Secreto

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- JEON JUNGKOOK!!!! - gritava a mãe impaciente do menino pela escada.

Abriu os olhos lentamente dando de cara com o relógio, 7h35. Estava atrasado. Em um pulo impossível, levantou da cama e em fração de segundos estava de frente para a cômoda, pegando uma cueca limpa e seu uniforme.

- PERDI A HORA OMMA! - gritou correndo para o banheiro.

Levou para dentro do chuveiro sua escova de dentes para tentar agilizar o processo. Concentrou-se apenas em lavar as partes íntimas e molhar os cabelos. Seu pai não tolerava atrasos.

Em 15 minutos já se encontrava na cozinha sendo fitado seriamente por seu pai, que estava sentado em seu soberano lugar na mesa de café da manhã com um olhar bem intimidador. Cumprimentou-o e se sentou para engolir um café da manhã.

- Insônia de novo? - sua mãe lhe beija no topo da cabeça.

Jungkook apenas assentiu levemente com a cabeça evitando de toda maneira o olhar repreendedor do pai.

- Precisamos levá-lo a um neurologista. - disse a mãe preocupada.

Finalmente o pai se pronunciaria, após longos segundos de um silêncio capaz de ensurdecer multidões. Apoiou os cotovelos na mesa, levando um olhar de reprovação de sua esposa.

- Jeon Jungkook - com a voz firme e assustadora, que fez apenas o tímido garoto levantar o olhar medroso em sua direção - Você acha que eu fui promovido chegando tarde ao trabalho? - um silêncio se fez. Ninguém se atreveria a contraria-lo. - Não seja uma vergonha a esta família, entendeu? Não irei gastar um tostão sequer para lhe pagar tratamentos de sono, então trate de dormir a noite. - O garoto apenas concordou.

Seu pai era extremamente rígido e preconceituoso, diferente de sua mãe, que o apoiava e chegava a esconder coisas de seu pai, como o seu gosto por artes, principalmente pela dança. Seu futuro já estava traçado na cabeça de seu pai, ele lhe sucederia na carreira de tecnologia, já que o irmão cursava engenharia, o que enchia o pai de orgulho.

Jungkook não conseguia entender como uma mulher doce como sua mãe podia ter se apaixonado por um cara bruto como seu pai. Ele era muito grato a ela, e jamais faria algo que lhe desapontasse.

O pai se levantou e caminhou até a porta, fazendo com que Jungkook entendesse que era hora de encerrar seu café da manhã e ir para o carro do pai. Todos os dias ele era levado até a escola de carro, que ficava algumas quadras a frente. Voltava sozinho da escola, a contragosto de seu pai.

Sentou-se no banco de trás em silêncio e durante o breve caminho longo, ouviu o pai encher a boca para dizer o quanto seu irmão era sensacional, dedicado e bom homem, já até estava namorando uma coreana de família influente em Seul. Que orgulho.

Jungkook nada disse, mantendo uma postura rígida e um olhar assustado e perdido. Temia todos os dias que o pai desenvolvesse uma habilidade mágica de ler pensamentos e descobrisse seu maior segredo e vergonha. Ele podia jurar que às vezes o pai lhe olhava como se soubesse de algo.

O carrasco-pai estacionou o carro e ligou o pisca alerta para que o filho descesse. Quando Jungkook abriu a porta sentiu a mão dura e forte do pai segurar seu pulso, "não me envergonhe" disse-lhe sério. Jungkook apenas concordou e saiu ainda pálido do carro.

Sua cabeça girava e sentia-se tonto. Havia dormido mal, acordado mal e comido mal. Sua vida parecia um pesadelo sem fim. Muitas vezes pensava que seria melhor morrer a continuar viver naquela tortura, a única coisa que o impedia era sua mãe. Aquela mulher doce e tranquila que se esforçava para arrancar um sorriso e alguma esperança do filho.

Sua escola era rígida, tal como seu pai. 8h05. Perderia a primeira aula. Sentiu um frio na espinha ao pensar que teria uma falta em seu boletim. Seu pai não toleraria. Sentou no banco da coordenação aguardando o sinal para a segunda aula.

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