Romance XXXII ou das Pilatas

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“Vou-me a Caminho do Rio
minha boa camarada,
meter canoas de frete,
levantar moinhos d’água;
quando voltar, volto rico,
e esta gente desgraçada
que padece em terra de ouro,
por minhas mãos será salta.
“Vou-me a caminho do Rio
minha boa camarada:
não te aflijas por teu filho,
pois lhe mando assentar praça,
(Que o general me protege,
com muitas pessoas gradas!)
(Tudo isto ia levar volta..
Tudo isto volta levava...)
“Vou-me a caminho do Rio,
minha boa camarada...”
(Era assim que ele dizia...
- vai comentando a mulata.
E batia-lhe nas costas,
e dava uma gargalhada,
e saltava para a sela,
e entre adeuses se afestava.)
“Vou-me a caminho do Rio
minha boa camarada...
(O tempo passava. O filho
sem poder assentar praça...
Nos rios de ouro, perdidas
muitas lágrimas salgadas.
Nem canoas nem moinhos:
só prisões e mais desgraças...)
“Vou-me a caminho do Rio
minha boa camarada...
(Para mim, foi perseguido.
Para mim, por lá se acaba.
Não deve sonhar o pobre,
que o pobre não vale nada...
Se o sonho do pobre é crime,
quanto mais qualquer palavra!)

Romance da inconfidência (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora