Capítulo 22

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“A gente não percebe o amor
Que se perde aos poucos
Sem virar carinho
Guardar lá dentro o amor não impede
Que ele empedre mesmo crendo-se infinito
Tornar o amor real é expulsá-lo de você
Pra que ele possa ser de alguém.”


Nando Reis – Quem Vai Dizer Tchau?


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Ao ouvir aquela frase, Maria gelou por completo. Seu maior medo voltava com força, seu maior segredo estava por vir à tona. Sua vontade era negar aquela afirmação com todas as forças, mas o que adiantaria? Só se enrolaria mais numa questão que já teria de ter resolvido.

— C-como você descobriu? – Perguntou sem forças, suas pernas tremiam fora de ritmo.

— Estêvão acabou de me contar. – Respondeu seco. – Então ele é o cara que arruinou a sua vida, né? Esse homem te desmoralizou na frente de todo mundo! – Após dizer aquelas palavras no tom mais alto que sua voz podia alcançar, ele diminuiu o volume em algumas oitavas. – Esse homem é o meu verdadeiro pai.

— Eu ia te contar, Miguel. – A dor que aquele momento trouxe era mais insuportável do que ela podia imaginar. Infelizmente, Maria não conseguiu estar firme como queria, e já chorava desesperada.

— Quando? – Gritou. – Não tenta se enganar, Maria! Você não teria coragem de fazer isso!

— Eu estava tentando te proteger! – Miguel estava arisco, e sempre que a mãe se aproximava, ele se afastava.

— Mentira! Você está querendo se – enfatizou o “se” – proteger, Maria.

— Não, claro que não!

— Ah não? – Ele riu enquanto as lágrimas ainda caiam em seu rosto. – O que será que meu filho pensaria de mim se soubesse que eu estou me envolvendo com o cara que arruinou a minha vida, e que é seu pai? – Ele imitou seu modo de falar. O clima estava tão tenso que ambos continuaram com a mesma fisionomia pesada. – Eu estou inventando coisas, ou não foi assim que aconteceu?

— Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, ok? – Foi a sua vez de gritar. – Eu queria te contar a verdade, mas tenta me entender, olha a posição que eu me encontro agora!

— Não justifica! – Vociferou. – Você sabe, melhor que ninguém, o quanto eu queria saber quem era meu pai, e ele estava o tempo todo ao meu lado, se tornou meu amigo, e você fingindo que nada estava acontecendo! – Um pesado silêncio se instalou entre eles, só se ouvia um choro nasal de ambas as partes. – Eu confiei em você, Maria. – Ele concluiu, prostrado.

— Eu não queria te decepcionar, Miguel.

— Mas decepcionou Maria, e muito. – A gritaria já havia se tornado normal naquela sala. – Você me desapontou da pior forma que uma pessoa poderia desapontar outra. – Ele deu as costas para a mãe, não conseguia encará-la.

— Me perdoa, filho. Eu sei que devia ter te falado antes, mas eu não conseguia, eu estava com medo de você pensar o pior sobre mim. – Ela tentou abraça-lo por detrás, e novamente, recebeu uma atitude ríspida sua.

— Não toque em mim!

— Você vai me condenar para o resto da vida por causa de um único erro que eu cometi? Então quer dizer que nossa relação acabou?

— Eu não sei. Não sei como nós vamos ficar daqui pra frente. Só peço que você não fique me cercando, eu preciso de um tempo pra digerir isso, Maria.

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