Capítulo Treze

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A exatamente três meses do aniversário da sua falsa morte, Theo saiu de casa. Em vez de roupas pretas, vestiu um casaco de ganga sobre uma t-shirt branca e umas calças pretas. Parecia uma pessoa perfeitamente normal e isso deixou-o mais feliz, e permitiu-o esquecer-se de que a sua cara estava completamente diferente daquela que o mundo conhecia e daquela a que ele próprio estava habituado. Em vez do cabelo castanho que a sua mãe elogiara durante toda a sua vida, estava uma peruca loira, mas não exageradamente loira. Clara o suficiente para não parecer falsa. As suas sobrancelhas eram douradas, algo que a Samantha tinha discutido que pareceria muito mais natural do que se fossem da mesma cor do cabelo. E o bigode, da mesma cor das sobrancelhas.

Ele odiava aquele bigode, mas também sabia que era absolutamente necessário. Depois de ter aceitado alguns contratos como modelo, a sua aparência tinha sido constantemente elogiada. O seu sorriso era conhecido e o bigode era a sua maneira de o esconder. Os seus olhos, a mesma coisa. Por baixo das lentes que tornavam os seus olhos castanhos, estavam iris de um verde-azulado, que tinham chegado ao topo de inúmeras listas de "olhos mais bonitos" e coisas do género. Theo sabia que era atraente ou, pelo menos, sabia que fora atraente, mas era exatamente esse conhecimento que o tornava mais paranoico. Sentia que seria apenas uma questão de tempo até alguém reconhecer uma feição da sua cara ou a maneira como ele andava.

A paranoia estava a piorar, mas também o sentimento de estar preso dentro da sua própria casa. Era por isso que ele estava a sair; apesar de só terem passado cinco ou seis dias desde que ele encontrara Helen morta e Arden triste, pareciam-lhe dias a mais. Mesmo desesperado por sair, tomou as providencias necessárias e saiu pela porta de trás da casa, em vez da porta principal. Não queria correr o risco de alguém estar a caminho de falar com um dos seus pais, jornalista ou não, e precisava de respirar ar puro.

Quase por instinto, apanhou-se a andar na direção do parque situado em frente da casa dos Whitt. Estando já a meio caminho, continuou a andar na mesma direção, prendendo a respiração quando viu a casa como sempre tinha sido, já completamente limpa da cena do crime que a tinha informado. A casa continuava vedada por uma fita que proibia a entrada mas, fora isso, estava exatamente igual ao que era antes de se saber quem Leonard Whitt realmente era. Theo respirou fundo, não querendo pensar naquilo que tinha acontecido a apenas metros de onde ele estava e pensou, ao invés disso, em todas as vezes em que Helen vira Peter Landon e lhe oferecera bolos e chá. Theo sorriu, suspirando.

Decidiu atravessar o parque, gostando do facto de estar cheio de crianças e não de adultos. Crianças eram seguras, crianças não sabiam quem ele era porque provavelmente ainda não sabiam sequer falar quando ele estava no pico da sua carreira. Adultos eram mais complicados, mas Theo ficou mais descansado quando reparou que, naquele dia, não existiam pais a tomar conta dos filhos, porque as crianças tomavam conta umas das outras.

A primeira coisa em que ele pensou foi na sorte aquelas crianças tinham por serem brancas. Num bairro como aquele em que Michael James foi morto, ninguém andava seguro nas ruas, por muito que tentassem.

De repente, uma bola voou a dois centímetros da sua cara.

- Desculpe! – um menino pequeno gritou, enquanto corria até ele. Theo riu alto e apanhou a bola, abanando a cabeça.

- Não tens que pedir desculpa. Apanha! – atirou a bola de volta, fazendo o menino rir e agradecer alto.

Theo sorriu com a interação, mesmo que depois disso não tivesse havido mais nada. O menino correu para junto dos amigos, com a bola nas mãos, e não voltou a virar-se para quem o tinha ajudado, numa atitude típica de criança. Theo abanou a cabeça e encolheu os ombros, preferindo continuar a atravessar o jardim até à outra ponta do parque. Do outro lado do grande parque começava o centro da cidade, com mais prédios que vivendas e com muitas mais lojas. Theo, geralmente, não se aventurava a ir para aquele lado, preferindo ficar pelo bairro onde vivia. No máximo, caminhava até ao café onde tinha avistado Arden Kallis pela primeira vez.

Equilibrar a VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora