XVIII

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Eretria

    
          Tentava descansar, já que fugir não foi uma opção. Mas na cela ao lado, Ander, o rei caído, batia em todas as paredes numa esperança vão de achar uma saída. Bufei alto diante de sua importunação.

- Eu já disse, não há saída. Apenas a que entramos.

Aguardo alguns segundos, mas sua resposta vem num ar cansado.

- Achei que tinha dito que não estava falando com você.

Respiro fundo.

- Achei que também havia dito que não importa. Eu já tentei. E me ignorar não vai ajudá-lo.

Ele fica em silêncio, total silêncio. Mas quase posso vê-lo caminhar para o fundo da cela e sentar-se em desistência. Eu sei, foi assim comigo há alguns dias.

- E você? O que ainda faz aqui? - ouço a voz do rei novamente - Não devia estar lá, lado à lado com Lyria?

Analiso suas palavras, respiro fundo e sento-me.

- Eu sempre estive sozinha na minha vida, rei. Estive antes e estou agora... Estou aqui porque nunca fui aliada de Leah. E não trairia Amberle por causa dos caprichos da rainha.

- Amberle tinha razão. Sempre teve. Sobre você, sobre Tamlin... E eu fui tolo.

Ouço suas lamúrias com cuidado, afinal, conheço sua história. O último de sua linhagem por causa de um trágico destino.

- É, ela tinha razão.

- Por que não nos alertou?

- Lyria. Tamlin a mataria. Sim, a própria filha. E também sabia que você não teria provas contra elas.

- Então a estatueta...

- Tudo obra da rainha. Tudo parte do grande plano. Mas guarde minhas palavras, Lyria não é uma má pessoa. A influência da mãe e as ameaças a deixa cega. Mas jamais foi uma pessoa ruim.

- Não penso nelas. Ou em Arbolon, Eretria. Mas na minha sobrinha que está sozinha lá fora com uma multidão.

- Ela se sairá bem. E não está sozinha. Ela voltará para buscá-lo.

- Ela é só uma menina. Está à própria sorte. E acabará se matando.

Ouvindo suas palavras, sorrio. Porque não é a Amberle quem ele descreve. Não é. Porque eu a conheço.

- Não. Ela é corajosa, inteligente... Ela é forte, acredite. Posso afirmar pois já vi aquele... - respiro fundo - Belo abdômen, já senti a força de seus braços e a firmeza de suas mãos.

- Espere. Você está...

- Excitada neste exato momento? Um pouco. - sacudo levemente a cabeça - Mas o que quero dizer através do meu eu cômico é que Amberle não medirá esforços, não irá parar até te encontrar. E ela irá.

Sorrio de lado, cabisbaixa, ao lembrar de seus lindos olhos sobre mim no momento em que salvou minha vida nesta mesma cela há um dia. Era como se não houvesse foco em toda minha visão até que seus olhos se colocaram diante de mim. E a agonia em seu rosto ao me deixar para trás, pude ouvi-la lutar do outro lado dos portões.

- Então vocês estão juntas agora? - Ander pergunta

Só há uma resposta para isto.

- Eu a amo. Precisei passar cinco dias nesta cela para descobrir isto. Todas as lembranças, todos os sentimentos em que me privava... eu simplesmente me apaixonei pela princesa.

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