Hei de bordar-vos um lenço
em lembrança destas Minas;
ramo de saudade, imenso...
lágrimas bem pequeninas.
(Ai, se ouvísseis o que penso!)
Ai, se ouvísseis o que digo,
entre estas quatro paredes...
Mas o tempo é vosso amigo,
que não me ouvis nem me vedes.
(Minha dor é só comigo.)
E esta casa é grande e fria,
com toda a sua nobreza.
Ai, que outra coisa seria,
se preso estais, ver-me presa.
(Porém tudo é covardia.)
Sei que ireis por esses mares.
Sonharei vosso degredo,
sem sair destes lugares
por fraqueza, pejo, medo
(e imposições familiares.)
Hei de bordar tristemente
um lenço, com o que recordo...
A dor de vos ter ausente
muda-se na flor que bordo.
(Flor de angustiosa semente.)
Muito longe, em terra estranha,
se chorais por Vila Rica,
neste lenço de bretanha,
pensai no pranto que fica
(à sombra desta montanha!).
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Romance da inconfidência (Completo)
RomanceRomanceiro da Inconfidência é uma coletânea de poemas da escritora brasileira Cecília Meireles, publicada em 1953, que conta a História de Minas dos inícios da colonização no século XVII até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do sécul...