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Alec Mazon...
  
    Ele se acalma as poucos enquanto eu o abraço. As vezes eu não sou bom com palavras  ,em momentos carregados de sentimentos.  Creio que as ações foram feitas para alcançar lugares em que as palavras ,jamais poderão chegar .
   Ele se afasta um pouco e olha para mim .
- ...P...Por que você se preocupa ?
   Dou um meio sorriso e tiro uma mão de sua cintura , a levanto até seu rosto, e limpo as lagrimas que acabaram de cair .
- Acho que é normal se importar e querer cuidar das pessoas a quais gostamos.
   Ele pega a minha mão que estava em seu rosto.
- Mas você nem me conhece.
   Dou  um meio sorriso.
- Mas me preocupo mesmo assim , e te garanto que tentarei te conhecer a cada dia. Eu não vou pedir para me falar ,o motivo de suas lágrimas,  não quero fazer você relembrar essas lembrança-  seus olhos ainda marejados estavam presos no meu - Mas ... - sorrio - Eu estou aqui.. para te confortar.
   Ele desvia o olhar e me abraça,  colocando o rosto em meu peito,  sinto sua mão apertar minha blusa nas costas , torno o abraço mais forte.
- Alec... Obrigado - ele sussurra. 
   Abaixo meu rosto e dou um beijo em seus cabelos.
- Não tem o porque me agradecer.
   Ele me solta e dá um passo para trás.  Seus olhos estão vermelhos.  Ele passa a mão no rosto e abre um pequeno sorriso.
- Você deve estar me achando patético nesse momento.
  Nego.
- Não tem nada de patético em chorar.  Nada de errado ou vergonhoso em sentir as coisas. Certo? - passo o dedo em seu rosto e ele sorri.
- Certo. Mas ... mesmo assim eu me sinto extremamente envergonhado da situação em que você me viu.
   Balanço a cabeça em negação. 
- Não se envergonhe disso... está tudo bem ,o que importa é que você está melhor agora .
   Ele fica um tempo em silêncio. 
- Bom... acho que posso te dizer o motivo do meu choro .
- Eu não quero que você ache que deve me contar algo que te deixa desconfortável. 
   Ele nega .
- Eu quero que você saiba as coisas que são importantes sobre mim. E as mais importantes , geralmente são o que nós esforçamos para esconder-  ele sorri-  Geralmente falhando miseravelmente. ... vamos... sentar no sofá?
- Hã pode ser .
- É mais ... confortável. 
   Assinto e seguimos até a sala.

