Departamento da Polícia de Philadelphia

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Novamente ele me assombrava, seus olhos cintilantes não olhavam para mais nada, a não ser eu. O cenário mudava a cada sonho, porém os acontecimentos eram os mesmos de sempre... bom, quase sempre. Desta vez eu me encontrava sentado no meio fio de uma avenida vazia, prédios enormes e velhos me cercavam, amontoados de carros parados em todos os lugares, o silêncio; um vento soprava forte e frio, eu tentava me aquecer com as poucas roupas que usava enquanto corria os olhos de um lado a outro na esperança de ver alguém, entretanto nada acontecia. No sonho, o sol começava a se pôr e com a sua saída chegavam eles dois, Louis e o outro menino.

Mesmo longe eu sabia de quem se tratava, meu pequeno primo gritava e chorava em desespero vindo em minha direção, o cheiro forte de urina quase se tornava palpável. De seus lábios, além do choro, saiam as palavras "pimo Trevor". Caminhando por trás dele, tímido e sem chamar muita atenção caminhava o outro menino, aparentemente da mesma idade que Louis.

O outro menino não falava, não se precipitava em seus passos, não esboçava nenhuma reação ao choro de Louis, o menino apenas me encarava sem se aproximar. Eu sempre ficava na dúvida, tinha uma sensação de já tê-lo visto, mas eu nunca conseguia ter a oportunidade de vê-lo de perto o suficiente para ter certeza. Meu primo chegava cada vez mais rápido de onde eu estava, chorava cada vez mais e, quando enfim havia se colocado à minha frente, entrava em combustão queimando e gritando de desespero, para em seguida me abraçar e me incendiar junto a ele. Eu também começava a gritar, me contorcer de dor e desespero, não há nada tão apavorante do que ser queimado vivo...

Este pesadelo me é recorrente, eu tento acordar assim que me vejo nele, mas só consigo quando Louis me abraça. O desespero não me deixa raciocinar, o medo não permite que eu vá até o outro menino, nada do que se passa durante meu sonho acontece de forma a me favorecer, assim como quando estou acordado. Porém ao final do pesadelo da madrugada teve algo diferente, eu ouvi um grito, o grito de uma mulher.

Já se passava das 4hrs da manhã quando despertei bruscamente do pesadelo. Meu corpo suava, eu me encontrava eufórico, minha garganta estava seca e meu corpo tremia um pouco, como foi em todas as outras vezes... eu não consigo me acostumar com isso!

Olhei para a cama de Tyler, vazia. Eu havia me esquecido por um segundo que meu irmão teria ido dormir fora. Agora eu não saberia dizer se isto era reconfortante... o fato de saber que ele está bem longe de mim, se bem que... ele nunca fica longe, nunca sai da minha cabeça, igual a um tumor maligno.

Deixei minha cama e fui em direção à cozinha, um copo bem gelado de água me despertaria por completo das assombrações de meu primo. Me arrastei no breu do quarto esbarrando no criado mudo, girei a maçaneta e assim que cruzei a porta ouvi um barulho, um tilintar para ser mais exato, automaticamente Elise me recorreu a mente, me veio na cabeça uma imagem dela debruçada sobre a porta aberta da geladeira no meio da escuridão do apartamento sendo iluminada por uma luz amarelada e pálida, procurando algo para ajudar a amenizar o alto nível de álcool no sangue, ou, para aumentá-lo. Apesar de não termos bebidas deste tipo na geladeira.

- Ah! Oi filho, desculpa se te acordei.

Mesmo andando inconscientemente à passos mais silenciosos, para quem sabe talvez flagrar alguma coisa, ainda sim eu quem fui surpreendido por minha mãe que puxava uma jarra de chá gelado da geladeira ao mesmo tempo em que me observava chegar na cozinha. Parecia esperar por mim.

"Inconscientemente" é um termo muito raso, sim, eu queria pegar Elise fazendo alguma coisa de errado, chegar escondida e de ressaca seria uma boa, quem sabe chorando e de maquiagem borrada; um interesse estranho de minha parte, afinal o que eu quero de minha irmã é distância. Porém ter uma imagem de sua fragilidade antes de ir para Manhattan seria ótimo.

Os Gêmeos: Na Ilha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora