A Camponesa

Capítulo XXIII - O acampamento

O dia tinha começado às cinco horas da manhã pelo acampamento, fui acordada por minha avó, que ainda brava me encarava como a criatura mais cruel que existe na terra. Eu não estava aguentando seu olhar, então pensei em conversar com ela depois de meus afazeres, que, agora tinha que fazer em dobro.

— Liane? — Uma mulher com seu filho no colo pergunta pra multidão que estava no acampamento.

— Pois não? Estou aqui. — Falo meio aturdida, os acontecimentos de ontem a noite me deixaram exausta, acho que meu dragão não está nem um pouco com energia. Mas pelo menos estava de bom humor e feliz, diferente dos dias que tinha passado com ele.

— Me acompanhe por favor — Disse friamente.

Deixando meu "dormitório" ao ar livre, sigo a mulher para as grandes barracas que foram instaladas à frente de onde dormimos. Desviando de vários sacos de dormir deixados para trás por suas donas, observo que muitas mulheres estavam sendo chamadas pra diferentes direções. Minha avó ainda estava em seu dormitório, ainda deitada, com uma carranca em seu rosto me "avaliando" de longe.

— Da para se apressar? — Pergunta a mulher com ignorância. Ela era morena, com seus cabelos lisos bem pretos, que batia na cintura. Sua aparência não era das melhores, seu rosto afundado mostrava que sua vida não era apenas mordomias, seus olhos pretos brilhantes passavam medo em qualquer que se aproximasse de seu filho, que estava em seu colo. Era um bebê pequeno para sair ao ar livre, diria que nasceu a poucos dias.

As grandes barracas formavam um teto improvisado entre as enormes árvores, o rei escolheu esse ponto por causa disso mesmo, por causa do tecido verde escuro que servia como uma camuflagem no meio das folhas verdes, que se localizavam perto de algumas nuvens, já no ápice de alguns troncos. 

Depois do grande terreno que se localizava o improvisado dormitório das mulheres que resolveram servir de proteção para a rainha, finalmente estávamos de frente para uma grande entrada da primeira barraca. Era como se fosse a metade de um castelo, que instalado provisoriamente no meio de uma floresta no topo de uma montanha, tinha que ser zelado e organizado por suas faxineiras e empregadas.

Entrando na primeira barraca pude observar o grande salão que instalaram, com vários sofás para grande conforto para as majestades que ali se encontravam, com suas mesas de tomar chá nas tardes frias. Tinha um pano meio transparente que estava sendo colocado para separar a entrada principal e aconchegante da sala de jantar, tudo observado por damas de companhia das madames. Enquanto a mulher que me guiava tentava parar o choro do menino em seus braços para prosseguir o caminho, prestei mais atenção nas conversas alheias, pois elas eram um pouco importantes para me localizar onde me enfiei.

— Ashley, já te falei que a rainha não vai gostar desse tecido, ela não tem esse gosto! — Disse uma mulher cruzando os braços elegantemente.

— Não custa tentar agradá-la madame, usaram seus tecidos prediletos em seus aposentos provisórios e sobrou apenas este! O mais bonito dentre os outros que pode servir nesse lugar — Suspirando e soando de cansaço, a menina que aparentava ter menos idade do que eu tentava explicar para a mulher loira do ocorrido.

— Pois bem, tomara que acerte pois ela está vindo ali com uma cara nada boa para esse tecido — A loira com um grande coque em sua cabeça pegou distância da garota que tentava a todo custo prender o pano nas armações da barraca.

— Posso saber quem escolheu esse pano para minha coleção de acampamento? — A rainha, a qual estava com seus trajes formais sendo carregados para dentro da barraca por suas empregadas, perguntou com grande desgosto em sua fala — Espero que seja desfeito o acordo com essa loja de tecidos, não teve nenhuma cor que me agradou cem por cento! E esse aqui foi o ápice! Trate de retirar agora mesmo menina, se não sua família chorará por não ter proteção dessa guerra!