Londres, Inglaterra, 06 de outubro de 2016
Sexto dia vivendo com Leoni Shipman— Edd, eu tô bem, eu juro.
Ship havia me levado para tomar café da manhã fora de casa. Não entendo tão bem o motivo de ter mudado de ideia em relação a "passar tempo" com a minha pessoa, mas deveria ter alguma coisa dentro em seu porão que o deixasse menos impaciente.
Naquele momento, conversava por celular com seu amigo ruivo como se tivesse que dar satisfações a ele sobre onde estava, com quem estava e o por que disso tudo. Eles têm uma relação estranha pelo que eu pude notar; uma coisa diferente da amizade habitual.
A garçonete parou do meu lado para perguntar o que eu queria, mas eu não havia me decidido, então aproveitei que ele estaria pagando e pedi um pouco de tudo:
— Panquecas com muita calda, três donuts, um de chocolate e dois de creme, bolo de laranja, de chocolate, de... que tipo de bolo vocês têm?
— Edd, pera aí. — Ship olhou para mim. — Enquanto você tá aí reclamando, tem uma criança prestes a pedir uma alta dosagem de açúcar às cinco e meia da manhã. — Abaixou o celular.
— Pode botar sorvete nas panquecas?
— Ignora tudo que ele te disse, ele tem diabetes e ainda não aprendeu a lidar. — Intrometeu-se com aquela desculpa horrível. — Vocês têm alguma coisa com feijão nesse lugar?
O mais cruel dos psicopatas. E há quem diga que é inocente.
Ship acabou pedindo ovos com feijão e, pela primeira vez, eu desejei ter ido para o trabalho mais cedo.
— Por que que tenho que comê feijão? — resmunguei, quando a garçonete já havia saído. — Que saco, quase uma semana inteira pra te convencê a saí comigo e 'cê me obriga a comê isso.
— Arque com as consequências de suas ações — disse, voltando à sua conversa telefônica: — Por favor não me diga que eu sair com esse garoto te causa ciúmes. Eu obviamente não suporto essa criança.
Realmente fiquei triste por ele falar tão abertamente tais ofensas gratuitas, ainda mais por eu não poder respondê-las. Ou ele acha que é uma pessoa agradável de se conviver? Contudo, pelo teor da conversa, eu diria que esse tal "Edward" tem algum tipo de paixonite por ele. Como ele consegue, não sou capaz de entender.
— Tchau, Edd. — Ship encerrou a ligação e olhou para mim; eu estava com o cotovelo apoiado sobre a mesa e o rosto sobre a mão, olhando como se suas palavras ao celular fossem fascinantes. — Por que você sempre faz o possível pra parece irritante?
Não há nada melhor do que irritar uma pessoa que te odeia e é grossa de modo gratuito.
— Você tinha que querer me ver morto, eu venho te tratando mal a semana inteira.
— Ah, mas isso é porque 'cê tem suas responsabilidades — falei para bajulá-lo —, 'cê faz coisas importantes e isso tem um grande impacto na vida das pessoas! Né?
— Eu acabei de fazer o seu pedido por você, e você nem gosta de feijão. Não tem nada a ver com trabalho, isso não te irrita?
— 'Cê é meu médico, é claro que 'cê qué que eu coma coisas saudáveis, só mostra que 'cê se preocupa comigo.
— Não, eu só queria ver se existia algum jeito de você ficar puto comigo, mas, pelo visto você é bem insistente.
— Por que 'cê num se permite tentá tê um pouco de diversão ao invés de ficá buscando formas de me fazê te odiá? Seria tão mais legal se a gente botasse esse ódio de lado.
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Por que ele mataria Anne Scott?
Mystery / ThrillerLuckas Scott, um brilhante hacker/cracker, passa os últimos cinco anos planejando como se infiltrar na vida de Leoni Shipman, o antigo médico de sua irmã e também o melhor amigo dela, quem ele acredita estar por detrás de seu assassinato. Sem planej...