Unicórnio Hermafrodita

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Seu pai se despediu de si, deixando-o na porta da escola. Jungkook olhava a entrada da local com certo receio. Sentia um embrulho na boca do estômago, característico da sua ansiedade. Faltava-lhe coragem para entrar na instituição de ensino.

Na noite anterior havia deixado Taehyung falando sozinho após sua confissão. Não conseguiu responder nada, apenas fechou o aplicativo de conversas e chorou copiosamente coma cabeça afundada no travesseiro, como se algo terrível tivesse acontecido.

E para si, tinha mesmo.

Como poderia olhar para Taehyung agora? Ele havia se declarado para si! Tudo bem que o mesmo não sabia que havia feito isso, mas mesmo assim, Jungkook não queria encarar o mais velho. Só de imaginar que o outro lhe daria bom dia, falaria consigo e até sorriria para si, sentia seu rosto esquentar de tão nervoso que ficava.

Como ele poderia responder as gentilezas dele sabendo que o enganava? Que se escondia por detrás de uma tela de celular? Em sua concepção essa era uma traição imperdoável. Sentia a ansiedade lhe consumir, pedacinho por pedacinho de seu corpo, traduzindo-se em tremores nas extremidades do corpo.

Mas, suspirou fundo e levantou a cabeça. Precisava ser corajoso pelo menos uma vez na vida. Começou a confrontar seus pensamentos terríveis com pensamentos novos, como por exemplo, Taehyung não sabia que ele sabia, logo não tentaria nada, afinal ele não seria tão ousado assim, seria?! Claro que não. Ninguém seria.

Pelo tempo que conhecia o mais velho, sabia que ele também era um pouco reservado e temia perder amizades por causa de assuntos do coração. Assim como quando lhe contou sobre seu lance com Jimin. Desse modo, já que obviamente Taehyung não sabia que seu sentimento era recíproco, não arriscaria perder uma amizade por conta de uma paixonite boba.

Não tinha o porquê se preocupar, não é mesmo?

É sim! Não tinha mesmo.

Além disso, ainda poderia seguir com seu plano de sumir com o admirador secreto. Fazê-lo namorar seria muito fácil e Taehyung, já que está apaixonado, não ficaria chateado, pelo contrário, poderia ficar muito feliz. Depois era só trocar de número e seguir sua vida — claro que Jungkook estava ignorando a sua capacidade inata de se sentir culpado, o que certamente o pesaria sob as costas pelo resto de sua vida.

Mas não era hora de pensar nisso.

Cheio de uma coragem tão falsa quanto momentânea adentrou a escola. O sinal havia acabado de tocar, o que significava que a sorte estava ao seu favor pelo menos uma vez na vida, já que iria para a sala direto, sem precisar cumprimentar ninguém antes do início da aula.

E assim fez.

Entrou na sala que ainda estava uma total algazarra. Alunos fora de seus lugares oficiais conversavam e riam de maneira escandalosa, falando provavelmente sobre seus fins de semana. Jungkook estava parado na porta de entrada, fitando seu lugar e rapidamente traçando um plano que o fizesse entrar sem encarar ninguém. A semana estava apenas começando, precisaria de muitos planos para afugentar o mais velho pelos dias que se seguiriam.

No entanto, Jungkook já quis sumir quando seu olhar encontrou os olhos de Taehyung no meio da bagunça de adolescentes. O plano era tão básico, era só não fazer uma varredura visual, por que raios ele precisava ser tão ruim em seguir os próprios planejamentos?

Viu o mais velho lhe sorrir largo, chegando a fechar os olhos. Sua atitude chamou a atenção de Park Jimin que logo olhou para si também, sorrindo na mesma intensidade do amigo.

— Jungkook! — Jimin chamou em um tom de voz mais alto — Achei que não vinha hoje.

Por sua vez, o mais novo apenas sorriu sem mostrar os dentes, completamente tímido por ter visto Taehyung. Agora sim precisava ser forte. Precisava fingir que nada havia acontecido. Normal. Era só ser normal.

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