Uma cena inedita de crime 2

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#2MeseDepois

A primeira vitima.

Você já ouviu essa? Duas jovens entram em um quarto. O quarto é em um apartamento. O apartamento é no terceiro andar. No quarto está o corpo morto de um homem adulto. Como elas levaram o corpo até o andar térreo sem serem vistas?

Primeiro, elas arranjaram materiais.

- De quantos lençóis precisamos?

- Quantos ele tem? - Annie saiu do banheiro e voltou por tando a informação de que havia cinco lençóis no armário da lavanderia.

Mordi meu lábio. Precisávamos de vários, mas eu temia que a família dele desconfiasse se a única roupa de cama que ele tivesse fosse a que estava na cama. Para o macho médio, não haveria nada de peculiar nisso - mas este homem era meticuloso. A prateleira de livros era organizada alfabeticamente, por autor.

O banheiro estava abastecido com diversos produtos de limpeza, ele até comprava a mesma marca de desinfetante que eu. E a cozinha brilhava. Annie parecia fora do lugar aqui - uma mancha em uma existência pura.

- Traga três.

Segundo, elas limpam o sangue.

Absorvi o sangue com uma toalha e torci na pia. Repeti o movimento até o chão estar seco. Annie ficou ao redor, apoiando-se em um pé, depois no outro. Ignorei a impaciência dela. Leva-se muito mais tempo para descartar um corpo do que descartar uma alma, especialmente se você não quer deixar para trás nenhuma evidência criminosa. Mas meus olhos ficavam desviando para o cadáver amontoado, encostado contra a parede. Eu não conseguiria fazer um trabalho completo até que o corpo dele estivesse em outro lugar.

Terceiro, elas o transformam em uma múmia.

Esticamos os lençóis no chão, que agora estava seco, e ela o rolou até eles. Eu não queria tocá-lo. Conseguia enxergar o torso bem-definido debaixo da camiseta. Ele tinha a aparência de um homem que sobreviveria a algumas feridas, mas Aquiles e César também tinham. Era uma pena pensar que a morte reduziria seus ombros largos e abdômen côncavo, até que fossem nada além de ossos. Quando cheguei, verifiquei seu pulso três vezes, e mais três. Ele poderia estar dormindo, parecia tão tranquilo. A cabeça curvada, as costas encostadas na parede, as pernas tortas.

Annie arfou e bufou enquanto o empurrava para cima dos lençóis. Secou o suor da testa e deixou uma mancha de sangue. Dobrou uma parte do lençol sobre o corpo, escondendo-o. Então, ajudei a enrolá-lo e fechá-lo firmemente dentro dos lençóis. Paramos e olhamos para ele:

- E agora? - ela perguntou.

Quarto, elas movem o corpo.

Poderíamos ter usado as escadas, mas nos imaginei carregando o que eraclaramente um corpo grosseiramente enrolado e encontrando alguém nocaminho. Inventei algumas desculpas...

- Estamos pregando uma peça no meu irmão, ele dorme muito profundamente, estamos movendo seu corpo adormecido para outro lugar...

- Não, não, não é um homem de verdade, quem você acha que somos? É um manequim.

- Não, ma , é só um saco de batatas.

Imaginei os olhos das minhas testemunhas inventadas se arregalando demedo, enquanto ele ou ela fugiam. Não, as escadas não eram opção.

- Precisamos pegar o elevador.

Annie abriu a boca para fazer uma pergunta, depois balançou a cabeça e fechou-a. Ela já tinha completado sua parte, o resto era minha responsabilidade. Levantamos o corpo. Eu deveria ter usado meus joelhos, não minhas costas. Senti algo estalar e deixei cair meu lado do corpo com um baque. Minha irmã virou os olhos. Peguei os pés novamente e o carregamos até a porta.

Annie apressou-se até o elevador, pressionou o botão, correu de volta até nós e levantou os ombros dele mais uma vez. Espiei para fora do apartamento e confirmei que o andar ainda estava vazio. Senti a tentação de rezar, implorar que nenhuma porta se abrisse enquanto nos movíamos da porta até o elevador, mas tenho quase certeza que esses são exatamente os tipos de preces que Ele não atende. Escolhi, em vez disso, confiar na sorte e na pressa. Arrastamos os pés silenciosamente pelo chão de pedra. O elevador apitou no momento certo e abriu a boca para nós. Ficamos para umlado enquanto eu confirmava que o elevador estava vazio, e o colocamos para dentro, amontoando-o em um canto, fora de visão imediata.

- Por favor, segure o elevador! - gritou uma voz. Do canto do meu olho,

vi Annie prestes a apertar o botão; aquele que impede o elevador de fechar as portas. Bati na mão dela e esmurrei o botão térreo repetidamente. As portas do elevador fecharam e vislumbrei o rosto desapontado de uma jovem mãe. Senti-me um pouco culpada, ela tinha um bebê em um braço e sacolas no outro; mas não me senti culpada a ponto de arriscar ser presa.

Além disso, boa coisa ela não estava fazendo, saindo de casa naquele horário, com uma criança nos braços.

- O que tem de errado com você? - rosnei para Annie, mesmo sabendo que seu movimento havia sido instintivo; possivelmente o mesmo comportamento instintivo que a fazia direcionar facas para a carne.

- Foi mal - sua única resposta. Engoli as palavras que ameaçavam transbordar da minha boca.

Este não era o momento. No andar térreo, deixei Annie vigiando o corpo e segurando o elevador. Se alguém andasse em sua direção, ela devia fechar as portas e ir até o último andar. Se alguém tentasse chamar o elevador de outro andar, ela devia segurar as portas. Corri para pegar meu carro e dirigi até os fundos do prédio, onde carregamos o corpo para fora do elevador. Meu coração só parou de martelar meu peito quando fechamos o porta-malas.

Quinto, elas usam a água sanitária.

Amor e obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora