Romance XXXVI ou das sentinelas

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De noite e de dia,
por todos os lados,
caminham dois homens,
que vão disfarçados,
pois são granadeiros
e - sendo soldados -
alguém lhes permite
bigodes rapados.
Ai, pobre do Alferes,
que gira inocente,
sonhando outro mundo,
amando outra gente...
Vai jogando sonhos:
- lúdica semente! -
brotam sentinelas,
miseravelmente...
Ao sair das portas,
diante dos sobrados,
em qualquer esquina,
sempre ali postados.
São dois? São duzentos?
São dois mil? Lavrados
em febre, parecem,
e multiplicados...
(Esses vultos que me seguem
Joaquim Silvério, quem são?
Devem ser as sentinelas
que amanhã me prenderão?
Que as pôs sobre os meus passos?
Quem comete essa traição?
Responde, Joaquim Silvério,
quem nos leva à perdição?)
Mas não há resposta,
- que o traidor prudente
desliza nas sombras,
não fala de frente...
A um deserto surdo
clama, inutilmente,
o animoso Alferes...
- Só ele - presente.

Romance da inconfidência (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora