumas noites chego a ter sonhos com pessoas em meu leito, mas não é algo que me veja aberta agora. Infelizmente não tenho opção. Que chegue logo o dia de amanhã, então.
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Capítulo curtinho apenas para a apresentação de Amberle :))
Até o próximo s2
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Reino Caído
RomanceApós um terrível massacre cometido por um ex general de Arbolon, a princesa Amberle é uma das poucas sobreviventes do Reino. Devido a traição de alguém tão próximo, a princesa passa a se questionar se o ataque não tornaria a acontecer diante da vuln...