07. ... Como também, desconfiar das pessoas ao meu redor...

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Um ponto importante quando você está em uma equipe de investigação, é o de aprender a confiar nos outros, tendo cuidado em saber discernir quem era confiável ou não.

Claro que, àquela época, eu não tinha ideia disso. Além de ser minha primeira investigação, meu único treinamento era o de ter lido Agatha Christie e ter visto alguns seriados policiais, mas nada muito mais profundo do que isso. Sempre fui alguém desconfiado, e até mesmo, confesso, teimoso para conseguir admitir quaisquer tipos de erros.

Por óbvios motivos, aquilo estava me fazendo perder a concentração. Me vi perdido e em um beco sem saída, não sabendo como fazer para prosseguir e tendo dificuldades em saber quem estaria do meu lado, realmente.

Londres, Inglaterra, 05 de outubro de 2016
Cinco dias vivendo com Leoni Shipman

Quando seguíamos para os nossos trabalhos, eu precisaria continuar meus afazeres como habitualmente para que meus superiores não descobrissem que um civil estava armando uma investigação em contra do médico mais famoso, e mais importante, do momento.

Entretanto, com o mistério em torno de Samantha, naquele dia eu estava prestando mais atenção em Jessica Anders do que o normal.

Tinha saído do local onde trabalhava, o departamento de tecnologia e informática, para ir aonde os detetives residiam, em alguns andares acima do mesmo prédio. Vi a detetive alta e loira com alguns papéis em sua mão, ao longe e com um aspecto apreensivo, de frente para um homem de olhar sério. Jess não parecia estar tendo uma conversa banal: parecia aflita ao ponto de quase gritar, e somente não o fizera devido ao local de trabalho.

Cheguei mais perto. Por mais que evitasse fazer com que Jess me visse, precisava saber sobre o que ambos estariam conversando. Lendo por seus lábios, a vi mencionar o nome de Samantha e o meu, numa mesma frase. Assumi que ela estaria contando do nosso plano para um terceiro, sendo que havíamos estabelecido que ninguém pudesse saber de nada.

Pensei que Jess estaria numa situação difícil, preocupada demais com a irmã como para que buscasse conselhos com outros detetives. A mensagem que recebi de Samantha, que suspeitava de estar sendo drogada pelos médicos do Instituto de Ship, era bastante desconfortante, mas não fiquei à vontade de ter meu nome sendo dito.

Talvez, Jess fosse me contar sobre aquela conversa mais tarde. Ou talvez não.

Continuei tentando escutá-los. O homem à sua frente ficou calado o tempo todo, somente a ouvindo, mas não expressava nenhuma reação de surpresa. Pode ser que já sabia da nossa investigação, ou pode ser que fosse um sujeito sem muitas emoções.

Entretanto, e isso afirmo com a base de que não sou fluente em leitura labial, o vi abrir a boca pela primeira vez para falar algo preocupante. Soltou algo como: "Aquele garoto está se aproximando demais da verdade".

Poderia não estar se referindo a mim, mas, devido ao contexto, aquilo era fortemente improvável. Também não encontrei outra interpretação possível, e percebi que, desde que conheci Jess, nunca parei para pensar se ela, de fato, estaria ao meu lado.

Ela foi a primeira pessoa que realmente me ajudou a entrar na vida de Ship. Tinha ficado tão feliz por, finalmente, receber ajuda de algum detetive, que não parei para indagar-me sobre o que ela ganharia ajudando um completo estranho, ou se tinha algum objetivo por detrás disso tudo. Não é comum pessoas ajudarem as outras sem razões, ou pelo menos era isso que eu achava. Nunca fui muito bom no âmbito social para ter certeza de nada em relação a um ser humano.

Mas, Jess parecia genuinamente preocupada por sua irmã. Talvez não soubesse mesmo que ela estaria envolvida. Me estranha, mais, o fato dela ter-me dito ontem que não queria que eu me metesse muito na questão de Samantha: na hora, achei que ela estaria preocupada comigo por ser um civil, mas levou tão pouco tempo para ir falar com não-sei-quantos detetives sobre o assunto, que talvez pudesse estar me excluindo de alguma coisa.

Quando a loira pareceu ter acabado sua conversa com o outro detetive, a vi caminhando no sentido oposto ao que eu estava. Segui-a com os olhos, a assistindo subir o lance de escadas que dava para o sobrepiso. Havia dois escritórios importantes naquele andar, que eram do comissário e vice-comissário. As duas pessoas com maior patente na Scotland Yard, os chefes de Jess e os que eu mais temia que soubessem da minha investigação em contra de Ship.

Não consegui me aproximar deles, mas torcia para que Jess não abrisse a boca. Também, não adiantaria nada eu ficar lá, enchendo minha cabeça de situações hipotéticas e não dando sequer uma chance de esperar Jess vir me contar tudo. Por tanto, voltei ao meu local de trabalho.

Esperei Jess mencionar para mim que estava conversando com outros detetives sobre o nosso caso.

Mas, ela nunca o fez.

797 palavras

Bem, como eu tinha dito, agora essa fic será postadas às segundas e quintas!

Por que ele mataria Anne Scott?Onde histórias criam vida. Descubra agora