XI

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Amberle

      Já estava cercada, mas desta vez não havia plateia. Meus homens e eu lutávamos, três de cada vez contra mim. Quando um era derrotado, outro entrava no lugar. Havia começado a treinar com duas espadas, o peso parecia me fazer vulnerável por várias vezes, parecia impossível no primeiro dia, mas agora consigo golpear, ao menos, e deixar uma de reserva aos meus pés e só pega-la numa troca de armas que certamente me favoreceria.

        O Centro de treinamento nunca parecera tão barulhento, grunhidos masculinos, o choque das espadas e até mesmo a mim; tudo contribuía para o cenário. Mas ainda pude ouvir um par de estridência a mais até que vi seu rosto após a derrota de um dos meus soldados, é Eretria. Ela veio para substituí-lo, meu corpo tornou-se em gelo puro, diria que meu rosto empalideceu-se. O sorriso irônico no rosto ao chocar sua espada com a minha não foi desmanchado nem mesmo ao me ver desvenciliar e perder o foco. E, com o meu devaneio, um de meus soldados me atingiu no braço, arranhando-me superficialmente, o que não deixou de arrancar de mim um longo "ai!". O soldado me encarou com se estivesse de frente com a própria morte.

- Está tudo bem. - digo

Só deu tempo de verificar o machucado quando ouvi a voz de Eretria.

- Tem certeza?

Não foi um "Tem certeza?" De modo preocupado, mas sim irônico. Ainda que pudesse ver traços de preocupação em seu rosto. Encarei-a nos olhos, os fantasmas dos meus sonhos na última noite não poderia afetar a mim agora, mas sempre que me lembro o que Catania disse sobre os diversos gemidos enquanto dormia, sinto-me enfraquecida e envergonhada. Ela havia me desestabilizado até mesmo em sonho e eu não faço ideia do que esteja acontecendo, mas ainda assim acordo em meio à uma confusão pela manhã ao passar uma noite inteira sonhando com esta mulher, que me beijava os lábios com uma propriedade absurda. É, de longe, o sonho mais perturbador que já tive, afinal, tenho que encara-la a cada dia diante de mim depois de tal façanha. Diferente dos meus pesadelos.

- Foi só um arranhão. - Digo - estou bem.

Ela assente lentamente para mim com a cabeça, checando o ferimento de onde está.

- Podemos cuidar disto se quiser. - sugeriu

- Podemos cuidar do seu, se quiser.

Ela parece ter lembrando do seu próprio ferimento ao ouvir minhas palavras, envergonhada. Isto me causa uma enorme curiosidade, então, dispenso meus soldados com um gesto.

- Saiam todos.

Ordeno e assim se é feito.

- Então, vai me dizer o que causou isto? - questiono

- Depende, vai conseguir me vencer?

Ela se posiciona com a espada e eu sorrio, posicionando-me em seguida. Então começamos.

       Meus duelos com Eretria são os melhores, ela é talentosa de modo que me faz perder por diversas vezes. Há uma troca.

       Seu olhar é focado diante de mim hoje, não vejo sorriso em seu rosto ou ironia em seu olhar, até mesmo nas vezes em que ganho o duelo. O que passa a mim tal seriedade e meu estômago começa a despertar todas as borboletas adormecidas. Uma tensão nos engloba, como de costume em todos os nossos olhares ou em momentos à sós, e isso me faz vacilar. Seu olhar parecia ainda mais negro do que o de costume, seus lábios entreabertos puxavam o ar com violência e todo seu movimento parecia querer chegar a mim. Flashbacks de sua imagem na banheira comigo em meu sonho me tomam a visão, então, seu olhar no jantar, depois seu olhar para mim enquanto estávamos com Wil e por fim o meu sonho de ontem à noite.

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