13. ... Era frágil, mas se fingia forte para cuidar de mim e de nossa mãe...

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Anne era uma pessoa fácil de se gostar. Por mais que lhe sobrassem motivos para ficar triste ou preocupada, sempre mostrava um sorriso no rosto. Acreditava que isso atrairia gentileza, e que, por tanto, se não sofreria tanto o risco de ter pessoas tóxicas ao seu redor.

Ela não estava errada, mas também não estava certa. Ou só era bastante azarada mesmo.

De tanto tentar fazê-lo menos infeliz, acabou se apaixonou pelo melhor amigo. Se minha irmã tinha muitos problemas pessoais, Ship deveria ter a extensão do Oceano Atlântico inteiro. Pelo que ela me contava, era comum ele se isolar propositalmente, ficar totalmente recluso, ou até mesmo entrar em um estado de torpor quando estava em público, devido aos milhares de traumas que tinha.

Claro, foi inevitável para ela tentar ajudá-lo. Fazia parte de sua própria natureza.

Mas, quando você abraça os problemas de uma pessoa, aqueles problemas se tornam seus também, de alguma forma. E Ship tinha vários.

Londres, Inglaterra, 27 de agosto de 2007
Nove anos atrás

Eu estava no meu quarto, na solidão da noite, mexendo no computador.

Com doze anos, o maior sonho da minha vida era entrar para o Norwall-Lavoisier, um colégio interno. Sei que a maioria das crianças odiaria estar em um, mas aquele era diferente. Era uma escola somente de prodígios, com as crianças mais inteligentes da Grã-Bretanha e com uma grade de matérias avançadas e especializadas em carreiras da faculdade.

Às vezes, passava o dia vendo fotos pelo computador, ou lendo notícias sobre alunos já formados. Minha mãe não entendia o porquê de eu querer tanto "me enfiar numa escola elitizada", que me distanciaria da família. Só que, nessa idade, tudo o que eu mais queria era aprender o que eles estavam aprendendo.

— Posso entrar?

Anne bateu à porta, a abrindo. Ela estava toda arrumada: com brincos, maquiagem e até um colar, e não era comum vê-la usando nenhum daqueles acessórios. Trajava um vestido azul com preto, justo, mas não tão curto, e deve ter sido a primeira vez que eu vi a minha irmã com salto, apesar de não muito alto.

— Ele aceitou sair com você?

— Finalmente, né! — respondeu-me, sentando na cama ao meu lado. — Depois de seis meses de insistência.

— Isso é bom. Pra onde vocês vão?

— Pra um clube, ele disse que vai passar aqui pra me buscar. Isso não é romântico? — falou com um enorme sorriso esperançoso.

— É? — perguntei com honestidade, porque eu não fazia ideia. — Mas a mãe disse que ele é gay.

— Ele... — Anne começou tentando pensar em uma desculpa, mas acabou desistindo. — Eu sei que eu tô me iludindo, mas o que eu posso fazer? Nós somos bons amigos e eu não quero estragar isso.

— Hm...

Era estranho, para mim, ver minha irmã agir de modo tão animado. Anne nunca saía à noite e sempre teve mais responsabilidades que uma adolescente normal, então eu ainda não havia me acostumado com sua "paixonite".

— E você? — ela me perguntou. — Alguém interessante na escola?

— Ahn... — hesitei. — A mãe tá obcecada em tentar me fazer ficar com Alisson Scottish.

— E o que você acha disso?

— Eu acho que eu quero ir pra Norwall-Lavoisier. Você acha que pode convencer ela?

— Luckas... um mês nessa escola custa o ano inteiro de aluguel.

— Mas eles têm bolsas!

Minha irmã fez o que sempre fazia quando eu não aceitava a triste realidade que era a minha vida: cafuné no final do meu cabelo, no começo da minha nuca, para que eu me acalmasse e tentasse me colocar no lugar dos outros, o que sempre foi um desafio para mim (e continua sendo).

Por que ele mataria Anne Scott?Onde histórias criam vida. Descubra agora