A Dra Andréia arrastou a poltrona de trás da mesa do escritório do policial Bruno e a colocou de frente para nossas cadeiras, cruzou as pernas e colocou a pasta aberta sobre elas.
Olhando para cima, respirou fundo e falou:
-Por onde vou começar?
Um curto período de tempo se passou e ela começou a falar:
-Há muito tempo investigo o crime organizado de Miniápolis. Comecei com um caso de assassinato de um grupo de garotos que o traficante Calafrio contratou para ficar de olho na polícia, enquanto os traficantes transportavam um carregamento de drogas. Obviamente, as crianças falharam na missão, as drogas foram apreendidas e grande parte dos traficantes foram presos. Os meninos foram mortos após sair da instituição de menores.
Jonatan se pronunciou:
-Me sinto culpado pela morte deles....
Dra Andréia o consolou:
-Não foi culpa sua. Eles morreram por causa da escolha deles. Se você não tivesse denunciado, muitas crianças estariam usando drogas até hoje, Você ajudou muito em minhas investigações.
Jonatan reconheceu a investigadora:
-Você era aquela mulher magrinha, de cabelo curto e roxo, com óculos de fundo de garrafa!?
Kate, envergonhada com a atitude de Jonatan, deu um soco no ombro dele e falou:
-JONATAN!! RESPEITE A POLICIAL!!
Dra Andréia falou:
-Não se preocupe, Kate. Aquilo era um disfarce! Estava esquisito mesmo...
Depois a oficial continuou:
-Através de informações coletadas dos traficantes presos descobrimos que aquele carregamento de drogas seria transferido para outras cidades, entre elas, a cidade de Mirna Sanches. Passamos as informações para os policias das outras cidades, mas Mirna Sanches ficou sob os meus cuidados, pois foi onde me formei e me especializei. Pelo fato de conhecer a cidade, facilitou a minha investigação.
-Com a intensa investigação da polícia em Miniápolis, os traficantes ficaram mais cautelosos no transporte das drogas. Passaram a transportar menores quantidades em diversos carros de passeio. Recentemente descobrimos que alguns destes carros eram utilizados como isca para atrair a polícia nas fiscalizações das rodovias principais, enquanto eles carregavam as mercadorias mais importantes pelas estradas rurais. Essa informação conseguimos com a prisão do motorista da caminhonete azul.
-Com a prisão de Julius, confirmamos a informação de que o líder do tráfico de Miniápolis, Calafrio, nomeou os seus melhores membros da facção para comandar o tráfico nas demais cidades. Julius, por ter mais estudo e ter conhecimento em investigação criminal e medicina, foi encaminhado para Mirna Sanches, por ser a cidade mais perigosa para o tráfico. Assim, Julius poderia comandar o tráfico de drogas de Mirna Sanches e ficar de olho na ação policial ao mesmo tempo. O hospital foi o ambiente ideal, pois ele estava longe do olhar da polícia, mas estaria por dentro de todas as investigações deles, pelo fato de os médicos terem o costume de auxiliar nas investigações.
-Todo esse esquema foi frustrado pelo descuido de Golias, o homem que atropelou a Sarah. Ele veio para Mirna Sanches por meio de uma estrada rural, mas, no meio do caminho, ocorreu um deslizamento de terra, causado pelo desvio de uma nascente próxima à estrada, obrigando-o a fazer uma mudança em sua rota. E, como ele não conhecia bem a cidade, acabou se perdendo e foi parar próximo ao parque onde vocês estavam.
-No momento do atropelamento, ele estava ligando para o Julius para pedir ajuda. Sabendo que a polícia estava a caminho por causa do atropelamento, Golias fugiu sem prestar socorro. Com isso, Julius já sabia que a Sarah estava a caminho do hospital e era uma testemunha perigosa para o tráfico na cidade.
-Quando Sarah, chegou no hospital, eu já estava trabalhando lá. Mesmo aos cuidados da Dra Sabrina, Julius fazia questão de cuidar da Sarah, mas não permiti. Depois que a Sarah morreu, a Dra Sabrina ficou muito confusa, isso a estressou tanto, que tive que dispensá-la para ela colocar a cabeça no lugar. Naquele dia, não entendi porque ela ficou tão incomodada, eu imaginei que ela tinha alguma relação de parentesco com a Sarah. Até então, eu acreditava que Sarah tinha ficado seriamente ferida no acidente.
-No mesmo dia fui até a casa da Dra Sabrina para saber como ela estava. Eu perguntei o motivo de tanto estresse, geralmente ela era muito fria. A resposta que ela me deu me deixou chocada. Ela me informou que os ferimentos da Sarah não eram graves. Ela tinha um ferimento interno fácil de se resolver, estava estável e já estava preparada para a cirurgia, mas, de repente morreu de hemorragia interna.
-A Dra Sabrina estava se sentindo culpada pela morte da Sarah, achava que tinha feito algum procedimento errado. Mas informei a ela que o diagnóstico que estava pendurado na cama da Sarah, era completamente diferente do diagnóstico que ela tinha feito para a paciente. Como as informações não batiam, peguei meu carro e fui correndo de volta para o hospital. Cheguei a tempo! O corpo da Sarah ainda estava lá! Tive tempo para pegar uma amostra de sangue para examinar. Foi muito estranho, era pra eu ter muita dificuldade para pegar o sangue de uma paciente falecida, mas ele simplesmente deslizou para dentro da seringa.
-Tive que ser muito cuidadosa, pois não tinha permissão para fazer autopsia na Sarah. O diagnóstico falso do Julius foi muito convincente, então todos acreditaram nele, por isso ela foi sepultada tão rápido. Tive que levar a amostra para o laboratório da faculdade, mas foi muito difícil conseguir uma autorização para utilizá-lo. Fui obrigada a me cadastrar para dar uma aula prática para poder utilizar o laboratório da faculdade.
-Assim que consegui analizar a amostra de sangue, descobri que ela estava completamente hemofílica, ou seja, sem nenhuma plaqueta. Fiz um exame ainda mais aprofundado e encontrei a presença de um anticoagulante poderoso e em alta quantidade no sangue dela. O que explica a hemorragia desenfreada mesmo em uma pequena lesão interna. Naquele momento fiquei chocada! Descobri que não se tratava de uma complicação, mas sim de um assassinato!
-Meu principal suspeito, naquele momento, foi o Julius, por causa do interesse que ele demonstrou pela Sarah. Após a aula, fui ao hospital, na sala de monitoramento de segurança. O que vi nas gravações das câmeras, confimaram a minha suspeita. No vídeo, Julius entrava no quarto da Sarah e injetava o anticoagulante no soro dela e depois trocava os papéis da cama dela. Guardei todas as pistas, mas ao invés de pegar a fita original do vídeo, fiz uma cópia dela e mantive a original no hospital, para que o assassino não suspeitasse que já foi descoberto.
-Desculpem-me pela demora para concluir minhas investigações! Foi muito burocrático conseguir um laboratório para analisar a amostra de sangue, isso atrasou muito a minha investigação...
Então agradeci:
-Dra Andréia, não foi culpa sua o atraso da investigação. Compreendo que tenha sido uma situação muito complicada. Na verdade eu sou muito grata por você ter lutado tanto para conseguir a justiça para mim!
Apesar da justiça feita, meus pais ficaram chocados ao saber que eu poderia estar viva e bem neste momento. Assim como meus pais, eu também comecei a chorar, eu queria estar viva, queria ter continuado a sair com meus amigos, a interagir com todos. Ver o sorriso no rosto dos meus pais, do meu irmão e de meus amigos.
Kate, Joantan, Gabriel e Billy ficaram revoltados com este acontecimento. Pricipalmente Gabriel que falou:
-ENTÃO ERA PARA A SARAH ESTAR VIVA!? ELA FOI ASSASSINADA!? NÃO FOI UM ACIDENTE!? NÃO ERA PARA A GENTE TER PASSADO POR TUDO ISSO!!
Após isso, me mantive em silêncio, imaginando como seria se eu não fosse assassinada:
Sairia do hospital depois de me recuperar da cirurgia, estaria de muletas. Meus pais e o Billy estariam aliviados em me ver bem, meu enterro não aconteceria, todos estariam felizes e continuariam suas vidas normalmente.
Depois da escola, me encontraria com a Kate no parquinho e conversariamos até escurecer, enquanto os meninos passariam a tarde toda jogando videogame no quarto do Billy.
É claro que a polícia continuaria a procurar o Golias, mas como não vi o rosto dele, não o encontrariam. E como Gabriel não se revoltaria com o Billy e não apanharia do Jonatan, não iria para o hospital e Julius nunca ficaria sabendo que ele viu o rosto do Golias.
Acho que demoraria para ele falar o que viu para a polícia... Foi uma situação muito traumatizante... E não sei se depois daquilo ele tomaria coragem para falar comigo. Mesmo que eu não morresse, seria muita coisa para a cabeça do Gabriel. Talvez ele ficaria um bom tempo sem sair com o Billy e com o Jonatan...
Se Gabriel não denunciasse o Golias para a polícia, o tráfico de drogas chegaria aqui... Mirna Sanches se tornaria uma cidade violenta, mesmo com todos esses investigadores excelentes. Testemunhariamos muitos jovens perderem suas vidas para as drogas e era bem possível que Jonatan se tornaria uma vítima por ter denunciado o crime organizado em sua cidade natal...
E mesmo se Gabriel denunciasse colocaria sua vida em risco, pois mesmo com a investigação da Dra Andréia, não sabemos se há mais olhos e ouvidos trabalhando para o Calafrio aqui em Mirna Sanches. E mesmo com a denúncia do Gabriel, ninguém nunca iria suspeitar do Dr Julius.
Pensando bem.... Minha morte não foi em vão! Ela ajudou a salvar muita gente do crime organizado! Sem perceber, eu sorri, o que deixou todos confusos. Mamãe perguntou:
-Sarah! Porque está sorrindo!? Essa foi uma péssima notícia! Você tem ideia do quanto estamos revoltados com isso!?
Respondi:
-Me desculpa mãe... Mas há males que vem para o bem! Se eu não tivesse sido assassinada, não conseguiria proteger ninguém... Julius não seria preso, o tráfico de drogas chegaria aqui, Gabriel e Jonatan correriam perigo! Minha morte não foi em vão! Eu morri, mas voltei com um propósito: Proteger vocês!
A esfera luminosa que estava em órbita em volta de mim começou a brilhar mais intensamente. Em seguida, meu corpo todo começou a brilhar de tal maneira, que parecia que o Sol estava dentro daquela sala. Os papéis da pasta da Dra Andréia começaram a voar para todos os lados por causa do vento que causei. O policial Bruno entrou com outros policias armados na sala para ver o que estava acontecendo. Mas todos ficaram parados enquanto me viam flutuar e brilhar.
Sentia uma sensação grandiosa de paz em todo o meu ser e, então falei:
-Meu propósito aqui na Terra foi concluído! Estou em paz agora!
Gabriel, desesperado e chorando, gritou:
-SARAH! NÃO VÁ!! EU AINDA PRECISO DE VOCÊ!!
Respondi:
-Sinto muito, Gabriel... Eu não pertenço mais a este mundo! Mas não se preocupe! É só ter paciência que nos encontraremos de novo!
Neste momento olhava o meu reflexo nos vidros das janelas. Só era possível ver minha silhueta, o restante era só luz. As lágrimas saiam de meus olhos e flutuavam. Sentia que já estava partindo, então me despedi antes que fosse tarde demais:
-Por favor! Me prometam que vão ter uma vida plena, e sejam felizes! Nunca se esqueçam o quanto eu amo vocês! Vou amá-los pela eternidade e na eternidade os aguardarei! Isso não é um adeus! É um até mais tarde!!
Podia ver todos chorando, e todos, simultaneamente, gritaram:
-ATÉ MAIS TARDE, SARAH!!
Foi como se uma corda que me segurava a eles se rompeu quando eles disseram isso! Em um flash de luz, o mundo que estava em minha volta desapareceu e deu lugar a um local lindo! Estava longe da Terra, mas podia vê-la! Era muito linda! Parecia estar contemplanto todo o Sistema Solar de camarote. Estava flutuando no espaço, podia ver estralas por todas as direções, mas tinha a sensação de estar em um local aconchegante! Me sentia em casa!
Em seguida, senti uma mão acariciar minha cabeça, e um sussurro invadiu minha mente e se misturou com meus pensamentos dizendo:
-Você fez muito bem, filha!
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Sua Irmã é Um Anjo
Short StoryÉ a história de uma garota chamada Sarah, que morre em um atropelamento e volta como espírito para tentar ajudar as pessoas que ama a superar a sua morte.