Les Misérables

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O silêncio, muitas vezes o considero uma dádiva em nosso relacionamento de irmãos, se conversássemos frequentemente, provavelmente estaríamos em constante conflito.

    Descemos do metro na estação Tasker Morris, eu já conhecia o itinerário, entretanto não compreendia o motivo de nossa parada ali, assim como não compreendo muito nenhum dos motivos de Tyler. Saindo do metrô nosso destino era o The Kimmel Center, um enorme teatro aqui da Philadelphia, que recebe várias atrações durante o ano.

Ele foi inaugurado oficialmente em dezembro de 2001, porém já existia antes, na verdade é um local centenário, mas que ao longo dos anos mudou de nome várias vezes. O “Kimmel” é o sobrenome do seu antigo patrocinador, Sidney Kimmel pagou praticamente toda a reforma do lugar, embora tenha sido reinaugurado em 2001, os projetos para uma repaginada no teatro haviam sido idealizadas desde os anos 1996 e 97, Sidney juntamente com o falecido bilionário Kaleb Griffin, dono da até então maior construtora de todo os EUA (Construtoras Griffin) planejavam sobre o teatro, porém ao final de 1997 Griffin morreu, e Sidney teve sérios atrasos em sua tão sonhada reforma.

    Embora conheça a história deste teatro, com certeza Tyler não veio aqui por isso, até porque neste momento ele não está recebendo visitas ou estreando uma peça, se encontra de portas fechadas.

    – Tyler, o que diabos estamos fazendo aqui neste teatro? – Perguntei a ele como se estivesse cansado e estressado.

    – Hahaha. Viemos assistir a uma peça, ou melhor dizendo, ao ensaio dela.

    – Acho que você errou o dia, – eu já dava meia volta em direção ao metrô – está tudo fechado!

    – Escuta aqui Trevor... – ele me puxa forte pelo braço, aproximando meu rosto do dele, enquanto me lança um olhar profundo e ameaçador consigo sentir sua respiração trêmula de raiva – pare de me questionar e brincar com o que digo como se eu fosse algum imbecil, eu disse que iríamos conversar, – ele continua a apertar cada vez mais forte meu braço, a dor começa a se transformar em uma leve dormência – viemos aqui para isso, mas também tenho coisas a ver lá dentro, então cala a porra da boca e vamos dar um jeito de entrar!

    – E... como faremos isso? – Ele me soltou.

    – Vamos pelos fundos, tenho quase certeza de que não há seguranças lá atrás. – Seu sorriso abre novamente.

    – Câmeras! E se tiver alguma lá?

    – Muito prevenido meu irmão, porém eu sou mais! Já estive aqui antes e observei bem o lugar, a câmera está apontada para a entrada dos fundos, ela fica a uma altura razoável, uns 3 metros e meio do chão, ou seja...

    – Vamos ficar em pé um no ombro do outro?

    – Exato! Somando nossas alturas ultrapassamos os 3 metros e 60 centímetros.

    – Iremos por trás dela, e desconectaremos o fio de transmissão da imagem?

    – Sim, mas não o desconectando por completo, tiramos o plug, mas o deixaremos na entrada, fazendo parecer que soltou por mal encaixe ou por causa de algum pássaro que arrancou. Depois corremos até a porta e a destrancamos, nessa parte você é ótimo Trevor.

    – Ok! – Confirmo ainda sem ânimo.

    – Vamos logo, não quero me atrasar para o encontro duplo mais tarde. Haha.

    Fizemos conforme o planejado, demos a volta no quarteirão, entramos por um beco, pulamos uma cerca de metal, e caímos sobre sacos lixo, exatamente nas costas da câmera, ninguém à vista, então começamos. Me abaixei e Tyler subiu em meus ombros, se apoiando na parede ele conseguiu ficar de pé e habilmente desconectou o fio sem deixá-lo totalmente fora da entrada de conexão, me abaixei, ele pulou de meus ombros, corri até a porta e Tyler tirou de seu bolso um canivete suíço e um grampo, me pus a trabalhar, rapidamente abri a porta.

Os Gêmeos: Na Ilha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora