Alice estava trancada em sua sala desde a última reunião, imersa em relatórios que davam conta da saúde financeira dos hotéis, tinha assumido a postura de não correr o riscor de nenhum dos dados obtidos pela auditoria vazar.E isso tinha um auto custo, uma vez que teria que fazer sozinha um trabalho que renderia mais se tivesse ajuda extra.Infelizmente aprendeu a duras penas que confiança era algo precioso, comparado a uma conquista material, que após ser conquistado requeria investimentos constantes para se ter retorno.E no momento, ela não podia "investir" em negócios incertos.
Nenhum funcionário, não importasse o tamanho do seu curriculum e isso incluía no momento sua recém contratada secretaria, estava fora de suspeitas.A porta aberta num supetão a fez levantar a cabeça assustada.
- Más que diabos...
Calou ao ver o marido caminhar a passos rápidos até sua mesa a arrancando da cadeira e prendendo o corpo dela com o seu corpo mantendo as mãos espalmadas contra a parede da sala.
- Bernardo! - O repreendeu pelo susto.
A respiração instável dele denunciava o tamanho da ira e o quanto estava tentando controlar.
- Calada! Você não vai falar nada Alice!Eu vou falar e você fica quieta.Entendeu!?
Alice anuiu com a cabeça.Não iria começar uma briga com o maluco no seu local de trabalho.O que quer que tenha desencadeado o surto, em casa ele iria ouvir.
- Você sabe que horas são? Não, não responda ainda!Antes diga-me porque diabos não atendeu minhas ligações?
- Como?! - Ela tinha vaga noção que já passara e muito das dezessete horas, lembrava de uma reunião com o chefe do RH, no entanto apesar do cansaço lembrava perfeitamente que nenhuma ligação do marido lhe foi repassada ou ouviu seu celular a tocar, com a ira despertada pela manhã quando foi ignorada pelo mesmo renovada o olhou como se o mesmo estivesse louco. - Você não me ligou uma única vez Bernado.
- É mesmo?Me entregue o aparelho que eu mesmo irei verificar.
Alice apontou a mesa de trabalho com a cabeça, indicando a bolsa .Enquanto ele se afastava, ela falava tentando entender o descontrole do mesmo:
- Estive o dia todo saindo e entrando de reuniões Bernardo, se quer vi o meu aparelho, provavelmente está descarregado ainda dentro da bolsa.
Ele largou a bolsa após encontrar o aparelho e caminhar até ela lhe mostrando o visor com inúmeras chamadas bloqueadas.
- Porquê?
- Eu não fiz isso Bernado, jamais ignoraria suas chamadas.É certo que por várias vezes senti um desejo absurdo de atira-lo em sua cabeça ...
- Mas não o fez!Preferiu me ignorar o dia todo e me fazer pensar no pior.
Alice se afastou da parede indo até a mesa alisando a saia lápis, se afastando dele.Sentou antes de responder.
- Não seja dramático e não destorça os fatos!Você me evita há uma semana e me ignorou hoje pela manhã saindo sem me oferecer carona.
Ele a encarou.
- Não lhe ignorei Alice!Estava lhe dando espaço, principalmente diante do desconforto que demonstrou hoje pela manhã na justificativa que deu para sua avó.
-Por Deus Bernado!Como consegue ser tão obtuso?!Tudo o que ocupava minha mente naquele momento era...
- A possibilidade da sua avó descobrir a gravidez?!Porquê?Qual o problema dela saber, uma vez que você decidiu dar continuidade a gestação, em algum momento ela irá saber.
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Lado a Lado
Literatura FemininaUma mulher; um homem; Um encontro inesperado! Ela negra, brasileira e desempregada; Ele branco, alemão e herdeiro do ramo tecnológico; Ela tem sérios problemas em confiar no sexo oposto; Ele um workaholic, machista e racista que enxerga as mulher...