The Lake

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O relógio ainda marcava 6h quando Jade ouviu um barulho que dispersou seu sono. Ao abrir os olhos, encontrou nada mais do que o silêncio comum que se espera para um quarto àquele horário. Ela bufou. Estava tendo um sonho realmente bom, onde Anne Hathaway lhe entregava uma garrafa de cerveja com um olhar convidativo.

Ela tinha que acordar antes de um possível beijo?

Ao virar-se novamente para tentar terminar o que havia começado, ouviu outro barulho. Dessa vez, mais claro por estar acordada, e era como batidas na porta.

Batidas na porta?

A decoradora afastou os cobertores e levantou-se contra sua própria vontade até a porta de madeira ao fundo do quarto. Ao abri-la, se deparou com uma loira incrivelmente acordada e disposta, fazendo um contraste perfeito com o seu cabelo desgrenhado e rosto inchado.

— Bom dia, Thirlwall! — o sorriso de Perrie aumentou assim que seu olhar encontrou o de Jade.

— Bom dia — respondeu com a voz rouca. — O que faz aqui às 6?

— Oh, desculpa se te acordei. Eu estou aqui para lhe fazer um convite.

— Às 6? — Jade podia sentir seus olhos pesando.

— Sim! Se lembra do lago que vimos no mapa de Mike? — a outra confirmou com a cabeça. — Quero visitar o local e gostaria que viesse comigo.

— Às 6? — repetiu encostando no batente da porta. Perrie sabia que era uma pergunta retórica e apenas sorriu.

— Certo — a decoradora suspirou e olhou ao redor. — Deixe-me apenas colocar uma roupa.

Após fazer sua higiene matinal, Jade colocou roupas leves e desceu as escadas até a cozinha para desfrutar de um café reforçado. Perrie logo a puxou pelas mãos e saíram juntas pela casa:

— Bom, Mike disse que o lago fica 6 km daqui, acho que podemos ir à pé, não é?

Antes mesmo que Thirlwall pudesse responder algo, ou melhor, protestar, Edwards lhe lançou uma gargalhada:

— Estou brincando! — a fotógrafa gritou. — Você deveria ter visto a sua cara.

Jade semicerrou os olhos:

— Quantos comprimidos de anfetamina você tomou essa manhã?

A loira riu ainda mais, confirmando a suspeita de Jade: Perrie era claramente dependente de drogas ilícitas ou louca. Jade apostaria na segunda opção, mas não descartaria a primeira. Afinal, quem consegue ser feliz às 6 horas da manhã?

Ela balançou a cabeça seguindo os passos da nova amiga e assim caminharam por cerca de vinte minutos até o lago. O sono de Jade parecia ter desaparecido ao passo que sua conversa com a fotógrafa se estendia, bastou alguns minutos em contato com a natureza para que sua disposição se igualasse à de Perrie.

A vista era realmente linda, como previu Perrie. O lago não parecia ser muito grande e sua extensão se perdia nos conjuntos de árvores ao longo do horizonte. Já o pequeno cais de madeira começava à beira da água e cortava uma parte do lago com suas grossas estacas conectadas por cordas de sisal. Amarrados às primeiras estacas se encontravam dois simples barcos virados e uma placa ao lado pedia para que os devolvessem após o uso.

Elas empurraram um dos barcos pelo solo arenoso com pedras e galhos até a água, onde sentaram-se nas extremidades.

— Desde quando você fotografa? — Jade indagou tirando da mochila uma embalagem de Goldfish sabor cheddar que roubaram da cozinha. Ela amava o famoso biscoito de peixinho.

Perrie olhou ao redor e pareceu pensar:

— Gosto de dizer que fotografo desde os 7 anos, quando pegava a Polaroid do meu pai escondido para tirar fotos. Ele me deu uma câmera digital compacta na época, mas mesmo assim eu continuava usando escondido, simplesmente não gostava da ideia de ter que esperar para ter as fotos em mãos.

Perrie pôs os olhos no conjunto de árvores que acompanhavam o lago. Elas já estavam em uma distância considerável da margem e decidiram parar de remar.

— Minha mãe era muito ocupada com o trabalho, então eu passava muito tempo com meu pai antes e depois do divórcio — ela continuou. — Ele tem uma vinícola ao norte da Califórnia, então todo final de semana eu estava lá tirando fotos das plantações de uva e da incrível vista do rancho.

Ela buscou sua câmera da bolsa e pôde sentir a diferença entre a que imaginava e a que segurava.

— Eu busquei seu nome no Google — Jade confessou envergonhada fitando as próprias mãos. — Vi algumas fotos e, uau, você realmente nasceu pra isso. 

Perrie sorriu. Um sorriso confuso, porém verdadeiro. Ela não sabia exatamente como lidar com o fato de uma desconhecida ter se interessado sobre sua vida ao ponto de jogar seu nome na maior plataforma de pesquisa da internet. Mas, de alguma forma, ela gostou disso.

Jade ainda esboçava um sorriso desconcertado no rosto quando a loira ergueu um dos dedos. — Não se mexa — ela pediu

— Perrie, o que...

O sol atrás da decoradora aflorava os sentidos da loira. Ela posicionou sua câmera focando na mulher em sua frente, fotometrou e se deslocou levemente para o lado para que parte do sol aparecesse. Os raios solares formavam o efeito perfeito e Jade poderia ser uma ótima modelo.

— E você? — perguntou analisando a foto e posicionando a câmera novamente.

— Eu não sei ao certo. Meus pais sempre me deixaram livre para decidir meu destino, mas acho que nunca soube usar isso ao meu favor. Eu fui aceita na Escola de Direito mas percebi que aquilo não era pra mim. Eu caí de paraquedas nesse ramo, apenas me encaixei.

— Eu acho que você soube usar isso ao seu favor, sim. — fez outro clique. — Não procurei seu nome no Google, mas pelo pouco que vi do portfólio de decoração da We Do, eu contrataria sem dúvidas.

— Não é uma bela maneira de conhecer meu trabalho, Edwards — sorriu antes de levar outro biscoito à boca. — Nesse momento estou mais na parte administrativa.

Perrie encostou o braço na borda do barco:

— Uau, que chato.

— Um pouco, existem dias mais movimentados. Mas talvez possa conhecer aqui — piscou.

— Bem, e o que acha da vista? É um bom lugar? — a loira mudou de assunto.

— Parece perfeito! As fotos aqui podem ficar lindas nas mãos da pessoa certa.

— E da modelo certa — Perrie respondeu sorrindo enquanto passava as fotos na câmera. Ela parecia tão concentrada, tão satisfeita e apaixonada pela sua profissão. Era nítido que não eram apenas fotos para a loira, parecia ser maior que aquilo. É raro um profissional ser tão apaixonado pelo que faz ao ponto de passar a sensação adiante; Jade nunca havia tocado em uma câmera profissional antes, mas observar Perrie tão entregue despertou em si, ao menos que por uma fração de segundo, a vontade de ser fotógrafa.

Sem jeito diante do sutil elogio, Jade espelhou o sorriso da nova amiga. Ela se repreendeu mentalmente por chamá-la de louca e obcecada semanas antes, afinal, Perrie se mostrava uma ótima pessoa e naquele momento a teoria da fotógrafa tinha grandes chances de estar correta, caso contrário não estariam divindo um pequeno barco em Ohio.
 

— Gosto da sua companhia — admitiu.

Pela primeira vez em semanas, a fotógrafa sorriu genuinamente. Era um sorriso diferente, sem qualquer peso em relação ao seu trabalho ou o ex-noivo. Pela primeira vez em semanas Perrie estava se sentindo leve o suficiente para aproveitar a companhia de outra pessoa sem se sentir sufocada, e saber que era recíproco lhe deixou ainda mais feliz.

Aquela manhã passou rápido, assim como a tarde que não viram chegar e ir embora. Só perceberam o quão tarde estava quando precisaram ligar a lanterna do celular.

E elas não se importaram.

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