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Liel Gastesy...
 
   Olho para o celular ao lado do computador.  Do lado oposto estava a fatia de bolo que o Alec tinha me trazido quando veio me desejar boa noite .
   Eu sei que eu deveria mandar mensagem para a Diana , e saber por fim o que ela quer.  Mas parece tão difícil pegar o celular e digitar, é como voltar para o passado , como se ao fizer  isso eu desse passagem para tudo voltar.
   Sinto a Tauriel em minhas pernas , estico a mão e pego a mesma , ela deita em meu colo , e começo a fazer carinho em suas orelhas .
- O que eu estou esperando? Cedo ou tarde eu vou ter que falar com ela ...
   Respiro fundo e estico a mão pegando o celular.  Procuro o nome dela na lista de contatos. Após rolar um pouco, acabo achando. 
  Fico alguns segundos encarando a tela do celular, esperando que meus dedos se movam, tentando decidir se ligo ou mando mensagem ou se simplesmente ignoro tudo. Dou um sorriso de lado. Como se isso fosse possível, ignorar o fato de ela estar de volta, muito provável que queira alguma coisa, ou talvez pelo simples prazer de bagunçar a minha vida.
  Dou um longo suspiro .
Mas eu já sou um adulto, não mais um adolescente qualquer jogado no tapete com o Liam imaginando aventuras futuras que nunca chegaram a acontecer. Porque a vida real, tende a ser muito diferente do que queríamos que fosse. E o Liel de agora, sabe que tem que resolver as coisas, que não basta apenas colocar suas roupas em uma mochila e fugir para algumas ruas de distância, e continuar a viver, fingindo que os problemas desapareceram só porque decidi virar as costas.
  Com isso em mente, me dou por vencido.  E aperto o botão para ligar , levo meu celular até os ouvidos e escuto os bipes da chamada. Engulo em seco, mais uma vez me questionando se essa é a decisão certa. Mas antes que eu possa voltar atrás, os bipes param e escuto sua voz. 

-Alô?
   Não consigo dizer nada de primeira.
-Tem alguém na linha ?
  Respiro fundo.
-Diana?
- Liel? Eu não sabia que era você. Trocou de número?
- troquei.
- Você não sabe o quanto fico feliz por você ter me ligado , eu ...
- Não quero ficar conversando com você, ainda mais depois de ter te visto na Dream... só...por mais que eu queira, não consigo ignorar o fato de você ter aparecido do nada . Por senso de obrigação e para manter minha mente tranquila, acho que devemos conversar.  Por isso eu te liguei . Se você estiver disposta eu vou te ouvir.
- Claro.  Eu posso ir te ver amanhã na Dream ou na sua casa, me passar o endereço.
- Não quero te ver na minha casa, muito menos na Dream é meu local de trabalho.
- Mas você é o dono não é?
- Sim, mas perdi um dia de trabalho e tenho que repor.
- Então onde podemos nos ver?
- Tem um café perto da estação, na frente da estação de Jesstick na verdade. Podemos nos ver .  10 horas.
- Certo. Vou te esperar la .
-Ok.
- Filho ... obrigado por estar disposto a se encontrar comigo.
- Como disse não estou fazendo isso por você. Até amanhã Diana.

   Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, desligo a chamada. Respiro fundo. A Tauriel sai do meu colo e a vejo andar até a cozinha.
- É isso Liel Gastesy... finalmente tomou coragem.
  Passo a mão em meu rosto. Olho a fatia de bolo ao meu lado. Por mais que pareça estar muito boa, nesse momento sinto que qualquer coisa que eu coma vai me fazer mal. Pego a mesma e levanto, ando até a cozinha e à coloco na geladeira.
   Acho que vou tomar um banho.  Vou até o quarto, deixo meu pijama em cima da cama. Tiro a roupa, e vou para o banheiro.
   Enquanto a água caia em meu corpo, meu rosto, meu cabelo escorrido grudado em meu pescoço... minha mente era preenchida por muitas memórias.
  Até então, eu não tinha pensado em nada relacionado ao meu passado, em muitos anos, não me veio nem sequer uma vez o dia que me assumi, o que isso causou, as ações que se seguiram. Meu estado quando me mudei para a casa do Liam. Por muito tempo na minha adolescência, essas memórias não saiam da minha cabeça, não importa o que eu fizesse, eu sei que minha situação e as coisas pela qual eu passei não é um caso isolado. Ainda tem muitas famílias que não aceitam seus filhos amarem alguém do mesmo sexo, assim como sei que nesse momento pode ter alguém passando pela mesma situação, ou quem sabe, chorando baixo no quarto, por mais que saiba que não tem nada de errado com ele, de tanto ouvir o contrário, passa a questionar, talvez esteja se odiando nesse momento, por não conseguir ser o que as pessoas esperavam que ele fosse...
  Incrível, como um simples fato muda todo os seus feitos, como o simples fato de você ser diferente, faz com que os olhares de amor passam a ser de acusação, de julgamento, que podem e geralmente machucam mais do que facas ou lâminas atravessadas em seu corpo. É uma tortura, que degrada pouco a pouco, cada parte sua.
Passo a mão na franja a tirando do rosto. Sinto meus olhos arderem, acho que alguma lágrima chegou a cair, mas não posso vê-la, já que se mistura perfeitamente com as gotas que saem do chuveiro...
     Depois de sair coloco minha roupa e seco meus cabelos no secador, deixo o mesmo solto, e coloco o óculos. Ando até a cozinha. Coloco um pouco de água no micro ondas, para fazer um chá de camomila.
  Escuto alguém bater na minha porta.  Mas está tarde... só pode ser o Alec. Vou até a mesma e abro .
   Ele me encara e sorri .
-Estava dormindo?
Nego.
- Acabei de sair do banho, estou fazendo chá. Aconteceu alguma coisa?
- Não... - ele passa a mão nos cabelos - Eu estava escrevendo, mas aí me veio você na cabeça, e tive o impulso de ver como você está.
  Sorrio. Seguro sua mão e o puxo para dentro. Abro meus braços e envolvo em sua cintura. Ele me abraça de volta.
- Fiz bem em vir ?
  O micro ondas apita.
  Assinto. Olho para cima , e encaro seus olhos castanhos.
- É pedir muito para você ficar comigo está noite?
  Ele sorri.
- Se for te deixar bem .
  Sorrio e saio de seus braços, tranco a porta.
   Ele se aproxima.
- Quer conversar?
  Assinto.  E sentamos no sofá.  Conto para ele que decidi encontrar a Diana.
- Se quiser eu posso te deixar lá. 
Nego.
- Eu quero ir sozinho, preciso fazer isso sozinho. Vou ver o que ela realmente quer e resolver antes que atrapalhe tudo.
  Ele me puxa e me dá um beijo rápido.
- Como quiser, mas me avisa assim que sair de lá.  Eu vou ficar preocupado. Sei o quanto isso mexe com você.
   Dou um meio sorriso.
- Arranjei um namorado muito preocupado.
- Namorado?
- É. O que eu sou para você?
  Ele me empurra e fica em cima de mim no sofá. Encaro seus olhos e me perco neles, como acontece todas as vezes.
- Então?
  Ele passa a mão na lateral de meu rosto.
- Você é tudo que eu precisava sem saber, é minha realidade mais perfeita, é o motivo do meu sorriso, é a pessoa que eu quero ao meu lado, e que eu vou fazer o possível e impossível para ver sorrir. Então... - Ele ri - Sim, acho que você é meu namorado, um pouco mais que isso tal... - envolvo meus braços em seu pescoço e o puxo selando nossos lábios. 
   Encosto nossos narizes e sem abrir os olhos, sorrio.
- De onde você tirou isso ?
- De cada detalhe seu .
  Ele me beija de novo . E meu corpo se aquece, o mundo se torna abstrato e todas minhas dores antigas, não passam de pequenos riscos irregulares... acho que essa é a sensação de quando alguém é capaz de te fazer feliz, simplesmente por estar aqui.

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"A vida é feita de capítulos, não é porque um foi ruim que você terá que desistir da história inteira".
                          - Clarice Lispector.

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