DOZE

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O que Bianca disse toma conta de todos os meus pensamentos e eu preciso mesmo ver para acreditar. Por isso fico ansiosa, torcendo para que o relógio se apresse enquanto boto em prática o que sei sobre maquiagem.

Minha mãe foi uma artista, ela já era atriz na minha idade e ajudava a fazer as maquiagens dos atores e todos os figurinos das peças. Só parou quando acidentalmente ficou grávida de mim, tendo que arrumar um emprego que lhe desse mais lucro. Mas ela nunca parou de costurar e de maquiar, tendo me ensinado o suficiente para que eu consiga fazer um bom trabalho. É terapêutico construir um estilo, desenhar no meu rosto e enfatizá-lo com cores.

Enquanto me arrumo, ouço a playlist que eu e Thalles fizemos juntos quando ainda éramos inseparáveis. Faz um bom tempo que não a ouço, acho que por querer evitar qualquer coisa que possa me deixar com saudade dele, minha idiota tática de sobrevivência. Mas eu sei que fugir da dor emocional é a coisa mais idiota que alguém pode fazer, sei que é preciso sentir e aceitar que o que lhe convém no momento é o luto, não sentir nada não é melhor que tortura medieval.

E mesmo assim, aqui estou eu, evitando e correndo da dor, me escondendo pateticamente enquanto abraço a indiferença.

Quando estou pronta fico feliz com o resultado e meu pai começa a me elogiar do seu jeito dramático, todo orgulhoso.

― Estou feliz que esteja aqui ― diz, depois de me constranger com o exagerado nível de elogios.

― Está feliz por estar aqui? ― pergunto.

Ele pondera antes de responder.

― Sinceramente, é tudo muito estranho, mas é preciso encarar. Pode ainda não estar tudo bem, mas vai ficar.

Quero acreditar nele, mas muita coisa se fechou dentro de mim.

― Vamos farrear, já estávamos virando dois velhos rabugentos ― digo, fazendo ele rir.

― Eu já sou velho.

― Você tem 37 anos, com essa idade eu estarei...

― .... farreando em Las Vegas, já sei ― ele revira os olhos.

Tenho sorte por ter ele como amigo, fomos o suporte um do outro no momento mais difícil de nossas vidas. Isso me faz pensar em Thalles, como sempre se mostrou arisco em relação ao seu pai e que agora provavelmente o enche de orgulho, seguindo a mesma carreira.

Depois de alguns minutos o interfone toca anunciando a chegada de Bianca. Meu coração até mesmo ousa dar uma cambalhota, porque apesar da preocupação eu estou criando expectativas.

― Se cuida, nada de... bom, eu não preciso dizer, você se repele às coisas erradas ― meu pai diz, beijando o topo da minha cabeça.

― Cuidado, talvez haja uma pessoa libertina prestes a desabrochar ― provoco, ao passo que ele ri. ― Você também, se cuida, ok?

Quando estou esperando o elevador, meu pai grita:

― Diga oi ao Thalles por mim.

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