VINTE E UM

1.8K 276 125
                                    




Thalles. Verão de 2018.

Aos oito anos de idade eu descobri que era bom em transformar papelões simples e sem graça em uma grande diversão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Aos oito anos de idade eu descobri que era bom em transformar papelões simples e sem graça em uma grande diversão. Tudo de que eu precisava era um estilete, tinta acrílica e uma boa dose de criatividade. Em um passe de mágica eu criava as mais inusitadas naves espaciais e foguetes que voavam a toda velocidade pelo espaço, explorando o infinito de estrelas.

Mas, assim como Han Solo tinha o Chewbacca, as minhas viagens não seriam possíveis sem um copiloto. Esse posto tão significativo era composto, é claro, pela minha melhor amiga. Sem ela, eu teria entrado em mais enrascadas do que seria capaz de lidar. Sem ela, eu não teria experienciado nem metade das aventuras que vivi. Sem ela, os planetas e as raças alienígenas que catalogamos estariam intactas num canto escuro e esquecido.

O que eu não chegava a imaginar na época, é que o infinito tinha sim um fim: eu fiquei sem ela.

Os dias sem Elay se tornaram nebulosos, mesmo que o sol teimasse em me desafiar e dar as caras no seu ápice naquele verão. E, mesmo sem o menor resquício de esperança, eu me agarrei na sua promessa de que não havia acabado, de que não era o fim. Mas os dias foram passando e eu não recebi nenhum sinal de que a promessa não havia sido dita da boca para fora e, inegavelmente, eu soube: um lado da balança pesava mais.

Como uma erva daninha, o ressentimento cresceu no meu peito e criou raízes firmes. Eu sabia que uma hora ela voltaria, mesmo que evitasse pensar nela. Mas quando Elay surgiu, toda diferente e ao mesmo tempo tão igual, eu não consegui lidar com a situação. Sentimentos soterrados brotaram na superfície e eu desejei nunca a ter conhecido.

E mesmo assim, com sua presença pairando a todo momento ao meu redor e me tirando do sério, o que quer que tenha me feito colocá-la ao meu lado naquele carro foi maior.

Depois que dobro algumas esquinas, ligo o rádio numa estação local, o som característico de Bob Marley empurra o silêncio constrangedor para longe. Sinto meus ombros relaxarem e pelo canto do olho posso jurar ver a sombra de um sorriso surgir no rosto de Elay.

Estou decidido a não dar tanta importância para a presença da garota, como se não fosse nada demais tê-la chamado para passar a noite procurando vestígios alienígenas no céu, uma total desconhecida para mim agora.

Eu não costumava ser tão impulsivo.

― Você acha que a Dona Clementina está dizendo a verdade? ― a voz de Elay me deixa surpreso. Não imaginei que ela fosse ceder tão cedo e ser a primeira a dizer alguma coisa.

― Para falar a verdade, eu não faço ideia ― confesso, me surpreendendo dessa vez com a minha sinceridade e falta de hostilidade.

Estar perto de Elay me deixa quase sempre confuso, o que me faz agir de inúmeras maneiras que eu não entendo. Num dia eu a constrangi na frente das pessoas, no outro a convidei para acampar comigo.

Você Acredita em Humanos?Onde histórias criam vida. Descubra agora