17. ... Eram dois depressivos inconsequentes que tentavam curar um ao outro...

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Às sete da manhã, eu estava em frente à porta do apartamento dele. Não quis chegar mais tarde caso Ship resolvesse sair para trabalhar, apesar de ter quase certeza de que ele tiraria o dia de folga.

A investigação durou cinco dias, e os três principais suspeitos ficaram dentro do Instituto durante todo o processo. Infelizmente, devido à falta de provas, Jess não conseguiu nenhuma informação útil ou mesmo fazia ideia do que tinha acontecido.

Londres, Inglaterra, 15 de outubro de 2016

Toquei a campainha uma primeira vez.

Não estava com a menor paciência de ver aquele rabugento mais uma vez. Não só por tê-lo eleito a pessoa mais insuportável da terra, mas por tudo aquilo que ele representava. A minha suspensão no trabalho, a falta de evidências em dois possíveis homicídios e o fato de eu ter ficado horas ouvindo a secretária dele reclamando de seu comportamento antissocial e desleixado, me fazia sentir vontade de dar meia volta, sair daquele lugar e abandonar a investigação.

Mas, não tinha como eu fazer aquilo, então toquei a campainha mais uma vez. E de novo. E de novo. Tão insistentemente que poderia tê-la quebrado, e repeti a ação com tanta velocidade que o barulho parecia interminável. Era irritante, muito irritante, mas irritar aquele infeliz era a única coisa que me dava felicidade atualmente, em meio à vida miserável que Ship tinha me obrigado a ter.

Até que ele finalmente atendeu a porta. Depois de longos minutos em que a minha mão quase ficou dormente.

E se a minha vida tinha ficado miserável devido à investigação, Ship deveria estar lamentável. Em um estado deplorável de dar pena, com um semblante totalmente desprovido de vida e olhar de quem teve a alma sugada, expulsa do corpo.

Sua postura parecia tão fadigada quanto ele; cheirava como se não tivesse tomado banho há dias e parecia ter dificuldade em permanecer de pé como se não dormisse há mais tempo ainda. Seus olhos não conseguiam se manter abertos totalmente. Deveria ter andado até à porta em modo automático. Mas, seu cenho estava arqueado em uma raiva e irritabilidade profunda devido ao barulho da campainha e a minha presença.

Aquela infelicidade exuberante deixaria qualquer um com pena, mas ele não tinha direito nenhum de ficar irritado comigo depois de ter feito da minha vida um inferno, então eu acabei dando um tapa na cara dele.

— Ai! Por que você fez isso? — Ship disse, parecendo ter acordado de um transe profundo.

— Sua secretária me contô tudo que 'cê fez.

— Nada disso é da conta dela, nem sua — respondeu, mas repensou: — Pera, você fez amizade com a minha secretária?

— Ela fez amizade comigo. Ela se preocupa contigo, sabia?

— Não, ela se preocupa que eu vá destruir o Instituto de alguma forma, comigo ela não se preocupa nada.

— Enfim, ela tá preocupada.

Entrei no apartamento, passando batido por ele.

— Sim, Peter, pode entrar — Ship resmungou, fechando a porta.

Quase não acreditei que tinha mesmo dado certo, e a situação era pior ainda do que eu esperava. Não sei como ele conseguiu, mas o apartamento estava destruído.

Parecia ter sido vítima de um terremoto. Tinham inúmeros livros pelo chão com pedaços de vidro ao redor, almofadas espalhadas, as gavetas do rack estavam abertas e haviam sido esvaziadas, os móveis estavam fora do lugar e tinha algumas manchas pelo chão e parede que pareciam sangue.

Por que ele mataria Anne Scott?Onde histórias criam vida. Descubra agora