A Camponesa

Capítulo XX - Segredo e acordo

Trabalhei até o meio do dia para fazer uma outra mesa coberta lá em cima, embutida com a saída da cozinha para os dias mais frios e com tempestades de neve. Já tinha tudo planejado e bem preparado, nesses dias estaria por vir mais chuvas e bastante neve, e por causa disso ajudei minha avó cobrir sua plantação de frutas e hortaliças. Ela sempre deixava suas coisas bem protegidas, e sempre conseguia o que queria, é incrivelmente bom ter minha avó aqui comigo, que mal sei plantar uma flor.

Ao mais tardar resolvi tapar os buracos entre os vãos das madeiras com mais precisão para não passarmos frio. E então minha avó pediu para ir à vila comprar mais seis sacos de penas e quatro de panos, com a condição de entregar nas mãos dela para trabalhar em novas cobertas para nos cobrirmos do frio que estava por vir.

Sentada no pequeno sofá de minha sala pensava na possibilidade de mudar minha vida, buscar concertar meus erros e fazer minha profecia se tornar realidade. Sabia que não era meus pensamentos, porém sempre gosto de ter um pouco de Lia nos meus dias.

- Vovó irá precisar de mais alguma coisa? - Fala em alto tom para ela que estava na cama a tecer as cobertas.

- Oh não minha querida, podes ir... tenho tudo o que preciso aqui - Disse me tranquilizando.

Saio de casa às pressas, estava cada vez pior a pressão que se formava na minha mente e também coração. Mesmo correndo para o primeiro lugar que nos encontramos, sabia que de um jeito ou de outro demoraria a chegar. Era o outro lado do rio que me esperava, e teria que dar a volta na floresta para lá me fazer presente.

Com as pernas já cansadas, a barraca nas costas já tinha se tornado um peso maior, pela dor de Lia que me corroía dentro do peito e coração, cheguei a parar por alguns segundos em árvores, tomando um gole de água no cantil que Julie me deu.

Finalmente cheguei ao destino com o sol a se esconder entre as nuvens e a neve a querer se desprender do céu. Armo minha barraca respirando profundamente e me acomodo entre a cama improvisada. Havia o cheiro dele por ali e estava mais tranquilo, a respiração, o clima, o peso em minhas costas... vovó sempre está certa, sempre me ajuda.

Com o vento a se pronunciar mais forte sei que terei que passar a noite aqui, mas pelo menos tenho o descanso merecido, que há muitos dias não tinha.

- Lia, pode descansar melhor agora? - Observo seu corpo mais revigorado, as escamas vermelhas mais brilhantes.

- Sim, está mais quente aqui, sinto-me protegida e já não dói tanto quanto estava doendo - Responde e seus olhos me agradecem silenciosamente.

- Eu preciso saber Lia, por favor, também me diz respeito - Começo o apelo.

- É coisa de dragão - Bufa incomodada - Não entenderia.

- Mas diz respeito ao meu corpo cansado, igual estou - Com cabeça quente de tanto pensar no assunto, acabo falando o que tanto me incomoda, as dores em todo o corpo.

- Estás se preparando - Diz rapidamente - Só isso.

- Me preparando para que? Pode ser mais clara? - Pergunto com rigidez.

- Liane, eu não sei se entenderia -Solta o ar rigidamente.

- Olha, não importa se entenderei ou não - Respiro fundo buscando forças para a bomba - Só quero a verdade, somos uma só!

- Tudo bem - Disse por fim - Você... Eu... Nós estamos passan....

- ALI ALI, O INFELIZ ACAMPOU NUM LUGAR PREPARADO - Me sobressalto ao ouvir uma voz grossa e alta - PEGUEM-NO E PRENDAM-NO.