16. ... Ambos viviam dentro de um hospital, ainda que por diferentes motivos...

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— Tá sendo muito complicado aqui no Instituto. O Shipman, ele...

— É insuportável, né?

Pior do que você conheceu. Abstinência por álcool.

— Já tentou usar isso ao seu favor?

Não dá, ele fica trancado dentro do escritório. E também parece que ele não sabe de nada. Na verdade parece que ninguém aqui sabe de nada.

— As coisas estão indo tão mal assim?

Sim... eu comecei a ser pressionada a encerrar essa investigação. Não tenho provas nem consegui nenhuma informação importante. Você tava certo... a Scotland Yard não é de grande ajuda. Muitos protocolos.

— Então eu posso continuar a minha investigação?

Eu não disse isso, mas... se você for continuar, tenta me manter informada.

— Tá bom!

Londres, Inglaterra, 11 de outubro de 2016
Quarto dia de investigação

Eu ainda precisava de uma desculpa para voltar ao apartamento dele, se ainda quisesse saber o que estaria escondido no calabouço. O melhor jeito de fazer isso, de acordo com a atual situação, seria me aproveitando da vulnerabilidade atual dele, de abstinência pelo uso de álcool. Se ele já era maluco antes, não posso imaginar como deve estar agora.

Então eu preciso deixar ele ainda mais maluco.

Aproveitando que fazia quatro dias que Ship não ia para casa, e que eu ainda estava com a chave do seu apartamento, fui para a rua. Eram trinta e cinco minutos de distância entre meu apartamento e o dele indo de bicicleta, e ainda precisava parar em uma loja antes.

Comprei sacos de lixo. Muitos deles.

Para que esse plano desse certo, seria bom se o porteiro não informasse ao Ship que eu voltei ao seu apartamento. Mas, não acredito que isso aconteça. Ele é meio desligado e já me viu entrando e saindo vezes suficiente dali para desconfiar de alguma coisa, e acho que é seguro assumir que Ship não teve tempo de contar para ninguém que nós já não morávamos juntos.

— Ok, isso vai ser... muito interessante.

Ship certamente tinha uma cozinha enorme. Eletrodomésticos novos, uma geladeira grande, dois fogões e muitos armários, mas que sempre estavam vazios. Quase não usava aquele espaço todo por comer fora, mas tinha uma parte da cozinha que sempre estava cheia: a bodega.

— Nove, dez, onze...

Rose Chateau, Bordeaux Superieur, Pinot Noir, Vinho do porto, Marquis de Bordeaux e outros nomes impronunciáveis. Ele tinha uma verdadeira coleção de mais de vinte garrafas de vinho fechadas, todas parecendo muito caras e importadas. Certamente não economizava quando o assunto era sair da sobriedade.

E eu vou sumir com todas essas coisas.

Ship também tem mais bebidas escondidas, imagino para em caso de emergências. Uma garrafa de licor aberta na gaveta do rack da televisão, outra no armário do banheiro, atrás da estante, uma em um fundo falso no criado-mudo, outra debaixo da cama e a última no topo do armário. Pelo menos foram essas que eu consegui encontrar.

E álcool não era a única coisa que ele tinha.

Ship tinha todos os tipos de drogas recreativas existentes naquele quarto. Ecstasy, cocaína, heroína e outras que eu não fazia a menor ideia do que eram. Foi bom ter comprado tantos sacos de lixo, ou eu não teria como me livrar de tudo isso.

Por que ele mataria Anne Scott?Onde histórias criam vida. Descubra agora