Uma das coisas que eu ignorei mesmo sabendo que poderia acontecer quando começasse essa busca pela verdade, foi a de que, talvez, eu fosse descobrir algo que não fosse gostar. Mas, eu acho que é inevitável aprender mais sobre alguém quando você abre uma investigação sobre ela e precisa ser imparcial, mesmo sendo alguém que faz parte da sua família.
Pobre Anne,
nunca soube o que a atingiu.
Londres, Inglaterra, 04 de outubro de 2016
Quarto dia vivendo com Leoni ShipmanÀs seis horas da manhã, eu estava na cozinha. Havia uma xícara de chá e panquecas recém-feitas, com mais calda do que massa, apoiadas em um prato pequeno sobre a mesa. O sol estava forte àquele dia, apesar dos ventos fortes deixarem o clima frio, e eu já sabia exatamente qual seria a minha tarefa do dia de hoje.
Além disso, eu não estava sozinho.
Ao sair do meu quarto, alguns minutos atrás, dei de cara com um homem por volta de seus trinta, que eu nunca tinha visto na vida, mas que também parecia possuir o hábito de acordar cedo. Estava na sala de estar, apoiado contra a parede e mexendo no celular, certamente pensando se deveria ir embora antes de Ship acordar, ou esperá-lo.
Contudo, quando viu que os dois não eram os únicos naquela casa, acabamos vindo tomar café da manhã juntos.
— Me conta tudo! — disse eu, com o rosto apoiado sobre minha mão, feliz devido à sorte de estar frente-a-frente com alguém que conhecia Ship mais intimamente. — Como ele é como chefe?
— Ah, ele definitivamente não é um chefe comum... — respondeu ele; parecia ser alguém simpático, o que era estranho para alguém como Ship conviver. — A gente não vê muito ele lá no Instituto, mas ele fez muito por aquele lugar, principalmente considerando o antigo chefe...
— Isso eu sei, mas... queria saber alguma coisa mais "pessoal" sobre ele.
— Como assim?
— Quer dizer, vocês se conhecem, né? Você dormiu aqui ontem.
— Ah... — Ele me olhou com um sorriso envergonhado, então eu percebi que estava gravemente errado. — Desculpa, ontem foi literalmente a primeira vez que ele falou comigo.
Tapei meus olhos com as mãos, não acreditando que ele tinha convidado um desconhecido pra casa dele de novo, visto que fez o mesmo comigo. Esse sujeito não se cansa?! Por que não chamar alguém como o Edward? Esse sim teria chances de me contar as coisas que eu quero saber.
— Não, Beasley, pro caralho que eu aceitaria uma coisa dessas!
O "intruso" que estava à minha frente, e que certamente não conhecia Ship como eu, ficou assustado quando o ouviu gritando ao telefone, com direito à palavrões e xingamentos, da sala de estar. Aquilo serviu-me de prova de que tinha me dito a verdade antes, uma vez que qualquer um que conhecesse Ship minimamente saberia que ele sempre dá um jeito de brigar com alguém na primeira hora do dia.
— Pois enfia esse acordo de merda na porra do seu... — Continuou, enquanto nós dois somente ouvíamos sua voz e passos desde a cozinha. O intruso olhou para mim como se me perguntasse se aquilo era normal, e eu, com olhos cansados, disse que sim. — Você já deveria agradecer aos sete Deuses que eu fui obrigado a aceitar esse acordo, mas, se você pensa que eu vou te pagar o que você...
Ship tinha entrado na cozinha, por fim, quando olhou em nossa direção e estranhou que havia uma pessoa comigo. Pelo olhar assustado que fez, tenho certeza de que não se lembrava de ter convidado outro desconhecido pra dormir em seu apartamento. Inclusive, parou de falar ao telefone para brigar conosco:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por que ele mataria Anne Scott?
Misteri / ThrillerLuckas Scott, um brilhante hacker/cracker, passa os últimos cinco anos planejando como se infiltrar na vida de Leoni Shipman, o antigo médico de sua irmã e também o melhor amigo dela, quem ele acredita estar por detrás de seu assassinato. Sem planej...