DEZOITO

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Bem no fim, nada foi resolvido, nenhum pingo no i foi posto, em vez disso mais pontos de interrogação surgiram.

Uso minha folga para tentar seguir com o planejado, confirmo um encontro com Samuel no boliche da cidade. Nos falamos por mensagens e percebo pelo número exagerado de vogais que ele está animado. Confirmamos para às sete e já começo a ficar ansiosa ― é meu primeiro encontro de verdade.

Para a manhã, eu e papai decidimos enfim sair juntos, vamos almoçar no Sardinha, o restaurante de frutos do mar que vivíamos frequentando antigamente. É o mais em conta da cidade e o mais acolhedor também.

― Sabe, eu conheci sua mãe aqui ― ele diz e suspira pensativo, quando estaciona o carro na entrada. Olhamos para o restaurante, a decoração rústica e temática do litoral. Eu sei que eles se conheceram aqui, já ouvi essa história outras quinhentas vezes, mas eu sempre finjo que não sei para que me conte de novo e de novo... ― Ela trabalhou um tempo de garçonete, eu era apenas um turista perdido, mas quando bati os olhos nela tive certeza de uma coisa: estava encantado.

Vejo seus olhos brilharem, como se a lembrança fosse palpável, bem a sua frente. Já venho pensando há um bom tempo que meu pai precisa conhecer alguém novo, mas agora me atinge como uma missão. Mais uma.

O restaurante está bastante cheio para um dia de semana, graças a alta temporada. Todas as mesas da varanda com vista para o mar estão ocupadas, então acabamos nos sentando num canto qualquer. Fazemos nossos pedidos e, enquanto esperamos, meu pai continua a contar a história:

― Ela era muito parecida com você agora, exceto pelo...

― Cabelo ― completo, meus lábios se flexionando para cima.

― Isso ― ele retribui o sorriso. ― Estava tocando um reggae horrível quando entrei com meus amigos aqui e eu, estúpido como era, perguntei se a comida era tão ruim quanto a música... Bom, ela me disse com o nariz empinado que se eu tinha um gosto musical tão ruim, era provável que tivesse um paladar terrível também.

Consigo ver a cena perfeitamente na minha cabeça. Minha mãe, linda sem o menor esforço, irritada com o cliente idiota-mas-bonito que se atrevia a estragar seu sábado.

― Meus amigos deram risada, é claro, todo mundo magnetizado pela beleza estonteante da sua mãe. Eu vim quase todos os dias das minhas férias aqui, só para vê-la, só para irritá-la, criando coragem até conseguir chamá-la para sair.

O amor dos meus pais sempre foi uma das coisas mais bonitas que vi na vida, era perceptível em todas as suas ações. Ainda está presente nos olhos do meu pai, que brilham toda vez que se recorda dela. Nunca sei como me sinto em relação a isso, se é dor ou felicidade. Fui a pessoa mais sortuda do mundo durante quatorze anos da minha vida, de ter pais que se amassem verdadeiramente, mas agora é tudo tão injusto...

Quando nossos pedidos chegam comemos um tempo em silêncio, absorvendo o momento e as sensações. Isso até meu pai resolver tocar num assunto delicado:

― Você não me contou como foi reencontrar Thalles...

Ele sabe que algo está errado, seu faro é apurado demais para deixar isso passar despercebido.

Dou de ombros, tentando esconder o quanto esse assunto me deixa incomodada. Thalles não foi assim tão ruim comigo ontem, mas não tenho tantas esperanças em relação a recuperar o que tínhamos. Nem ao menos faz mais sentido.

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