Capítulo VI - A prisão

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Ainda atordoada sou carregada para dentro da torre de guardas, já ouvi boatos desse lugar e já presenciei meu querido avô morrer por aqui.

- Vovó aonde vamos? - Digo entusiasmada, normalmente meus pais não tem tempo para mim e acaba sobrando para minha avó ficar comigo.

Porém ela sempre vem me treinando, nunca me disse a verdadeira razão e faz anos que não saio para passear... agora ela decide me levar para ver uma pessoa especial, mas não entendi porque chora tanto.

- Quieta Lia, se seus pais a verem pronta para sair não vai deixar ir comigo! - Diz ela com seu olhar triste me encarando.

Andando em direção a uma montanha com muita grama percebi que estamos indo em direção ao castelo.... Será que vamos ver a rainha e o rei? Nossa! Que grandão esse lugar.

Quando estamos próximas minha avó pega a direção para uma torre já acabada indo conversar com um homem muito grande e rabugento.

- O que veio fazer aqui velhota? Ainda mais com esse filhote de gambá! - Ele torce o nariz na minha direção. Poxa! Não estou fedida, tudo bem que andamos muito até aqui, mas não é para tanto.

- Não fale assim por favor, é apenas uma criança... hoje é dia de visita - Diz ela, vaga.

- Você sabe que estou deixando isso passar porque um dia você irá me pagar velhota. Mas não pense em abusar e trazer essa fedelha muitas vezes por aqui. - Enquanto mostro-lhe a língua, ele se vira entrando na torre que aos poucos estava desmoronando, provavelmente precisaria de ajustes mais para a frente.

- Ei! Olha aqui, independente do que você ver e ouvir aqui, não conte nada para seus pais, tudo bem? - Ela me pergunta e eu afirmo em silêncio. Na porta da velha torre vejo um senhor já de idade andar até nós meio mancando, quando já está perto, ele me vê.

- Minha neta! Oooh minha menininha! - Me abraça forte deixando lágrimas cair pelo rosto.

- Vovô? - Pergunto duvidosa em meio a emoção de conhecer meu avô.

- Sim minha linda! Sou eu!

Todos os dias eu ia ver ele, ficamos dois anos se vendo e como já era grandinha ele me contava diversas coisas sobre a prisão. Tinham diversos afazeres que os soldados mandavam fazerem, todos eles fugiam da higiene, alguns se tornavam inúteis perto de plantar as coisas para que preparassem comida para os prisioneiros. As prisioneiras eram tratadas e abusadas pelo próprio rei por serem jovens sem pais, sem família. Muitas das vezes as moças se vendiam, tanto para trabalhar como empregada particular no castelo quanto para sair daquele lugar de pura imundice, claro que isso tudo por debaixo do nariz da própria rainha. Ninguém via através daquela torre, e por isso não sabiam as atrocidades que eram praticadas com os prisioneiros, já que muitos foram presos injustamente... então como o povo não falava absolutamente nada isso se tornou um motivo para o rei e a rainha brincar e abusar de seus "súditos incompetentes".

Mas, eu não sabia que naquele tempo meu avô seria alvo dessas atrocidades só para me defender. Jamais me perdoaria por ver ele sofrer.

Um dia meus pais souberam das visitas ao meu avô e proibiram minha avó de me levar para ver ele. Quando estava na varanda de casa brava com minha avó por aceitar a decisão deles, uma simples ameaça a qual não me detalhara muito, decidi ir sozinha ver meu conselheiro e amigo, meu vovô. Porém uma movimentação me chama atenção:

- Sua velha escrota, não te dissemos que ela não poderia ver seu amado marido? - Disse meu pai e eu podia sentir seu nariz soltando fogo da varanda - Foi uma ordem dada dela, e segundo ela, isso a ajudaria. Você bem sabe que ela não é uma criança qualquer, sabe que aquela mulher voltará atrás dela um dia ou outro.

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