Romance XVII ou das lamentações no Tejuco

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Romance XVII ou das lamentações no Tejuco
Ai, que rios caudalosos,
e que montanhas tão altas!
Ai, que perdizes nos campos,
e que rubras madrugadas!
Ai, que rebanhos de negros,
e que formosas mulatas!
Ai, que chicotes tão duros,
e que capelas douradas!
Ai, que modos tão altivos,
e que decisões tão falsas...
Ai, que sonhos tão felizes...
que vidas tão desgraçadas!
E lá seguiu para a Corte
o dono do Serro Frio.
Com suas doze mucamas,
ficava a Chica em suspiros.
Grossas vagas tenebrosas
nascem no humano destino!
Uns, ali, nas rudes catas,
a apodrecerem nos rios,
- e outros, ao longe, com os lucros
dessas minas de martírio.
Ai, que o coração não mente!
Maldito o Conde, e maldito
esse ouro que faz escravos,
esse ouro que faz algemas,
que levanta densos muros
para as grades das cadeias,
que arma nas praças as forcas,
lavra as injustas sentenças,
arrasta pelos caminhos
vítimas que se esquartejam!
(Doze mucamas em volta
gemiam com surda pena.
Pranto e diamantes caídos
era tudo um mar de estrelas.)

Romance da inconfidência (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora