Capítulo I - Opressão em cena

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          Após roçar a última parte que faltava do terreno da minha avó, onde minha família vive, sento-me em um banco embaixo de uma árvore. Nós vivemos em uma parte isolada da aldeia, até porque meus pais insistem em dizer que se morássemos lá ficaríamos mais expostos, como se ninguém soubesse que eles sempre se enfiam em encrencas. O terreno é perto de uma floresta a qual separa o vilarejo em duas partes, porém nenhum camponês se atreveu a se aventurar por ela, já que todos que pensaram nessa ideia teve seus dias contado tanto pela guarda real como também por se perder e morrer misteriosamente.

          Posso me considerar uma pessoa esforçada, bom, na maioria das vezes, pois na maior parte do tempo me forçam a fazer as coisas. Se não sou eu a fazer tudo por aqui, não estaria tão organizado e nem teríamos comida em casa. Sim, a vida que Deus me preparou pra viver é muito simples, fui ensinada desde criança a conquistar um título real ou pelo menos tentaram me ensinar até aos meus dez anos de idade, mas sempre tive dúvidas quanto a esse comportamento de meus pais, pois meu maior desejo sempre foi ter um casamento digno e simples, um que jamais me arrependeria de aceitar... mas é difícil nesse momento conseguir isso, já que nenhum camponês me encontra no meio desta floresta, e além disso não conseguiria permissão de meus tutores para tal, estou fadada a respeita-los e obedece-los como um empregado obedece a seu senhor.

          Logo após o descanso no banco, resolvo ir ter com minha amiga Rayssa, uma das moças mais prendadas daqui do vilarejo e prezo muito a amizade dela, ela ajuda a me manter firme e de cabeça erguida nessa vida "miserável" em que vivo, como ela diz. O que fazemos juntas é rir das nossas falhas em conseguir o que queremos, ela com desejos mais acima dos meus com certeza, sempre com suas piadas voltada ao modo de viver daqueles "fugitivos da lei", como chama quem mora longe do vilarejo principal do reino. Sempre tão exigente e zombadora, mas de bom coração, boa parte das roupas que tenho foram doações que ela fez, não de suas roupas, mas sim dos empregados que vezes ou outra eram trocados por falta de modos e porte, segundo sua mãe.

          Andando pelo vilarejo nobre em que ela mora admiro diversas casas onde muitos lordes costumam morar, claro, também existem as damas que com eles tem compromisso; todos aqui me olham indiferente, como se fosse uma empregada qualquer que obedece a cada ordem dada, mas como já estou acostumada não me importo muito, até porque uso roupas que condiz com a realidade de uma empregada onde eles moram.

          Já suada de tanto andar pelo simples vilarejo, desvio dos buracos em que a estrada de barro tem com minha sapatilha que está apenas os farrapos, chego em sua casa que para mim é como se fosse uma pequena mansão entre as outras. Pintada de uma cor bege claro por fora com detalhes feito em pedra para enfeitar a lateral da casa, detalhes esses que iam até a altura da janela e que, por sua vez, chamava mais atenção que as outras casas ao redor. Quando a mãe de minha amiga, chamada Aisha, me enxerga do outro lado da rua já torce o nariz para o meu lado, nem ela e nem o pai de Ray gostam de mim, por motivos financeiros claro, pois sou a melhor amiga dela e por acaso uma camponesa sem nenhum título nobre, como já os ouvi dizer a ela, que só a levaria para a minha miséria.

          Espero uma carroça com suplementos passar e chegou perto de seus familiares mostrando bons modos de uma moça de bem, que fora criada do mais simples modo, mas que sabe muito bem usar etiqueta em diversos ambientes, mesmo que eles a achem sem nenhuma educação:

— Olá Sra. Aisha, prazer em vê-la! — Digo mostrando um sincero sorriso que tenho como mais precioso, meu pai que diz isso, pois segundo ele isso pelo menos é algo de bonito em mim, uma imprestável.

— Oh! Olá, éé... Como se chama mesmo? — Diz com um sorriso divertido no rosto, perto de mais algumas madames — A sim, me lembrei! Liana! Empregada particular de minha filha madames. — Sínica como sempre. O engraçado é que ela só me trata desse jeito perto de pessoas importantes como ela, ou então em público bem em frente à sua residência, não sei ao certo se a família a fizera uma nobre, mas era o que deixava transparecer.

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