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Elay. Verão de 2018.

Estar de volta é estranho, mas não sei o que mais esperava

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Estar de volta é estranho, mas não sei o que mais esperava.

Quatro anos depois e aqui estou eu, encarando a minha antiga vida e me sentindo totalmente perdida. A cidade continua praticamente a mesma, tendo pequenas mudanças em questão arquitetônica, como a considerável reforma no prédio da prefeitura e a construção de um monumento em homenagem a um antigo pescador da região. E, justamente por ainda continuar tão parecida como nas minhas memórias me sinto tão abalada, sendo banhada por lembranças que mantive por muito tempo numa área restrita da minha mente.

O apartamento que eu e papai estamos nos hospedando é pequeno, mas possui uma privilegiada vista para o mar. Tudo tem que ser perfeito, meu pai dissera, essas férias precisam ser especiais. Bom, por especial ele quer dizer que na medida do possível vamos aproveitar nossa antiga cidade sem ficar remoendo o passado.

Sei que meu pai escolheu vir para cá porque acha que fará bem para nós, como provavelmente sua analista lhe aconselhou. Enfrentar os fantasmas do passado, alguma baboseira assim. De início, não achei uma péssima ideia, mas agora, olhando para o mar que foi um companheiro em grande parte da minha vida, sinto que as feridas estão escancaradas.

Desde que fui embora, não vi mais o mar. A selva de pedras nem me permitia sequer ver o horizonte, e só agora percebo como senti falta.

― A vista é linda ― digo ao meu pai, que está ao meu lado na sacada.

Ele está muito nervoso e sei que está remoendo se o destino dessas férias foi mesmo correto. Quero que ele se sinta bem, acima de tudo, então tento parecer tranquila.

Desde que minha mãe morreu, meu pai se tornou uma espécie de zumbi e tentar tornar a vida um pouco mais alegre para ele é minha missão na terra. Por isso não questionei quando ele tomou essa decisão, sei que ele tem seus motivos e talvez acabe mesmo ficando bem.

― O que vai fazer hoje? ― ele pergunta, arriscando sorrir.

― Vamos ao Sardinha juntos, que tal?

Ele dá um muxoxo e as rugas de sua testa se acentuam.

― Já tenho planos.

Aperto os olhos em dúvida.

― É sério, Elay! Combinei com uns antigos colegas do trabalho, vamos nos encontrar num bar.

― Bom, eu vou sair sozinha então ― encolho os ombros.

― Poderia entrar em contato com seus amigos ― meu pai sugere como fez durante todos os anos em que moramos na capital. Bom, depois que me mudei cortei o contato com absolutamente todos, porque acreditei que se fizesse isso sofreria menos. Não foi só difícil perder a minha mãe, mas estar longe deles também me consumiu muito. Então, pela minha lógica, se eu não conversasse com eles, talvez pudesse transformar a saudade em uma lembrança distante que quando visitada não doeria. Não sei se tive muito êxito..., mas não contatei nenhum deles, durante todo esse tempo.

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