No domingo, acordo antes do sol nascer e coloco minha roupa de corrida. Percorro grande parte do calçadão da praia e aprecio o espetáculo que é a aurora no litoral. Os pescadores já rumam para o mar e os turistas tiram fotos aproveitando a Golden hour. Acabo subindo no morro da Queda da Mariposa para apreciar com uma vista mais ampla; não acho que ainda consigo saltar, por mais que guarde lembranças de um abismo bem maior que o da realidade, mas me sento bastante na beirada.
A brisa traz algumas lembranças no seu encalço, de dias felizes que passei quando morava aqui, com meus amigos e com minha família. Não choro, mas um nó se forma na minha garganta e sinto o ar rarefeito. É difícil pensar em dias bons quando as pessoas presentes neles já não podem mais participar de dias futuros.
Volto a correr depois que me sinto melhor e acabo parando num quiosque para comprar uma água de coco, é assim que sou surpreendida por outro fantasma do passado.
― Elay! ― uma garota ruiva sentada numa mesinha exclama: é Cat, a irmã de Thalles. Ela acena com um sorriso gigantesco, está sentada sozinha usando também roupas de ginástica. Apesar de ser bastante cedo, muitas pessoas acordam com o sol por aqui e Cat foi uma delas.
― Oi ― digo, meio na defensiva, visto que ela também pode ter se tornado uma idiota. Me aproximo lentamente e, para minha surpresa, sou envolvida por um abraço gigantesco.
É surpreendente como ela também cresceu, é tão alta que tenho que ficar na pontinha dos pés para retribuir o abraço. Quando ela me solta percebo que continua sendo a mesma garotinha que conheci, a mesma que eu e Thalles tanto implicávamos. Isso me faz pensar novamente: o que de errado aconteceu com o meu amigo?
― Eu soube que você está por aqui e fiquei doida para te encontrar, só não esperava que isso fosse acontecer naturalmente ― ela diz, sustentando uma simpatia que não combina em nada com suas feições tão parecidas com as de seu irmão.
― É, pois é ― digo, sem saber muito bem como agir.
― Minha mãe quer muito te ver, ainda mais depois que soube que você fez uma mudança radical no visual.
Franzo a testa e Cat se apressa em acrescentar:
― Eu adorei.
Ela puxa uma cadeira para que eu me sente com ela.
― Como soube? ― pergunto, assim que as informações começam a se assentar na minha mente. Fico pensando se Thalles comentou com a família sobre a minha volta a cidade, mas essa ideia não faz o menor sentido.
― Bom, eu vi aquele vídeo ― ela explica, dando de ombros.
Sinto meu rosto queimar como brasa e Cat cai na risada ao notar.
― Ei, eu achei aquilo o máximo! Meu irmão foi mesmo um babaca contigo, desculpa por isso.
Me sinto mais aliviada e acabo deixando um sorriso escapar. É bom saber que não exagerei tanto assim.
― Ainda parece irreal ― confesso, porque quero respostas e Cat é capaz de me dá-las. ― Desculpa... mas ele não parece mais o mesmo.
― Eu sei ― Cat diz, deixando o sorriso sumir. ― Acho que é a forma que ele encontrou para lidar com as coisas, sabe?
― Coisas...?
― Bom, muita coisa aconteceu. Sabe que meus pais se separaram?
― Sinto muito ― digo, com um aperto no peito. Lembro que Thalles sempre fechava a cara quando o assunto era o casamento dos pais, que dizia com todas as letras que aquilo tudo era uma farsa. Sei que não foi surpresa, seja qual for o motivo da separação, mas isso não anula nem um pouco o que Cat e Thalles sentiram com isso tudo.
― Tudo bem, eu achei bem melhor assim. Só minha mãe que... bom, foi chocante, sabe?
― Sim.
O amor que meus pais sempre tiveram um pelo outro era a coisa que mais me inspirava, eu sabia que independente do que acontecesse aquele amor ia viver e, claro, estive certa. Meu pai sofre muito com essa partida repentina da minha mãe e sei que ver alguém que você ama sofrer é um veneno.
― Ele sentiu muito a sua falta ― Cat diz, o pronome pesa o nome de "Thalles" sem que ela precise nomear.
― Mas agora passou ― falo, desviando o olhar.
― Ele finge bem ― Cat dá de ombros e segura minha mão, fazendo um pedido silencioso que me deixa sufocando: ela quer que eu não desista.
Termino minha água de coco em poucos goles e então fico de pé.
― Cat... ser babaca é uma escolha. Não importa o que tenha passado, ele escolheu.
Ela abre a boca como se pretendesse contra-argumentar, mas acaba ficando calada. Ela sabe que estou certa, defendê-lo seria como passar pano na sujeira.
― Tenho algumas coisas para resolver. Nos vemos por aí ― digo, depositando um beijo na sua bochecha direita, sem desmanchar sua expressão reflexiva.
Quando chego em casa, ainda pensativa, me tranco no quarto e enfio a cara no meu computador em busca de respostas. Busco por todas a notícias publicadas sobre a suposta aparição alienígena, o suficiente para saber o nome da senhorinha e identificar onde fica sua propriedade, perto de uma cachoeira onde eu costumava ir com a minha família. Sei que tudo isso está sendo levado na brincadeira por todo mundo, mas uma luz se acendeu dentro de mim e, por menor que seja, sinto que vale a pena ir atrás.
Imprimo uma cópia de uma manchete e releio diversas vezes, colando no meu mural logo depois de absorver cada palavra. Apesar de ter vindo para cá com previsão de volta, precisei trazer meu mural para me sentir mais em casa. Ainda é repleto de desenhos do Thalles antigo e alguns que eu mesma arrisquei em fazer, além de fotos de pessoas especiais para mim.
Depois de observar cada desenho atentamente, fico decidida a investigar. Afinal, não pode ser coincidência que eu suspeite que meu ex-melhor amigo foi abduzido e uma senhorinha jure pela própria vida que andou tendo alienígenas na sua plantação de repolhos, certo?
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Olá! Sei que atrasei a postagem do capítulo, mas como forma de me redimir, amanhã ou depois postarei o capítulo dezesseis, que é maior e bem emocionante (risos).
Espero que estejam gostando <3
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Você Acredita em Humanos?
Ficțiune adolescenți[NOVA VERSÃO] Elay e Thalles acreditam fielmente em duas coisas: que a amizade deles irá durar para sempre e que os alienígenas conspiram contra o Planeta Terra. Narrada em duas perspectivas, essa é uma história sobre amizade, amor e mudanças.