Capítulo XIX - O chá

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Já era noite e as minhas energias se esgotaram, então me dirigi ao lado de vó para poder dormir ou pelo menos tentar. Ultimamente estou gastando muito mais energia do que quando vivia trabalhando, ando mais cansada e acho que é por causa de Lia. Quando descobri sobre nossa relação minha vida se complicou ainda mais, não a culpo, porém isso vem me cansando mentalmente.

— Lia? — Chamo-a mentalmente, como sempre fiz.

Um silêncio se fez presente, mas nada dela me responder. Então fechei os olhos na esperança de descansar.

— Oi Liane! — Me sobressalto com sua voz, já não estava mais a esperar por sua resposta.

— Me assustou — Exclamo, tentando acalmar meu coração acelerado.

— Desculpa, é que ultimamente estou muito fraca — Com os olhos fechados pude ver seu grande rosto, bufando pelo nariz, parecia chateada.

— Pode me dizer porque estás chateada? — Pergunto mansa.

— Não lhe diz respeito Liane — Me responde rudemente.

— Oras! Claro que me diz respeito, por acaso sou eu a morar dentro de teu corpo? A te deixar mais fraca e cansada? Tanto fisicamente quanto mentalmente? — Respondo no mesmo modo, estava sem paciência comigo mesma, isso era novidade.

— Tens razão — Desfez a carranca horrível que estava em seu rosto, que parecia que iria soltar-me fogo a qualquer momento e novamente voltou com a de costume, mais mansa por assim dizer — Você tem que aprender o que nos acontece para poder lidar com isso quando andas por aí — Conclui.

— Tabom, mas primeiro tenho perguntas a fazer — encaro-a esperançosamente — Ele irá voltar?

— Liane, como sua avó disse, ele escolheu a profecia que lhe cabia, e não foi conosco! — Soltando a respiração por suas grandes narinas senti o peso de suas palavras — Eu em particular não tenho mais esperanças e quando lhe fiz aquela experiência mentalmente, fiz para não sentir a dor, que agora estaria te esmagando por dentro, a minha dor.

— Oh! — Com um O perfeito na minha boca continuo com os olhos fechados, encarando-a com admiração, fizeste tudo aquilo para não me afetar durante todo esse tempo, desde que partimos — Eu não sei o que dizer... então estou sentindo toda minha energia sendo sugada por esse motivo?

— Sim, infelizmente sim — Fechou os olhos brevemente e pude deslumbrar uma lágrima vermelha caindo, pingando em cima de uma de suas enormes patas. Ela estava deitada, e isso deixava claro sua guarda abaixada — Liane, tem que saber uma coisa. Você não pode me libertar.

— Como assim Lia? Você é minha, somos uma só! Está livre que nem eu estou, não? — Questiono-a confusa.

— Não, há algo que me prende aqui, muito maior que nossas forças juntas — Seu suspiro era audível — Veja.

Com suas enormes patas ela se levanta e então posso ver uma corrente roxa, que queimava suas escamas da perna, fazendo bolhas pretas, a machucando.

— O que és isso? — Horrorizada desvio o olhar para suas magníficas asas.

— És nosso castigo — Diz voltando ao normal, deitando-se — Só ele pode nos livrar desse laço invisível com o próprio diabo.

— E quem é ele para nos prender? Quem é o responsável por isso? — Pergunto confusa.

— Nossa criadora — Seus olhos transmitiam seu cansaço ao pronunciar as palavras com dificuldade — Ela nos quer mortas, aquela que viu no livro, é ela. Naquele tempo eu estava grávida de Phil, ele me dera um filho e uma linda menina... nossa vida foi maravilhosa. Mas por um erro meu, ele não conseguiu capturá-la e decapitá-la... entenda, sem ele estaremos ainda mais desprotegidas, nossa profecia depende apenas de um dragão, nenhum será capaz de nos proteger, nem mesmo nosso próprio inimigo... Caleb...

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