Capítulo XVII - A construção

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Foram dias andando até chegar aqui, nessa enorme montanha. Bem que ele me avisou, aqui tem cheiro de esquilo, agora vamos à caça.

Me sentei em um galho de uma enorme árvore, deixei as coisas em baixo e só peguei meu arco e flecha. Tinha diversos buracos onde os roedores viviam, mas achei melhor esperar por eles, até porque tinha que descansar de um jeito ou de outro.

A mansidão das árvores me arrepiava. Por esses dias eu me sentia diferente, como se estivesse vazia. O que tenho em mente é matar aqueles miseráveis, eu não tenho mais motivos para viver, mas me vingar deles primeiro está em minha lista. Sabia que em parte era Lia que me mostrava parte de seu sofrimento, acho que dragões tem corações de pedras que quando atingidos pode manter sentimentos por um longo tempo, até mesmo pela eternidade.

Um roedor gordo aparece por ali, e sem errar atiro em sua cabeça. Desço da árvore rapidamente e vou pegar minha comida.

Quando volto para o acampamento acendo a fogueira com os galhos que estavam pela pequena trilha que tem e já asso o esquilo. A cada estralo do fogo minha boca salivava ainda mais, que fome.

Demorou, mas finalmente consegui o que queria. Mal parando em minha boca os pedaços do esquilo desciam sambando por minha garganta. E assim observei a lua dominar o céu daquela tarde, como um rei domina um reino, como um exército domina um território... essas comparações sempre irão existir entre mim e as coisas dessa terra, porque mais do que tudo sinto que não nasci para viver aqui, tudo está levando a minha derrota, como se eu fosse um erro. Acho que viver como um pássaro passando por diversas aventuras nesse mundo a fora é o objetivo do meu dragão, que até agora não entendi porque ainda não se mostrara para me ajudar a superar essa reviravolta.

Suspirando busco por uma solução. É, todas as que me salvariam não chegam a ser possível de se concluir...

Sem mais delongas me levanto em direção a barraca, precisava de mais descanso para obter mais energia.

Se passou quatro dias, mas finalmente estou aqui, no lago, onde sempre fora minha salvação. Por esses dias andei pensando direito e resolvi me precaver.

Já faz muito tempo que não encaro essas águas calmas, não busco outra coisa a não ser a minha vida que minha avó disse que um dia eu teria. Mas só rodei o mesmo caminho e não consegui chegar até lá.

Enfim, me dei conta que uma casa daquele tamanho que era a de Philipe me acolheu e me deixou confortável, bem comigo mesma nem que fosse dentro de uma briga. Ter o que posso chamar de meu é algo bem estranho, pois queria uma casa onde eu pudesse chamar de "nosso" com a pessoa a quem me apaixonei. Mas a vida não é fácil, então é melhor me prevenir.

Cortando madeiras médias comecei a fazer uma casa na árvore, seria pequena, mas muito aconchegante. Conforme os dias foi se passando consegui materiais o suficiente para finalizá-la, sem ninguém perceber as visitas no meu vilarejo.

E sim, hoje tenho algo que posso chamar de meu, entrando rapidamente em meu canto de paz por uma escada improvisada chego à porta.

Quando a abro tenho a visão de um quarto e cozinha muito bem terminados, a felicidade em deitar na minha cama onde tem uma janela para o céu estrelado não tem preço. A cozinha por mais simples que fosse tinha todos os privilégios que qualquer uma teria. Não era uma mansão, não era grande, mas era meu pequeno paraíso, minha caixinha onde só entrava aquilo que era importante para mim.

Me aconchego na cama procurando uma posição melhor para apreciar as estrelas, hoje até mesmo os animais... grilos, cigarras, fizeram uma pausa para apreciar meu troféu. O orgulho desse canto finalizado está tão grande que chego a perceber meus olhos vermelhos cintilantes de Lia, ela em todo esse tempo me deixou quieta com meus pensamentos. E sim, logo nesse dia especial ela pretende se fazer presente também, me animando ainda mais!

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