Liel Gastesy...
   O Alec sentou em uma ponta e eu na outra . Eu não sei o que deu em mim, eu não devia ter chorado... Mas parece que quanto mais eu tento fugir , mais tento ignorar , mais coisas fúteis , como uma conversa simples me faz desabar ... acho que é um efeito colateral por aguentar tanta coisa por tanto tempo  , fingir que não dói as vezes pesa demais , apesar de não parecer...
   Respiro fundo.  Me arrumo e fico de frente para ele , dobro as pernas  , ele se vira ficando de frente para mim também.
- Sabe Alec... Eu sempre fui muito próximo dos meus pais e da minha irmã mais nova ... muito próximo... éramos o tipo de família comum, que briga mas sempre está junto. O problema é que eram muito conservadores . Desde que nasci eu fui tratado com muito carinho , como se fosse a pessoa mais incrível do mundo.  O problema , é que eu só era essa pessoa incrível, quando refletia tudo que os meus pais queriam... Mas esse tipo de coisa a gente nunca percebe...
   Ele me olha atentamente enquanto falo.
- E o que fez você notar isso ? - ele pergunta quase que em um sussuro. 
   Sorrio e dou de ombros. Sinto a garganta arder, sei que quando eu começar a falar sobre isso , inevitavelmente eu vou chorar. Pode parecer algo comum , mas doi... ainda dói , uma cicatriz por mais que quase se feche , sempre permanece ali ,te fazendo lembrar.
- Quando eu era pré-adolescente,por volta dos meus 12 ou 13 anos , eu comecei a notar que tinha algo errado comigo.  Eu e o Liam andávamos com alguns meninos da minha sala ,e todos já estavam com pequenos amores. E até aquele momento eu não havia vivido nenhum... ou quase.  No meio desses meninos tinha o Ryan... éramos próximos ,  costumávamos passar a tarde na biblioteca da escola , e...eu me apaixonei perdidamente por ele,talvez por ter sido meu primeiro amor ,tudo foi muito intenso para mim entende ?
   Olho para ele que ainda me encarava com atenção,seus olhos presos no meu. 
- No começo eu fiquei com medo ,neguei por longos meses,  eu não podia aceitar que eu estivesse apaixonado por outro menino ... isso era errado na minha cabeça, como se eu estivesse cometendo um pecado imperdoável. .. Mas o tempo foi passando,  e um dia eu aceitei meu próprio sentimento.  O Ryan , foi fazer um trabalho na minha casa ,e acabei por confessar tudo que eu sentia - sinto minha vista se embaçar - Bom... depois desse dia ele não olhou mais na minha cara , me evitou o máximo que conseguiu, mas o pior foi que minha mãe havia escutado... meus pais derrepente pararam de me abraçar todos os dias de manhã,  pararam com aqueles apelidos constrangedores e íntimos que tínhamos,  de uma hora para outra passaram a me excluir ,a não me olhar nos olhos ,a evitar estar no mesmo ambiente que eu , sem me dar o mínimo de explicação... Até que quase um ano depois, eu estava com meu primeiro namorado o Scott ... ele foi me levar em casa , e dei um beijo rápido nele de despedida , entrei em casa e dei de cara com o meu pai ... ele me arrastou até o meio da sala ,e me bateu , me chamando de viadinho , falando que não havia criado um filho para isso... minha mãe estava parada vendo,  e quando eu olhei nos olhos dela como se para pedir ajuda, notei que ela se sentia da mesma forma que meu pai ...
    Limpo uma lágrima que caiu.
- Minha irmã foi a única que me aceitou  , temos 2 anos de diferença. Nesse dia ela foi no meu quarto de noite ,quando eu estava deitado , machucado, chorando... com as palavras horríveis dos meus pais, O olhar de nojo da minha mãe... estampados em cada parte de mim... ela me abraçou... - limpo mais umas lágrimas-  E assim minha vida foi se seguindo até que eu fizesse 16 anos , quando os pais do Liam resolveram me levar para a casa deles quando eu apareci machucado depois de mais uma briga com meu pai... hoje eu só falo com a minha irmã,  meus pais me procuram quando querem algo e apenas isso... - sorrio para tentar disfarçar o choro.  - Muitas pessoas me deixaram por eu ser da forma que sou ... me fala ... é tão errado assim amar alguém?
    As lágrimas caem cada vez mais rápido, como se estivessem apostando uma corrida sem fim. O Alec vem até mim e me puxa , eu fico com a cabeça em seu peito e ele me aperta em seus braços .
- Não tem nada errado em amar alguém... você,  não tem nada errado...  o único erro que pude notar em suas palavras foram das pessoas que te deixaram.  Porque você... - ele levanta meu rosto me fazendo olhar para seus olhos , e aquela tempestade cor de mel , de alguma maneira me tranquiliza, me passa a segurança que o mundo tira. - Você... - ele se aproxima de mim e sinto seu nariz encostar no meu ... as lagrimas param de cair e meu coração se acelera - É a pessoa mais incrível que eu já vi ... você é... - ele pega na minha mão e a coloca em seu peito, sinto seu coração acelerado-  é o tipo de pessoa que fez com que eu me sinta vivo e feliz , que me inspira... é o tipo de pessoa ... que vale a pena ... - ele diz essa parte em um sussuro... Olho para seus lábios.
- Alec... Eu...
- Liel - ele fecha os olhos e vira um pouco o rosto-  Me desculpa. - ele me solta e se levanta bruscamente.  Me levanto.
  Quando ele ia se virar seguro sua blusa.
- Me desculpa por jogar meus problemas em você.
- Não é isso.. - ele diz sem olhar para mim.
- Alec.. . Eu não quero te perder... o porque você se afastou assim... - ele fica em silêncio- É por que eu sou gay? 
   Ele se vira.
- Não.
  Dou um passo para frente e fico próximo.
- Então... me diz o que está se passando com você. 
   Ele vem até mim e fica bem próximo.
- Você quer realmente saber?
- QUERO... Eu não sei o que está ... - ele segura minha cintura e me puxa para perto de seu corpo.
- A única coisa que está na minha cabeça nos últimos dias - ele aproxima o rosto do meu e fecha os olhos-  é você... e agora a única coisa que passa na minha cabeça é te abraçar,  te ajudar , poder... -ele abre os olhos-  cuidar de você.
   Sinto meu rosto queimar.  Ele olha para os meus lábios,  sinto sua respiração acelerada em meus rosto, meu coração está acelerado ao ponto de eu estar escutando seus batimentos ecoarem por todos os cantos . Olho para seus lábios, me aproximo sem pensar muito.  Fecho os olhos ... e sinto seus lábios encostarem no meu , antes de se selarem por completo...

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  " Porque eu amo infinitamente o finito , porque eu desejo impossivelmente o possível ,porque quero tudo , ou um pouco mais , se puder ser,  ou até se não puder ser ".
          - Fernando Pessoa.

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