Jeon Jungkook

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Jeon Jungkook.

Ele era demasiadamente bom.

Bom em tudo que fazia.

Era bom nas matérias da escola, principalmente em literatura e geografia. Era bom com artes no geral, ou seja, dançava, cantava, compunha, tocava, pintava, criava e desenhava, tudo excepcionalmente bem.

Era um bom filho também. Além de ser um ótimo irmão. Carinhoso, atencioso, educado, companheiro, entre muitas outras qualidades que o descrevem.

Era campeão da última olimpíada de matemática de Seul. Dormia cedo. Acordava cedo. Alimentava-se bem e cuidava muito bem dos dois gatos que tinha. Além de ser muito bom com crianças.

É. Jeon Jungkook era muito bom em quase tudo que se propunha a fazer.

Era tão bom, mas tão bom, que quando era ruim em algo, era péssimo. Ele era bom em ser péssimo também. E tinha uma área em particular que o fazia mestre em "pessidão".

E horrível em se relacionar.

Isso mesmo. Na mesma proporção em que ele era bom em várias atividades, ele era ruim em relacionamentos. Ruim não, péssimo!

Tinha uma certa (enorme) dificuldade de falar com as pessoas. Era um poço de timidez e vergonha e introversão e falta de habilidades sociais. Falar com os professores era uma lamúria. Com outros alunos então... nem pensar. Normalmente ele entrava mudo e saia calado.

Nisso ele também era bom. Em ser invisível. Quando ainda morava em Busan ele soube desenvolver com louvor essa habilidade, a ponto de, em seu último dia de aula, alguém percebe-lo na sala, perguntando inclusive se era um aluno novo.

E não que ele gostasse de ser invisível, apenas havia se acostumado com isso. Tinha suas vantagens em não ser percebido, e uma delas é não ser zoado. Nerd e narigudo como era, sempre fora um alvo potencialmente fácil e tentador. Sua sorte é que com sua visibilidade acabava por sumir da mira depois de algumas semanas.

Mudou-se para Seul por conta do trabalho de seu pai. Ele era gerente de uma empresa de tecnologia e trabalhava muito. Sua mãe cuidava do lar e dos filhos. Seu irmão, mais velho, também era muito estudioso e quieto. O problema deveria ser seus pais mesmo. Criaram dois filhos calados.

Mas para Jungkook o seu maior defeito não era ser invisível. Seu pior defeito é que se sentia estragado, uma vergonha e um peso familiar. Ele segurava um segredo cruel e mortal. Um segredo que nem seus pensamentos suportavam segurar.

Ele era gay.

Em uma sociedade rígida e homofóbica como a da Coréia, ser gay era assumir um futuro infeliz. Ou ele se assumia e não conseguiria um bom emprego e passaria a ser visto como escória da sociedade. Ou escondia de todos e poderia ter uma vida laboral favorável, mas seria infeliz na vida afetiva.

Ele se considerava muito jovem para ter que decidir sobre isso. E enquanto não se sentisse pronto pra decidir, manteria seu segredo.

Ele não sabia dizer quando foi que aconteceu, quando foi que descobriu que não gostava de meninas. Talvez tenha sido quando viu seu irmão namorando e sentiu nojo daquela cena. Ou talvez fosse por qualquer outro motivo que não saberia dizer qual era.

Era esse então seu maior pecado.

Seu maior segredo.

Sua maior vergonha.

Estudava no segundo ano do Ensino Médio, apesar de ainda ter 15 anos. Sua facilidade em aprender lhe conferiu um adiantamento de série logo nos anos iniciais. Em sua turma havia um outro garoto, a perdição de seus pensamentos e maior fonte de todo seu sofrimento.

Kim Taehyung era o nome do demônio.

Repetente, para provar o quanto era seu extremo oposto.

Mas, (in)felizmente, Jungkook era invisível para Taehyung também.

E infelizmente, aquele garoto era extremamente presente em seus pensamentos e em seus sonhos. Seu maior pecado.

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