18. ... Mas, se amavam... ainda que de modos distintos.

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— As pessoas tão olhando na nossa direção.

— Deixa elas, é inveja.

— Aquele atendente acha que a gente vai fazer alguma coisa...

— Se você quiser continuar andando comigo vai ter que se acostumar a ser encarado.

Londres, Inglaterra, 15 de outubro de 2016
11am; 39h restantes

Depois de algumas horas em que Ship não conseguia parar quieto no apartamento devido à abstinência, nós finalmente viemos juntos para o mercado.

Eu andava com o carrinho pelo vasto setor de bebidas alcoólicas enquanto ele pegava uma garrafa de cada tipo de vinho e licor diferente. Tinha tantas garrafas que já estava pesado andar com aquilo, e eu desisti de contar quando chegou na terceira dezena. Não tenho nem certeza se tem algum limite legal para esse tipo de compra.

— O que aconteceu, aliás? — perguntei. — Pra que comprá um estoque infinito de álcool?

— Todas as minhas bebidas desapareceram do meu apartamento.

— Como?

— Sei lá. Mistérios da vida.

— Isso num te preocupa?

Ele parou para analisar duas garrafas que pareciam ser a mesma coisa para mim. Aquele monte de álcool e pessoas nos encarando como se fossemos dois drogados me deixaram com ansiedade, então peguei uma barra de chocolate que tinha no meu bolso.

— Tem três pessoas que eu suspeito estarem por detrás disso — disse ele, optando por colocar as duas no carrinho.

— E o que 'cê vai fazê?

— Nada, nem quero saber quem foi. Se eu souber, vou ser obrigado a tomar alguma atitude em relação a isso.

— Então só vai ignorá que alguém entrô no seu apartamento e roubô as suas garrafas?

— Qualquer um que seja burro o suficiente pra não ter roubado alguma coisa mais valiosa não merece a minha atenção.

Um segurança começou a nos seguir discretamente, mas era óbvio demais. Ship, de fato, não parecia se importar com os olhares ou tentava esconder seu vício. Na verdade, ele abriu uma das garrafas e começou a beber, o que somente me fez ter mais certeza que nós dois acabaríamos indo presos juntos.

Não sabia se supermercados eram um dos lugares onde se era crime beber em público, ainda mais dez da manhã. Tentei só não olhar muito diretamente para ele.

— Você não faria isso, né?

Ele parou o carrinho com as mãos e me encarou com um olhar meio suspeitoso, mas que não parecia ser tão sério.

— Por que eu faria isso?

— Porque é óbvio que você fica incomodado comigo bebendo tanto.

— Se fosse verdade, eu num teria vindo no mercado contigo.

— Hm... bom argumento — disse, saindo de perto do carrinho e continuando a admirar as prateleiras enquanto entornava a garrafa de vinho na boca.

Em certo ponto, começou a beber tão rápido que ficou tonto e quase caiu na prateleira, mas se segurou no carrinho.

— Nossa... — ele disse, ainda sem conseguir ficar direito em pé. — Isso que dá ficar seis dias sem álcool...

— Num dá pra 'cê pará de bebê em público?!

Eventualmente ele voltou a si, ainda que era visível a embriaguez em seus olhos.

— Como é que você, que não fica um segundo sem colocar algum doce na boca, tem problema comigo bebendo?

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⏰ Última atualização: Jun 05, 2020 ⏰

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