Primo Trevor

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    O motivo do descontentamento de Elise na festa se deve ao fato de ter várias de nossas primas ao redor de Tyler, ele sabe que Elise odeia isso, só que o faz mesmo assim, ela pensa que o tem sob controle, pobre irmã, ele a controla em um nível subconsciente, a coitada não passa de uma cadela que sempre está no cio.

    Agora eu adoraria simplesmente sair daqui e me deitar na cama para descansar, mas hoje é sexta-feira e só por isso ainda me esforço em falsamente confraternizar com essas pessoas. E vejam só quem veio ao meu encontro, meu pequeno primo Louis, com 5 anos, o pobrezinho tem incontinência urinária, as vezes ele simplesmente urina nas calças, deve ser motivo de piada entre os amiguinhos. Por que ele veio até mim?

    – Pimo Tévor, me ajuda ir no banheilo?

    – Claro Louis, vem com o primo! – Banheiro? Olhando daqui, parece que já fez nas calças.

    O banheiro estava ocupado, um dos meus ilustres tios deveria estar vomitando, ou simplesmente dormindo no chão gelado, e se este for o caso até sei de qual deles se trata. Não tive escolha, levei o mijão para o banheiro em meu quarto, logo quando entramos notei um desapontamento de Louis, provavelmente ele esperava um quarto todo enfeitado, com posters de bandas, heróis, ou coisas do tipo, infelizmente para ele não somos assim. Porém o quarto não é de se espantar, é um quarto normal; tem o nosso beliche, um guarda-roupa, uma grande escrivaninha que usamos nos estudos, uma TV, duas cadeiras, um computador, e uma pequena estante onde guardamos alguns de nossos pertences.

    O banheiro é mais normal ainda, a fragrância da espuma de barbear prevalece no ambiente, parece que impregnou na porcelana, antes da festa, Tyler e eu fizemos a barba – ou a junção de bigode e fios aleatórios que crescem pelo nossos rostos –, eu odeio a sensação do rosto áspero por causa da inevitável puberdade, Tyler vai mais além e se depila por inteiro, ele é o mais ativo sexualmente, então gosta de estar sempre preparado.

    Louis ainda tinha um pouco de xixi guardado, depois de dar a descarga ele olha em meus olhos e pergunta:

    – E agola pimo? Minha calça e minha cueca ficô tudo molada.

    – Eu que lhe pergunto, você quem está acostumado a passar por essas situações. Não tem nenhuma roupa reserva?

    – A mamãe sempi tem na bôça dela.

    – Ótimo, vai lá buscar com ela, e traga aqui para se trocar!

    – Tá já volto.

    Por que ele não pediu direto a mãe que o levasse ao banheiro? Talvez ele tenha tentado, muitos dos que estão lá fora são displicentes, negligentes, até mesmo com os próprios filhos, depois que crescem e se distanciam, os pais querem colocar a culpa no mundo lá fora, nas amizades erradas, nas faltas de oportunidades etc. – O que também é verdade. – Se Louis não tratar esse problema enquanto ainda dá tempo de preservar sua dignidade, provavelmente o coitado pode desenvolver problemas na personalidade, crescer desse jeito e até chegar ao ponto de se suicidar, as pessoas são crueis e não perderiam tempo em praticar bullying com ele,... bom, não que seja uma grande coisa, muitas pessoas se suicidam durante o ano todo.

    – Póntu pimo!

    – Se troca aí, vou fechar a porta.

    Observando Louis de perto ele me lembra muito Ryan, apesar de ser mais novo é claro. Sim, o formato do nariz, o tom castanho escuro do cabelo, até mesmo os dentes perfeitamente alinhados, seria Ryan um parente distante de Louis? Haha, certamente que não! A única e real diferença entre Louis e Ryan é o olhar, Louis me olha com respeito, como uma pessoa de confiança, aliás se ele não confiasse em mim não teria me pedido ajuda certo? Os olhos serenos, humildes e inocentes, oposto de Ryan, aquele infame me enojava, me provocava, me olhava como se eu fosse uma criança indefesa, como um ninguém, testava os limites de minha paciência, mesmo eu sendo superior a ele.

    – Pimo...

    – O que foi Louis?

    – Não quelo voltar pá festa, quelo ficar aqui!

    – Sabe de uma coisa?

    Ele me encara.

    – Também não quero voltar, ficaremos então! Vou ligar o computador! Sabe mexer?

    – Não pimo.

    – Vou te ensinar.

    – Sélo? Bigado pimo, você é o melor!!!

    Ah Ryan, se você fosse metade do que essa criança é, talvez eu não o tivesse matado. Mas hoje sei que carma existe, maldita hora em que Tyler apareceu, se ele não participasse da sua morte provavelmente não teria se tornado esse serial killer desenfreado, e pior, não teria me arrastado também, estamos juntos nessa, e tudo isso por minha causa, ele só precisava de um motivo para começar a matar, e eu lhe dei.

    Entretanto, confesso que gostei, a sua morte foi a única dentre as várias que me trouxe prazer, o sangue quente espirrando no meu rosto, suas mãos desesperadas tentando me impedir, seu rosto se desfigurando aos poucos e seu corpo tendo espasmos depois de uns bons golpes de pedra na cabeça.

    Enquanto ensino Louis a mexer no computador brinco com seus cabelos, minha mão é quase tão grande a ponto de segurar sua linda cabeça por completo, começo a tremer de adrenalina só ao me lembrar daquele dia.

    – Pimo... quando o oto pimo Tyler vem mexê no putador com a gente?

    – Acho difícil o primo Tyler vir para cá, ele está ocupado com nossas primas lá fora, não teria tempo para nós dois.

    – Mas ele teve tempo pla mim!

    – É mesmo? Quando foi isso? – Coitado, está carente de atenção.

    – Quando eu fiz pipi na calça, ele falô que éla pla eu í falá com você.

    – Ah então ele mandou você me procurar... – Caralho Tyler!!!! Então era isso, você já escolheu..., mas logo o Louis!?

    – Ele disse pla apoveitá bem a festa com você pimo.

    – Sim, nós vamos. Vou te ensinar a desenhar no computador, vamos criar uns desenhos bem legais, quero ver se você é bom! – Ah Louis, sinto muito...

Os Gêmeos: Na Ilha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora