Reino Caído

V

- Como assim você quer adiantar os preparativos pro casamento? - Pergunto indignada

- Amberle, o rei e a rainha estão nos fazendo um favor. Nós podemos nos reerguer com essa aliança, nós não temos mais nada, estamos sem recursos pra tanto estrago. E estamos com sorte, além de tudo, afinal, Lyria e Will são pessoas adoráveis.

- Fale por você. Aquela garota me irrita apenas em respirar, o que me surpreendeu grandemente, achei que nos daríamos bem.

- Mas quanto ao Will?

- Um rapaz conquistador.

- Então...

- Tio... - Me aproximo e seguro-lhe as mãos - Não estou com bom pressentimento.

- Reinos não vivem de pressentimentos, Amberle, por mais que eu queira dar ouvidos à sua sensibilidade.

Ele se afasta devagar, arrastando os dedos sobre a mesa.

- Por que a rainha Tamlin daria a filha em casamento se a filha já é comprometida?

Ele respira fundo.

- Isto é um caso à parte. - ele diz

- Então você sabia?!

- Ela foi clara quanto a tudo, é como estamos lidando com tudo; não há como fazer negócios sem clareza. Eu já conversei com a princesa Lyria esta manhã e colocamos tudo em pratos limpos, inclusive, sobre a Catania.

- Ok. E quanto a princesa Lyria odiar Rovers e ter uma Rover como comandante e amante?

- Uma Rover?

- Agora tenho sua atenção?

- Lyria não me contou nada sobre isto.

- Eu suspeito que ela não saiba, mas sim a rainha Tamlin.

- Espera, você tem certeza? Como soube?

- E importa como eu soube? O que importa é que não conhecemos nada sobre o reino de Leah ou qualquer um neste reino. Não se jogue de olhos vendados nas palavras da rainha.

- E você acha que eu sou criança?

- Eu acho que tenta ver o melhor nas pessoas. Você conseguiu desfazer uma rixa de mais de cinquenta anos com os gnomos, mas os gnomos não são humanos. Os gnomos jogam limpo, como os elfos. Tenha cuidado.

Ele desvia o olhar de um lado para o outro, a preocupação no olhar, então, me aproximo e beijo-lhe a cabeça.

- Pense um pouco e quando precisar mande que algum servo me chame. Ok?

- Ok.

Ele se senta e eu caminho para fora da sala do trono. O meu papel foi feito, mesmo que ainda receosa, mas, afinal, eu tinha que contar, cedo ou tarde.

       Quando atravesso a porta, entro no corredor em direção aos meus aposentos, mas paro ao ouvir uma voz.

- Ai está, princesa. Indo para o centro de treinamento?

É a humana, Eretria. Minha mente começa a trabalhar e pensar o que ela fazia por aqui, mas pude ver no seu aproximar que ela acabara de chegar ao corredor, deixando minha hipótese de espionagem fora de cogitação.

- Indo para os meus aposentos... você? Centro de treinamento?

- Não. Na verdade, acabei de vir de lá.

- Me procurava? - Concluo e me aproximo

- Na verdade, só buscava um pouco de diversão. Algo que não estivesse  relacionado a acordos ou relacionamentos.

- Entendo. Então buscou o lugar certo, é exatamente o lugar que eu procuraria.

Ela sorri um pouco de lado, deixando os dentes pouco evidentes, e se aproxima um passo, mas para com as mãos unidas em frente ao corpo.

- Enfim. Foi uma honra, Princesa.

Ela volta a caminhar, passando por mim, mas minha mente parece trabalhar em um milhão por hora quando digo:

- Hum... Comandante?

Ela para e se vira para mim.

- Sim?

- Você não me respondeu quanto ao nossos treinamentos. Você se importaria?

Ela sacode os ombros breve e rapidamente, contorceu de leve os lábios e disse:

- Seria proveitoso.

- Então amanhã?

- Amanhã.

Ela sorri brevemente e continua seu percurso, deixando-me sozinha no corredor. Torno o meu trajeto e caminho até os meus aposentos, Catania já me esperava sobre a cama.

- Como foi o treinamento? - Ela questiona

- O treinamento foi pela manhã, enquanto meu tio conversava a sós com aquela Lyria - reviro os olhos

Mas ao ver o semblante da mulher à minha frente eu me lembro do motivo ao qual não devia comentar tal coisa com ela.

- Me desculpe, Catania.

Sento-me ao lado dela e coloco minhas mãos em seus ombros. Ela apenas sacode rapidamente a cabeça e dá um sorriso tristonho.

- Vai acontecer de qualquer forma. - Ela diz

- É. Eu estava com ele na sala do trono e parece que estão chegando a um acordo rapidamente. Me falou em apressar os preparativos... como se eu quisesse me casar agora.

Ela coloca a cabeça em meu ombro e eu a abraço.

- Ao menos eu conseguirei ficar de olho na comandante de Leah, eu a chamei para me treinar a partir de amanhã. Se ela era uma Rover, ainda tem os instintos de uma Rover.

- Achei que tivesse gostado da mulher.

Minha mente parece se agitar, de fato ela está certa. Posso sentir a diferença dos meus sentimentos em relação a quando estou com Lyria e quando estou com Eretria. Todo o meu corpo retém uma pequena rejeição e sente um mal pressentimento quanto a princesa de Leah, mas quanto sua comandante...

- Eu sei o que eu lhe disse ontem e continuo com um bom pressentimento quanto à esta. Mas ainda assim, sinto que devo estar preparada. Quando imagino o papel da comandante em tudo isto, eu imagino sempre algo maior do que ela agindo nas ações dela, o que é diferente com a rainha e a princesa. Eu não sei, é só uma sensação.

-E você sempre acerta.

- É... eu sempre acerto.

Ficamos por longos segundos em silêncio, minha mente trabalhava a mil.

- Vou preparar um banho e trazer uma bela refeição.

Catania se levanta e sai do meu campo de visão. Ela parece simplesmente sentir o que eu preciso, é incrível a nossa ligação. Mas o meu corpo age de uma maneira aliviada ao vê-la partir, logo tomo alguns pergaminhos e carvão, minha mente agora toma-se a trabalhar num desenho que se desenvolve desesperadamente através da minha mão. E então outro e outro e outro. Até que sou obrigada a escondê-los para que não continuasse a façanha. Respiro fundo e caminho para a grande banheira real, lá eu me sentiria melhor.

         Com o banho preparado, entro e reencosto-me afim de conseguir alguns pares de minutos em sossego ao meu corpo aparentemente exausto. Demora apenas alguns minutos até que eu consiga meu objetivo, um banho sempre me acalma. Eu apenas percebo que cochilei quando Catania me acorda, o que me surpreende bastante.

         Eu caminho para o quarto e como da refeição que me foi preparada enquanto Catania me conta sobre o dia. Uma bênção, afinal, tudo o que eu precisava agora era desligar minha mente do real problema: O inimigo aqui dentro. E Catania, como sempre, tira todo o peso dos meus dias nem que seja por alguns minutos, e eu sou grata por isso.

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E com esse capítulo mais curtinho eu deixo vocês nesta madrugada, estou ansiosa pro que estar por vir. Espero que tenham tido uma boa leitura.

E até o próximo capítulo.
Beijos s2