Capitulo I: A Caminhonete Azul

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Era um dia lindo!! Um final de semana sem igual! O sol brilhava forte, mas seu calor não era desconfortável. O verde das plantas do parque nunca estiveram tão vivos!! As aves formaram um belo coro nos galhos das árvores e os insetos pintavam todo o gramado com suas cores, competindo com a beleza das flores.
Estava jogando bola com meu irmão mais novo. Parecíamos meio grandes para esse tipo de brincadeira, mas o que importava é que nos divertimos muito juntos!!
Foi quando Billy chutou a bola com muita força. A bola voou por cima dos muros que limitavam o parque e foi parar na rua.
Billy gritou:
-SARAH!! VOCÊ ESTÁ MAIS PROXIMA DA ENTRADA DO PARQUE!! VÁ BUSCAR A BOLA!!
Resmunguei:
-MAS A CULPA É TODA SUA!! NINGUÉM MANDOU CHUTAR FORTE!!
Ele retrucou:
-VA BUSCÁ-LA ANTES QUE UM CARRO PASSE POR CIMA OU QUE ROUBEM ELA!!
Sem muita escolha fui buscá-la. Quando cheguei à portaria do parque pude vê-la do outro lado da rua, parada e no cantinho entre a calçada e o asfalto. É claro que não fui descuidada em ir correndo pegá-la. Esperei o semáforo fechar para os carros, mesmo que, naquele momento, não tinha movimentação nenhuma de carros.
Atravessei a rua pela faixa de pedestres calmamente e peguei a bola do outro lado. Quando me virei para voltar podia ver meus pais e meu irmão. Mas tinha algo estranho na expressão deles.... Pareciam sinalizar para eu correr!!! Por simples reflexo virei o olhar em direção a rua e vi a última imagem da minha vida... Uma grande caminhonete azul em alta velocidade. O motorista nem olhava para a rua e estava atendendo o celular. Só percebeu que atravessou o sinal vermelho depois que bati em seu capô...
Não tenho ideia de quanto tempo se passou... Parecia que o momento em que fechei os olhos quando o carro corria na minha direção foi a um segundo atrás.... Não tinha força para absolutamente nada.... meus olhos não abriam... Só sabia que estava em um local com claridade e era bem tranquilo.
Diante de meus olhos fechados percebi que duas sombras interromperam a claridade do ambiente e podia ouvir seus passos. Ouvia essas pessoas falando... Eram dois médicos e, eu acho que eles não sabiam que eu estava consciente. O que eles disseram de mim, me incomodou muito:
-Segundo a ultrassonografia há muitos órgãos que estão danificados, não dá pra conter a hemorragia, a cirurgia seria agressiva demais, ela não vai resistir.... Ela não vai passar desta madrugada...
O outro completou:
-Os pais estão desesperados!! O motorista fugiu sem prestar socorro... A polícia está aqui no hospital interrogando os familiares para encontrar alguma pista... Mas com o trauma que a família sofreu, não acredito que eles tenham alguma resposta facilmente...
E o primeiro médico voltou a falar:
-Bem, vamos fazer o que está ao nosso alcance para ajudar esta família! Infelizmente teremos de dar a notícia ruim aos familiares. Mas pelo menos eles poderão passar os últimos momentos com a garota antes que ela vá ao paraíso.
E que o outro falou me deixou um pouco feliz:
-Com certeza ela se tornará um anjo que vai proteger a família. Já tem a aparência de um!!
Senti um deles tocar meu braço para checar se o soro estava bem colocado. Juntei as forças que me restavam para reagir. Puxei levemente o jaleco do médico. Então o médico se aproximou do meu rosto para que eu pudesse sussurrar em seu ouvido, pois já não tinha forças para falar normalmente:
-Por favor.... que....ro...... me..... me...... despe..... dir..... por...... favor...... eu...... não........ vou....... aguen....... tar........ por........ muito....... tem....... po..........
Ele, naquele momento, percebeu que eu não duraria até a madrugada. Então percebi que os dois correram do meu quarto.
Ansiosa aguardava, estava com muito medo de que não chegassem a tempo.....
