CLOWN - História De Terror - Vol Único (CONCLUÍDO)

Órfãos

Suspirei. A chuva lá fora, conseguia ainda mais deixar o lugar macabro e escuro. Olhei para Renan, que tinha a expressão apreensiva. As luzes começaram a piscar.

Renan levantou, indo para a cozinha. Fico o encarando ainda por um tempo. Só o que consigo ver, é sua silhueta passar de um lado para o outro. Virei meu rosto para Rebecca, que está com uma enorme interrogação no rosto. Eu ouvia passos no cômodo seguinte, deduzindo que seriam dele. Alguns minutos depois, Renan voltou, segurando uma lamparina, já acessa e sentou novamente na cadeira de antes.

Ele fez um sinal para ficarmos calma e silêncio. Tudo que eu conseguia ouvir, era a chuva lá fora e sua respiração ofegante. Passado alguns segundos, ele olha de novo para mim e a Rebecca. Suspira pela a segunda vez na vida, vi uma expressão de tristeza em seu rosto e não de deboche.

— Desculpem, não a costuma-se ter luz por aqui com frequência. Mas creio que vocês não estão acostumadas, então... Achei melhor deixar um pouco. — Ele suspirou, e deixou a lamparina erguida, iluminando apenas os nossos rostos.

— Quando foi que deixou de pagar a conta de luz? — Perguntei sem pensar. Rebecca se voltou para mim, e respondeu:

— Arya...! — Ela me encarou grunhido meu nome entre os dentes, estapeando-me na coxa pela segunda vez desde que eu entrei nessa casa com ela.

°Rebecca

Encarei Arya, sortuna. Por que ela estava agindo feito uma menina de dois anos? Olhei ao redor envergonhada com as atitudes da mesma. Com a meia luz da lamparina, não conseguia ver muita coisa. Mas percebi que Renan não tinha levado a sério o que Arya dissera a pouco. Ele apenas deu uns sorrisinhos, e disse:

— Sua amiga é engraçada. Tem muito essenso de humor.

— Eh... e como.

— Mas respondendo sua pergunta. — Ele olhou para Arya. — Eu nunca deixei de pagar minha conta de energia, e como eu já tinha dito, não acostuma-se ter luz por aqui com frequência.

— Por que? — Retrucou.

— Digamos que a boa parte da energia elétrica da cidade nunca chega completamente até aqui, na floresta onde eu moro.

— Então por que veio morar aqui? — Ela disse com porta expressão contrariada e tudo ficou novamente em silêncio. Apenas o barulho da chuva que se ouvia e dos trovões.

— Tá... Mas pra isso vamos ter que voltar de novamente no tempo quando minha mãe já está dando a luz à minha irmã, Agatha. Nós nos escondemos no porão... Era o nosso único meio de nos esconder dos militares. Eu não lembro de muita coisa depois disso porém, sei que foi meu pai quem fez o parto, mas infelizmente minha mãe não conseguiu resistir... Passando-se alguns minutos ele entrega o bebê recém nascido para mim, o mesmo colocando no meu colo, ele me disse que era menina e deu-lhe o nome de Agatha. Logo os militares invadiram a casa, e me lembro claramente do que ele me dissera depois... — Quando Renan dissera aquilo ele não consegue e deixa uma lágrima cair lentamente. — Ele pediu que eu seja-se forte e que cuidasse da minha irmã como filha, que não deixasse nada de mal acontecer com ela e que eu fosse procurar um lugar mais rápido para se esconder e não confiar em ninguém. Foi então que eu corri, corri o mais rápido que pude com Agatha chorando nos meus braços. Não sabia para onde estava indo ou levando o rumo, mas sabia que não podia parar de correr por nada. Já cansado de correr sem ter um lugar para ficar, me escondi embaixo da ponte, enrolei minha irmã do frio, e vi o sol ir embora.

Pausa. Ele secou os olhos com a mão, respirou fundo, e continua:

— Naquele mesmo dia... Eu saberia que nunca mais veria meus pais outra vez, e compreendi o que meu pai queria dizer com aquilo. — Ele abaixou um pouco a lamparina, talvez cansado de segurar. — Que eu teria que ser um homem.

— Posso? — Me ofereço de segurar o iluminador, mas ele nega.

— Tudo bem, eu posso. — Ele ergueu o braço novamente para cima. — Depois de algumas horas eu percebi que havia adormecido e só acordei porquê ouvi os estrondos dos carros de combate. A guerra só havia apenas começado...