Point Of View

478 53 37
                                    

"Eu tenho buscado esse sentimento, buscado a minha vida toda" — Holiday.


Sentada de frente para um dos maiores rio cortante de Pittsburgh, Jade pensava na história que acabara descobrindo por Brigt e perguntava se deveria contar para sua mãe. Norma era mente aberta e nunca tivera problemas em aceitar a sexualidade de sua filha, mas Thirlwall pensava ser uma história muito mais delicada para se contar.

O vento que movia a água do rio trouxe o perfume doce, e Jade não precisou virar o rosto para saber que ela estava ali. Perrie trazia consigo uma rosquinha em cada mão e um sorriso satisfeito no rosto.

Foi impossível não retribuir.

Por mais que estivesse adorando o estado da Pensilvânia, onde passou as últimas quatro semanas, Perrie tinha compromisso inadiável no dia seguinte, e por isso decidiram voltar para a Califórnia no mesmo dia.

Segundas-feiras eram agitadas para fotógrafos.

— No que está pensando?

— Como é? — livrou-se dos próprios pensamentos.

— Você está séria demais para alguém prestes a devorar uma rosquinha com cobertura de morango e granulados coloridos. É o seu favorito!

Jade encarou o doce antes de responder:

— Acha que devo contar para minha mãe?

— Ela iria querer saber?

Thirlwall uniu as sobrancelhas, deixando os ombros caírem logo em seguida. Ela iria querer saber, sim.

Jade e Norma eram como melhores amigas. Não foi tão difícil contar sobre seu primeiro affair ou apresentar sua primeira namorada. Thirlwall cresceu ouvindo histórias da infância de sua mãe no lugar dos contos de fadas antes de dormir; eram muito mais interessantes.

Ela sabia que, mesmo parecendo algo bobo, Norma faria questão de saber mais uma história sobre sua familia. Mas, apesar de bobo, Jade não tinha ideia de como contaria que sua avó era, na verdade, apaixonada por outra mulher e que havia casado com seu avô por mera obrigação, e não por amor, como sempre havia contado. Agora entendia Brigt; ela não queria destruir a memória que sua mãe tinha do próprio pai.

— Sei que é um assunto íntimo demais, mas se sentir insegura em fazer isso sozinha, saiba que estou aqui para te acompanhar.

Ao concluir, Edwards mordiscou um pedaço de sua rosquinha, como se não soubesse o impacto que aquela frase havia tido na mente da decoradora. Perrie desfrutava seu doce com a mesma serenidade que apreciava a vista em sua frente.

Em tão pouco tempo, a presença da loira havia se tornado algo tão rotineiro em sua vida, que sabia que sentiria falta. Era inegável que, a essa altura, já nutria algo especial pela fotógrafa e nem ao menos fazia questão de esconder. Mas Jade sabia que Perrie tinha uma vida fora dali; fora do mundo particular que construíram naquelas quatro semanas. Do outro lado do muro, outra realidade esperava por Edwards e as coisas obviamente não seriam mais as mesmas.

Ela observou a loira contemplar a incrível vista do Parque Point State, cortado por um dos principais rios de Pittsburgh. A fraca brisa guiava os longos fios dourados pelo ar e deixava a imagem da mulher ainda mais angelical. De repente, seu coração apertou um pouquinho dentro do peito, com receio do depois. Ela queria perguntar o que viria a seguir. Afinal, continuariam com seja lá o que estava acontecendo entre elas, ou seguiriam vossas vidas de onde havia parado?

— Perrie — chamou.

A mulher, que se dividia entre saborear sua rosquinha e puxar a coleira de Hatchi para perto, virou-se lentamente para prestar a devida atenção à decoradora.

Mas toda a sua coragem de segundos atrás se dissipou ao cruzar os olhos com o mar azul, de tom turquesa naquela tarde. Não queria, de maneira nenhuma, estragar aquele momento.

— Você tem cobertura de rosquinha em seu rosto — aproximou-se para limpar e recompôs logo em seguida.

— Oh, é verdade — passou a mão no mesmo lugar em um hábito bobo. — Achei que fosse apenas uma desculpa para me beijar.

— Eu não quero te beijar — foi rápida em dizer, recebendo um olhar espantoso. — Sua boca está com gosto de rosquinha de banana e hortelã, isso deve ser muito ruim.

A loira tomou ar com a boca, fingindo estar ofendida.

— Certo, isso foi muito ofensivo! — encarou o cachorro que agora latia sem motivo algum. — Está vendo, Hatchi? Ela está dizendo que a nossa rosquinha é ruim!

— A opinião de alguém que tira o queijo da pizza deve ser colocada em dúvida...

— Eu sabia que você iria fazer isso! — semi-cerrou os olhos. — Usar o queijo contra mim!

Jade riu.

— O queijo tira o gosto da pizza! — explicou.

— Deus! Tem certeza que a falta do senso de olfato não afeta no paladar?

— Jade! — repreendeu com a mão em seu próprio peito. — Certo, você não sabe o que diz. A primeira coisa que farei na Califórnia, será te levar ao Nouveau.

— O que é isso?

— Um restaurante a três quadras da minha casa. Eu vou provar que não precisamos de queijo para deixar uma pizza gostosa — piscou.

Tudo bem. Talvez aquilo pudesse ter despertado uma certa luz dentro de Thirlwall, uma pequena esperança. E ela não conseguiu esconder um sorriso em seu rosto.

E nem controlar sua mão, já que colocou uma mecha loira atrás da orelha da mulher e fez uma pequena carícia na curva de sua bochecha.

— Tudo bem, mas precisamos ir agora — murmurou.

— Não, Jade — respondeu no mesmo tom. Ela ainda tinha os olhos fechados por conta da carícia. — Não precisamos.

— Teremos que pagar uma multa alta pelo atraso do carro.

— Eu pago.

— E comprar outras passagens para Califórnia, já que o nosso voo é daqui a uma hora e você tem compromisso importante amanhã.

— Eu freto um jatinho particular, se isso significar ficar aqui, exatamente como estamos, por só mais um pouquinho.

Jade balançou a cabeça. Ela sabia que Perrie poderia fazer isso, se quisesse.

— Sabe... Existe um conceito na fotografia, que você deveria aprender. Se chama "ponto de vista".

— Perrie...

— Você acha que essa vista é a mais linda de todas, mas alguém que está no estádio, do outro lado do rio, tem uma visão completa do parque. A vista pode ser ainda mais interessante, se observada daquele ponto.

— E o que você quer dizer, é...?

— Que você deveria olhar de outro ponto de vista agora mesmo — afastou os cabelos castanhos do pescoço da mulher, deixando um beijo molhado em seu ponto de pulso. Ao ouvir um suspiro tímido, subiu os lábios até a orelha e continuou: — Em vez de pensar em multas e passagens, apenas aproveite uma bela paisagem em Pittsburgh, enquanto eu distribuo uns beijos em seu pescoço.

Jade sorriu, totalmente encantada.

— Hm. A vista parece ser mais interessante, se observada por este ponto.

Perrie devolveu o sorriso, agora encarando os imensos olhos de cor avelã:

— Então fique só aqui e esqueça todo o resto.
 


  
—·᳝∴̣࣭🌻·᳝∴̣࣭—


░░۟⃟📌⸻ Que saudadeeeee! Desculpem a demora, eu enjoei do rumo que sempre tive em mente pra história e acabei ficando com bloqueio criativo. Sou geminiana galera, ja é uma vitória não ter desistido. Mas enfim, votem e comentem

WineOnde histórias criam vida. Descubra agora