Foi quando vi a porta do meu quarto abrir bruscamente. Meu pai foi o primeiro a chegar. Desesperado e com lágrimas nos olhos falava segurando minha mão esquerda:
-Papai está aqui!! Papai está aqui!! Pa....
As lágrimas escorreram de seu rosto com mais agressividade.... Segurou mais firme minha mão e abaixou a cabeça e começou a soluçar alto......
Minha mãe chegou, viu o desespero de meu pai.... Colocou as mãos no rosto e ficou aos prantos, pois já percebeu o que havia acontecido....
Meu irmão foi o último a chegar e, ao ver aquela cena, abaixou a cabeça e saiu correndo do quarto.
Pude ver meu rosto... estava completamente pálido. Não tinha percebido antes, mas meus olhos estavam abertos.... tinha um olhar de desespero como se eu estivesse dando o ultimo suspiro.....
Daí então caiu a minha ficha!! Não estava mais em meu corpo!! Eu não tive a oportunidade de me despedir em vida!! Eu queria dizer o quanto os amava e que não queria que eles sofressem por causa de mim.... e meu irmão!!! Meu irmão!! Ele com certeza se sente culpado pelo que aconteceu!!
Não pensei em mais nada!! Só corri para alcançar meu irmão!!
Sai do meu quarto, olhei para os dois lados do corredor, não vi ele, mas no lado esquerdo vi a placa indicando a saída. Corri para o lado esquerdo até me deparar com a placa que indicava o meu lado direito. Aquele hospital era tão grande que parecia um labirinto!! Se não fossem pelas placas eu não acharia a recepção....
Em primeiro momento não vi meu irmão.... A recepção estava lotada!! Pessoas chorando, pessoas com dor, pessoas preocupadas, andando de um lado para o outro.... Era um ambiente de clima muito pesado....
Mas não desfoquei, imaginei que Billy estaria em algum lugar isolado... Ele não gosta que as pessoas vejam ele chorar.....
Fui para o jardim. Tinha uma estreita estrada de tijolos por onde passavam as enfermeiras empurrando seus pacientes em cadeiras de rodas. Mais adiante vi o Billy sentado em um banco debaixo da sombra de uma árvore. Billy estava de cabeça baixa, com as mãos no rosto, soluçando muito.... Me sentei ao lado dele e o abracei em vão.... ele não sentia o meu abraço.... Só ouvia ele repetir:
-É tudo culpa minha, tudo culpa minha!! Era pra eu estar morto e não a Sarah!!!
Comecei a chorar também! Não gostava do sofrimento que estava causando com a minha morte!! Queria confortar a minha família, mas me desesperava por não conseguir nem acariciá-los!
Na verdade, nenhum de nós tinha culpa alguma!!! Aquele rapaz no volante da caminhonete!! Ele sim tem culpa!! Qualquer retardado sabe que não pode atender o celular enquanto dirige!! Aquele meia roda!!! Comprou a carteira de motorista em um chiqueiro!!!
Ouvi uma voz gritar:
-BILLY!!
Era a nossa mãe. Ainda chorando inconsolável ao lado nosso pai que estava de cabeça baixa. Billy correu até ela, a abraçou soluçando. Papai acolheu os dois em seu grande abraço. Vendo os três sofrendo assim cortou meu coração. Chorei de novo e corri para abraçá-los mesmo sabendo que  era inútil.... eles sequer sentiam a minha presença....
Os três se sentaram naquele banco. Só podia observá-los.... Não diziam nada.... Só via lágrimas e soluços..... Depois mais parentes chegaram.... estavam desatualizados.... achavam que eu ainda estava na UTI..... Mais lágrimas, mais sofrimento.... Eu não suportava aquilo!!
Depois de falarem com o médico novamente, estavam indo para o carro. Fui atrás!! Sentei no banco de trás com o Billy. Não iria deixá-los tão cedo!! Não vou descansar em paz enquanto não vê-los bem!! E quero arranjar um jeito de me comunicar com eles para dizer que estou bem, para tentar consolá-los e me despedir também!!

Sua Irmã é Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora