Sobrevivência

152 6 0
                                    


Eu perdi a noção do tempo que passamos trancados dentro daquele cubículo, horas, dias? Havia água e uma dor lancinante se instalava no meu braço.

"Você é incrível."

Eu me concentrei novamente na figura sentada a minha frente no escuro, eu tinha perdido o foco, pensando na ultima vez em que estive nos braços de Drezão, a maneira com a qual ele me prendia na cama, exigindo submissão. "Hã?"

"Eu quero dizer, você me salvou, mesmo depois de eu ter te causado tanto mal, eu percebia que enquanto eu te atacava sua força ainda estava ali, mesmo abalado você lutava."

Estava perdendo meu foco, a dor no braço era lacerante. Eu não queria estar ali, queria estar confortado nos braços de André, como ele estaria agora? Onde ele estaria agora?

Ivan se levantou, veio até mim e colocou a mão na minha testa, não gostou de ver a expressão preocupada, aliás, era Ivan capaz de sentimentos, desde quando?

Se eu não gostei da expressão que ele fez quando olhou minha temperatura gostei muito menos da que fez quando olhou embaixo da minha tala. Levantou-se e começou a andar pelo pequeno cativeiro.

"Desgraça, que desgraça, você não pode morrer, não posso deixar você morrer agora..."

Tentei levantar cabeça e dizer que eu estava bem mas então não consegui, o suor frio escorria pela minha testa, e quem era aquela pessoa na minha frente mesmo? Bem, eu não sabia, mas logo a porta se abriu e um oriental entrou por ela, olhou para mim e pareceu satisfeito, seu sorriso teria me deixado em estado de total alerta, mas meu corpo já não respondia dessa maneira, o oriental falou com o outro homem que estava comido antes, cujo nome não me lembrava, os dois pareceram discutir, então o oriental saiu, trancando a porta.

O primeiro homem veio até mim.

"Ele vai voltar mais tarde e vai nos matar Gil, tenho que tirar você daqui, não vamos conseguir ir muito longe, mas acho que dá para te esconder em algum lugar antes dele me achar."

O primeiro homem então se levantou e foi até a porta, a alisou por um tempo, então sorriu para sí mesmo e começou a se jogar contra ela, eu acho que tudo aquilo ficou meio repetitivo, apesar da força evidente que ele fazia, acho que apaguei, quando voltei a mim o homem ainda estava empenhado em se atirar contra a porta, que agora tinha uma grande mancha vermelha que aumentava sempre que ele se jogava contra ela, acho que escutei um choro de dor vindo dele, mas não tive certeza. Então finalmente a porta cedeu, ele caiu por cima dela do lado de fora do cativeiro, por um segundo achei que ele estivesse morto, então ele pareceu se recompor, e com dificuldade se levantou e veio até mim, me ergueu nos braços e me carregou daquele cubículo.

Fui carregado por um corredor (então afinal não estávamos em um porão como eu imaginara antes, filmes demais na cabeça) com grotescas paredes roxas. Atravessamos diversas portas, senti a respiração do homem ficando mais pesada porém seus braços fortes não me deixaram cair. O sol bateu em meu rosto quando saímos por mais uma porta e o homem que me carregava agora soltava um gemido de dor a cada passo mas surpreendentemente sua velocidade aumentou assim que ele avistou um campo aberto, estávamos em um sitio, acho que sua intenção era me deixar em um campo ou estrada então percebi que eu sabia dessas coisas porque ele estava falando comigo, me pedia perdão por algo e dizia que não poderia mais voltar para me ajudar.

Seja lá quem fosse aquele homem eu era grato por ele ter se esforçado tanto para me ajudar, claro que eu o perdoei, pelo quê eu não sei, mas ele foi perdoado.

"Parado Ivan!!!"como um choque minha lucidez retornou novamente e eu pisquei surpreso olhando ao redor, eu estava nos braços de Ivan, que soltava um suspiro aliviado e me depositava no chão, caindo ajoelhado.

BrutalidadeWhere stories live. Discover now