SEIS

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            Meus pais ficam furiosos por eu ter ido embora sem avisá-los e exigem uma razão para minha estupidez. Meu pai grita sobre eu ser estranho e não me importar com nada que não esteja além da minha bolha e minha mãe parece tão decepcionada por não me compreender que é de cortar o coração.

            Eles ficaram preocupados, não posso culpá-los, mas também não posso dar uma boa razão. 

            A única pessoa que parece se importar e entender, surpreendentemente é Cat. Ao me encontrarem no meu quarto, depois de voltarem da festa e de todos os sermões, minha irmã me deu um abraço e me desejou feliz aniversário, coisa que ainda não havia feito.

            ― Quer maratonar Star Wars? ― pergunta, com seus olhinhos curiosos me analisando.

            Ela entende que aquilo é importante para mim, mesmo que seja só uma criança e isso é o suficiente para que eu abra um sorriso.

            ― Você nem gosta ― digo.

            ― Eu posso fingir que sim ― ela sorri também.

            Cat dorme nos primeiros quinze minutos de "Star Wars – Uma Nova Esperança" e eu acabo não continuando, mesmo que esteja sem sono.

            Sou acordado com pancadas fortes na porta do meu quarto e sei que se trata do meu pai, pois seus punhos são de concreto

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            Sou acordado com pancadas fortes na porta do meu quarto e sei que se trata do meu pai, pois seus punhos são de concreto. Mesmo que queira fazer uma cena fingindo que não escutei, me arrasto da cama para enfrentar o que quer que ele queira.

            Ao abrir a porta, dou de cara com a sua figura gigante e assustadora preenchendo a porta inteira. Ele está usando uma bermuda de surfista e uma regata com coqueiros, mesmo que assim como eu não tenha o mar como um aliado. É raro ver meu pai fora das roupas sociais, já que é advogado, mas quando acontece é porque ou vai pescar com os amigos do escritório ou porque vai me obrigar a passar algumas horas com ele. Sei que se trata da última possibilidade.

            ― Tome um café reforçado, vai me ajudar com a picape ― diz com sua voz de trovão e sai pisando firme.

            Eu obedeço, é claro, mas a preocupação pousa sobre mim tirando o pouco de paz que me resta. Quase não como, já que aparentemente meu apetite foi abduzido junto de Elay, assim como a minha boa vontade em suportar dias onde meu pai acha que está fazendo o seu papel.

            Encontro ele na garagem, já sujo de graxa e na segunda lata de cerveja, ouvindo Black Metal no radinho a pilha que herdou do vovô. Me aproximo cautelosamente, porque estar perto dele me faz pisar em ovos.

            ― Aí está o cara ― diz ao me ver.

            A relação que tenho com meu pai é uma farsa que ele não percebe. Sei que não lhe causo nem um pingo de orgulho e sim uma enxurrada de vergonha. Mas agora não faço questão de agradá-lo, não há mais importância na sua aprovação. O problema é que ele tenta, me fazendo assistir a jogos junto com ele ou a ajudar no concerto da picape: duas coisas que eu deveria gostar, mas que ele sabe perfeitamente que abomino.

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