VINTE E SEIS

1.3K 248 66
                                    


Depois de muita nostalgia desencadeada pelas fotos e mais algumas crises de choro pela saudade da Dona Jussara, já é tarde da noite quando Elay e o pai vão embora.

Assim que eles saem, minha mãe se debulha em lágrimas novamente. A dose de vinho foi grande, mas a de memórias foi maior e é o jeito dela lidar com as coisas. Fico acariciando seu cabelo até que ela caia no sono, o que não demora muito, mas me deixa agitado pela possibilidade de não ser possível falar com Maia.

Dirijo na maior velocidade até a casa da minha namorada, sabendo que é inútil. Paro abruptamente ao lado do portão de ferro do casarão e assisto desanimado o fato de nenhuma luz estar acesa. Pego o celular e digito uma mensagem rápida para Maia, mas ela nem ao menos recebe. Sei que ela está com raiva, como provavelmente nunca esteve. Não posso julgá-la por isso, tenho agido como um idiota e sei como ela não lida bem com a minha falta de comunicação. Além do mais, qualquer um que me conheça há um bom tempo sabe que a visita de Elay tem me deixado confuso.

Desço da camionete e analiso a possibilidade de saltar as compridas barras de ferro que circundam o terreno, mas mesmo que consiga, ainda teria que escalar até a sacada do quarto de Maia. Não seria sensato, se eu fosse pego poderiam achar que sou um assaltante e Maia provavelmente ficaria ainda mais brava.

Fico alguns minutos observando a ampla janela do quarto dela até decidir ir embora.

            Falta sete dias para o meu aniversário de dezoito anos e, para minha surpresa, meus amigos se lembram

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Falta sete dias para o meu aniversário de dezoito anos e, para minha surpresa, meus amigos se lembram.

― Nós precisamos dar uma festa ― Luan anuncia, fazendo uma careta para a tela da televisão quando Vitor faz um gol no vídeo game.

Estamos na casa de Cadu, cumprindo com a tradição pós-treino: jogar vídeo game e conversa fora.

― WOW! ― Gabriel, esparramado no chão, grita, despertado pela palavrinha mágica: festa.

Desde que Elay decidiu que deveríamos dar uma festa no nosso aniversário de 14 anos, evitei que acontecesse novamente. Eu nunca comentava sobre a data e fiz as pessoas que sabiam prometerem manter sigilo. Não que eu não goste de aniversários, mas é um dia doloroso para mim, que me remete a perdas.

Mas dessa vez faço dezoito anos, deveria ser especial.

― Não sei... ― murmuro, olhando para a tela da televisão sem de fato olhar.

Brian, o goleiro titular do time e um dos meus amigos mais próximos, coloca a mão na minha nuca e empurra minha cabeça para a frente.

― Isso já é um sim, vamos fazer uma festa!

Eles começam a gritar como crianças da pré-escola e eu não consigo evitar a risada.

Eu aprendi a lidar com festas. Talvez até a me divertir. Se o Thalles do passado soubesse dessa versão, acreditaria que apenas abdução alienígena explicaria essa mudança radical.

Meus amigos começam a sugerir possibilidades: locais, tema, convidados. Eu não dou opinião alguma, porque apesar de não ser mais tão resistente para festas, não gosto de organizá-las.

Maia gostaria de participar das ideias, é claro, mas ela está me evitando como o diabo foge da cruz. Sei que pisei na bola, mas isso tem me deixado consternado. Não é fácil experimentar o gostinho do próprio veneno.

― Garotas. Convide apenas garotas ― Gabriel sugere, apontando para mim.

Reviro os olhos.

― Desde que aquela gatinha que te banhou de cachaça esteja presente, eu já estou feliz ― Nicolas, um zagueiro de quase dois metros de altura, comenta.

Brian lhe dá um cotovelada e Gabriel se dá o trabalho de se levantar e contribuir com um tapa na parte de trás da cabeça do garoto. Eu apenas fecho a cara.

― Ei! Qual o problema? ― o grandão se afasta, coçando o cabelo.

― Elay era a namoradinha do Thalles, cara ― Gabriel explica, indignado. Olho feio para ele. ― Qual é? Vai me dizer que não rolou nada?

Todos os olhares se voltam para mim.

Parece que faz um século, mas me lembro da textura da boca de Elay na minha, no nosso beijo inexperiente dos quatorze anos de idade. Eu me senti capaz de tocar as nuvens, com os hormônios fazendo um desfile de escola de samba por todo o meu corpo.

A dor de acreditar que ela havia me beijado apenas por causa do trato com as amigas foi quase tão intensa quanto o beijo. Quase.

― Não aconteceu nada ― minha voz sai aguda, me entregando. Eu costumava ser melhor em ocultar a verdade.

― Desculpa, cara ― Nicolas diz e os outros caem na risada.

Sinto como se houvesse uma tonelada sobre meus ombros. Eu não deveria me importar com algo que aconteceu anos atrás, não estando com outra pessoa, mas eu sinto um desconforto inexplicável.

Eu sou um grandiosíssimo babaca,

― Bom, o código não funcionou para primos, não é? ― o filho do treinador Bill se pronuncia, jogando ainda mais peso sobre mim.

― Como assim, Rob? ― Brian pergunta e eu quero muito socá-lo, porque já imagino que a resposta será conturbadora.

― Qual é? Ela tá saindo com o Samuel, até vi eles se pegando no La Bamba.

Lembro do olhar confuso de Elay quando a encontrei no banheiro masculino da casa de shows. Eu sabia que ela havia ido até lá com Samuel, mas tive a sorte de não ver os dois realmente juntos. É claro que isso aconteceria, eles tinham alguma coisa antes, não deixariam isso simplesmente desaparecer.

Mas Elay foi embora sozinha. Algo a fez praticamente fugir naquela noite.

Ao mesmo tempo em que me sinto com raiva ― porque não confio nem um pouco no meu primo ―, fico um pouco aliviado que ela tenha ido embora sem ele.

― Ah, mas eles já ficavam quando ela morava aqui ― Gabriel diz, me olhando como se tentasse decifrar um quebra-cabeça. Não gosto disso, porque sei que ele está me analisando, tentando encontrar algum sinal que evidencie que eu ainda gosto de Elay.

Não posso negar que venho fazendo essa mesma análise no espelho há um tempo.

Tento interromper o assunto.

― Vocês vão mesmo ficar fofocando ou vão jogar? Acho que estão é com medo de perder para mim.

Funciona. O assunto volta a ser o vídeo game e futebol. Bem mais seguro que assuntos do coração.

~~~

Oi, gente! Desculpa a demora e o capítulo pequeno haha, essa última semana foi muito corrida, mal tive tempo de escrever, mas dessa vez vou conseguir ser mais pontual, ok?

Espero que estejam gostando, fico muito feliz com todas as leituras dessa história, que é muito importante para mim. Obrigada!!! <3

Você Acredita em Humanos?Onde histórias criam vida. Descubra agora