XIV

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Eretria

        O dia lá fora me parece agradável hoje, posso não ouvir os pássaros, mas sinto em mim que tudo está perfeito do lado de fora. Então concluo que é um belo dia para uma caminhada.

         Eu sei que Amberle teve a melhor de suas intenções ao querer me preparar alguns vestidos e me emprestar algum dos seus, mas ainda assim me sinto estranha. Peguei um farrapo velho dentro de um saco com as minhas coisas, o analisei em frente a um espelho e pensei duas vezes no que usaria. Acabo bufando, caída sobre a cama sem saber o que fazer. Não é como se ela tivesse me pedido pra usar, mas seu discurso foi de que eu devia andar mais a vontade no castelo já que não estava mais na posição de comandante. Posição esta que nunca me pertenceu, aliás.  Mas isto não é de seu conhecimento. Ela parece ter perdido o foco em seu objetivo depois de nos encontrarmos, não a vejo mais tão focada em proteger Arbolon e isto me preocupa. Afinal, estou fazendo exatamente o que Tamlin ordenou, ainda que não seja proposital. Seu vacilo pode lhe custar seu amado reino, mas ainda que minhas palavras tivessem efeito sobre a princesa, se eu revelasse o que sei, de nada valeria para o rei. Nada aconteceria a Leah e eu seria convenientemente morta pelas mãos de algum soldado. Além de que traição traz a pena de morte. Estes são alguns dos motivos pelo que aconteceu ontem no quarto da princesa.

**

      Caminho pelo corredor com minhas vestes habituais, não consigo imaginar como seria andar por estes corredores com o vestido surrado que tenho ou andar com um vestido real, arrastando pelo chão por causa da diferença de altura e sendo observada por Lyria. Como o novo brinquedinho da Princesa Amberle. Então, passo pela sala do trono e vejo Amberle no centro, seu olhar é preocupado. Apresso os passos, mas uma voz se ergue antes que eu consiga escapar.

- Você ai. Entre. - era a voz do rei

Paro, engulo em seco, dou meia volta e faço o que mandou.

- Eu só estava de passagem - justifico-me - Caminhava para os jardins.

- Não fale. Ao menos que seu rei ordene. - Um soldado que estava ali  o disse

- Não se afobe, Crispin. - Amberle o repreende

A princesa se aproxima do rei e fala algo que não consigo ouvir, é óbvio que alguma coisa está acontecendo. E tenho um mal pressentimento. Amberle se aproxima de mim e me puxa para um pouco mais distante de ambos os homens na sala.

- Algum problema? - questiono

- Na verdade, sim.

- No que posso ajudar?

- Estava vindo relatar o sumiço de uma pequena estatueta que estava no meu quarto quando vi o Crispin conversando com o meu tio...

- Espera, aquela estatueta que fica próxima à um espelho?

- Sim. Esta mesmo.

Sua expressão para mim é um tanto perturbadora, era como a de alguém que acabara de ganhar uma resposta que não gostaria, mas que ao mesmo tempo tentava não acreditar do que lhe foi revelado.

- Então você acha que foi um furto?

Ela olha para o trono e me olha de volta em seguida, levou as mãos aos meus ombros.

-  Mas não é esse o assunto em questão. Eu não sei direito o que está acontecendo, acabei de chegar, mas se você tem algo a me contar, esta é a hora.

Seus olhos eram como o de uma mulher em desespero, implorava-me para que me revelasse. Mas, por mais que eu queira, por mais que as palavras estivessem na ponta da minha língua, eu não posso. Se eu fizer isto, Leah sairá ilesa e eu serei como um cordeiro indo direto para o abate. Toda culpa cairá sobre mim e eu não poderei ajuda-la.

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