(CAPÍTULO ÚNICO). Viciada

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    Muitas vezes eu me pergunto como seria se minha irmã ainda estivesse viva, nos daríamos bem? Ela seria uma boa conselheira amorosa? Eu já teria sobrinhos? Ela me ajudaria nos trabalhos da faculdade? Até porque estou me formando na mesma área em que ela iria se formar, na verdade eu só comecei a fazer arquitetura por causa dela... Eu seria ninfomaníaca caso ela estivesse ao meu lado por todos esses anos?

    Catherine Sue Bryant, as vezes mal lembro de seu rosto.

    Descobri meu transtorno psiquiátrico aos 14 anos de idade, ainda estudava na High School For Girls, não poderia me considerar inocente das coisas que a vida proporcionava, entretanto ainda faltava conhecer um pouco mais dela. Minha amiga da época, Cristine Blake, tem crédito no início desta fase na minha vida, me ajudou a puxar o gatilho.

    Cristine era mais velha do que eu 2 anos, contudo sua aparência não a denunciava, ela se mostrava tão jovem quanto qualquer outra menina do 9° ano. Havia repetido no colégio duas vezes, sempre matava aula, nunca prestava atenção nas explicações e certas vezes até faltava com respeito a algumas alunas e professoras. Existiam rumores de que o pai dela seria muito próximo da diretora e só por isso a jovem encrenqueira nunca tinha sido expulsa definitivamente. Estudávamos juntas na mesma sala, uma obra do destino que eu achei irônico.

    Ela esbanjava a minha altura, mas sua postura desleixada lhe fazia parecer um pouco mais baixa. Não sei dizer se sempre fui mais desenvolvida em corpo ou ela que simplesmente não cresceu, seus dois anos a mais provavelmente deveriam revelar diferenças físicas mais explícitas. Seus olhos eram de uma cor azul linda, os traços de sua íris pareciam ondas quebrando sob grandes falésias.

    Espalhados por sua cabeça, os cabelos mais pretos que eu já teria visto, brilhantes e tão longos que se estendiam ao final de sua cintura, sua pele embora muito branca carregava algumas manchinhas parecidas com sinais de nascença, como se tivessem sacodido um pincel com tinta em sua direção a marcando para sempre. Seus lábios carnudos e avermelhados chamavam a atenção de todas e todos, até mesmo alguns alunos da High School mudavam seu caminho de casa para vê-la ao final das aulas. Mesmo sendo tão linda e possuindo uma aparência quase angelical, ela nunca foi nada amigável, seu humor se mostrava totalmente ao contrário daquilo que víamos em seu rosto, e seu estilo Punk reforçava esta ideia. Mesmo assim, em todos esses meus anos de vida ainda não consegui achar uma mulher mais linda.

    Nossa aproximação foi simples e resultou imediatamente em nossa amizade. Matei uma aula por estar com muito sono e irritada também, eu me encontrava naqueles dias, então para não perder a cabeça eu preferi sumir. Naquele dia em questão as aulas de natação começariam na parte da tarde porque o sol estaria mais favorável, sabendo disso eu decidi ir tirar um cochilo às margens da piscina silenciosa, porém me enganei e em vez de dormir, acabei fazendo uma nova amizade.

    Graças a ela que eu comecei a fumar no ensino médio, matávamos algumas aulas por semana – ela mais do que eu e menos do que antes – e nos escondíamos para curtir a tal liberdade da qual tanto era citado por ela.

    Desde os 5 anos de idade eu vinha enfrentando em silêncio uma depressão que meus pais só vieram se preocupar quando eu estava para fazer 10 anos, muito estresse e emoções contidas me seguravam acordada durante toda a noite, por sorte nasci mulher e com um pouco de maquiagem eu conseguia acobertar tudo jogando um pó no rosto, mesmo minha insônia não conseguia tirar meu glamour. Embora sempre desatenta e caindo de sono pelos cantos, eu mantinha meu status dentro do colégio, de uma garota popular e bonita, não tanto quanto Cristine, mas a segunda no ranking.

Os Gêmeos: Na Ilha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora