Os Gêmeos: Na Ilha do Purgatório

Capítulo (II) Divã

A espera faz parte de um caminho que leva a satisfação, a ansiedade nos faz querer pegar um atalho, mas para chegar ao momento tão desejado precisamos ser fortes... ah bom doutor, a quantos meses que não nos vemos, pensei que este momento não voltaria a acontecer, porém agora estamos aqui, separados apenas por uma parede, devo agradecimentos à Louis pelo feito.

Já faz 40 minutos que Trevor começou a sessão, daqui a pouco termina, logo mais é minha vez, e será incrível.

Falando em Louis, que maçante... entendo o luto de seus pais, contudo o drama chega a ser excessivo, meus tios ainda são novos é só fazer outro bebê e está tudo certo. Passei a semana junto a eles para criar um clima de afinidade, e também para ver a cara do Trevor, aquele otário vai se afundando cada vez mais na própria lama da culpa, fraco, até os nossos pais perderam a atenção nele, provavelmente o enxergam como um egoísta inútil, na verdade meus pais não podem falar muita coisa, se assemelham a ele neste sentido, o fato de só eu prestar suporte emocional aos infelizes tios criam uma carga de inutilidade enorme sobre todos, entretanto é de hábito humano jogar a culpa no próximo, sendo nossos pais eles têm orgulho e esperam que sejamos melhores, - por isso ao ver Trevor sem fazer nada eles o ignoram - o curioso é que eles próprios não fazem questão de melhorar, jogar tudo nas costas da nova geração é fácil, e quando os mesmos percebem que uma das sementes - Trevor - não coopera a visão muda, todo o prestígio anterior acaba e só resta o julgamento no olhar, é assim que a pobre Elise vem sendo tratada a vida toda, pensando bem... talvez o veneno nesta família nem sejam nós os filhos, talvez sejam nossos pais.

Certos tipos de julgamentos, ações e palavras podem mudar a cabeça de uma criança, não que eu e meu irmão sejamos tão frágeis a esse ponto, porém a criação em casa é a base de como os filhos agem lá fora. Engraçado, isso daria uma bela tese de mestrado, igualmente boa às teses do bom doutor. Falando nele, a sessão de Trevor já vai acabar, devo me colocar à disposição de entrar.

9:59, a porta se abriu - ele nunca falha no horário - revelando o bom doutor e meu querido Trevor. Percebo que meu irmão fixa os olhos no quadro da sala, com certeza aquele é um quadro intrigante e instigante, mas duvido que aflore os mesmos sentimentos em ambos igualmente, Trevor é muito... digamos, tapado. Ele é o tipo de pessoa que não se permite viver aventuras.

- Ótima sessão Trevor, nos vemos na próxima consulta, e iremos trabalhar mais os pontos que surgiram hoje. - O Dr. Groove apertava a mão de Trevor gentilmente enquanto o dispensava para o lado de fora, sorrindo é claro.

Trevor não disse palavra alguma, apenas passou por mim indo se sentar na cadeira. Realmente ele é muito antipático e causa desconforto nas pessoas, por isso as coisas que acontecem em volta dele são sempre tão dramáticas, igual as vezes em que eu o via sendo agredido pelo Ryan, patético!

- Olá Tyler, vamos entrando! - O Dr. Groove abre espaço para que eu entre pela porta, sinto o perfume envolvente e amadeirado exalando dele.

- À quanto tempo doutor, que saudades deste lugar. - Já dentro da sala vou tirando minha blusa de frio enquanto o vejo fechar a porta.

- Hunpf! É realmente incrível a diferença entre vocês dois. - Ele seguia sala adentro indo na direção de sua poltrona.

- O que meu adorável e amável irmão fez, hum? - Perguntei enquanto me aproximava dele sentado.

- Fez o que ninguém da idade de vocês fazem, - ele brindou-me com um sorriso irônico - foi um adulto rabugento. - Completou soltando um suspiro de cansaço.

- Ah, não diga isso, ele é um bom menino, só tem uns probleminhas, - me agacho a sua frente com a mão sobre seus joelhos - e convenhamos que eu também não costumo fazer o que pessoas da minha idade faz! - O encaro com luxúria.