- O que achas? – Emily perguntou, depois de entregar a revista a Arden.
Com as pernas cruzadas e as costas inclinadas na cadeira onde estava sentada, Arden Kallis observou com toda a atenção do mundo a revista que lhe tinha sido entregue. Na manhã daquele mesmo dia, a revista tinha sido finalmente publicada e distribuída, portanto a opinião de Arden não influenciaria, mas ela sentia-se importante por lha pedirem, de qualquer forma. Ler a revista em questão foi uma experiência para qual Arden definitivamente não estava preparada e olhar para a capa foi muito mais difícil do que ela esperava.
A olhar para ela estava Theo Levi, na forma de papel. O seu Theo, com quem ela tinha estado na noite anterior. Folheou a revista, olhando mais para as fotos e para os títulos dos artigos que outra coisa. Leu o que conseguiu não com os seus olhos de jornalista, mas com os olhos de Theo. Quando se certificou de que a revista não o maldizia ou julgava, voltou a olhar para Emily Roberts, que esperava uma reação. Arden sorriu profissionalmente, assentindo num único só gesto. A Chefe de Edição expirou fundo, mostrando-se feliz por estarem em concordância naquela altura. Arden Kallis sentiu-se relevante na revista e estava contente por ser por uma razão alheia ao artigo sobre Michael James.
- Era só isto? – Emily assentiu, permitindo que Arden se levantasse da cadeira onde estava sentada.
Não entregou o exemplar da revista que lhe tinha sido entregue porque estava a planear lê-lo mais atentamente quando chegasse ao seu escritório. Virou a capa para si, quando saiu do escritório da Chefe de Edição, quase como se quisesse proteger a foto de Theo das pessoas que olhariam inevitavelmente para ela. Só quando percebeu o que estava a fazer e com que intenção o fizera é que se apanhou a compreender a situação de Theo na totalidade, pela primeira vez desde o dia anterior. Só naquela altura percebeu todo o pânico que ele deveria sentir sempre que saía à rua e o dilema que deveria ser todos os dias em que se encontrava com ela – fugir ou continuar a envolver-se com ela.
Arden estava pronta para partilhar o peso daquele segredo com ele.
Quando passara pela entrada principal da sede da revista e viu, num grande cartaz, a capa da edição limitada, ela quase se sentira empalidecer. Não o fez, porque estava demasiado treinada na arte de não mostrar qualquer emoção no seu local de trabalho, mas sentiu-se suar. O segredo de Theo era algo pesado, complicado e perigoso, e ela começava a ter uma melhor noção de tudo aquilo por que ele havia passado. Não lhe fizera mais perguntas depois de prometer guardar o segredo, mas estava prontíssima para as fazer, porque era isso que ela fazia. Questionava. Sabia, no entanto, que ele estava igualmente pronto para lhe responder e isso tranquilizava-a. Estavam em sintonia.
- Natalie. – chamou, assim que se encontrou a uma distância suficiente da secretária da rapariga. Ela olhou para si, com olhos brilhantes. – Fazes-me um favor e vais buscar-me um café, por favor?
- Claro, Menina Kallis. – sorriu-lhe, começando já a levantar-se. – Dê-me cinco minutos.
- Sem pressa, Natalie. – Arden interveio, quase com um sorriso nos lábios. – Não queremos que caias.
Arden quis rir quando Natalie tropeçou ao ouvir a pequena piada da jornalista. Esticou o braço para aparar a sua queda, mas não foi preciso, pois a secretária agarrou-se à sua mesa e equilibrou-se facilmente. Natalie não olhou para trás, talvez demasiado embaraçada para o fazer, e Arden encolheu os ombros, com um sorriso divertido e discreto no rosto. Quando falasse com Theo, teria que lhe contar aquilo, se não apenas para ouvir o seu riso alto e para o fazer orgulhoso por ter sido um pouco mais livre no seu espaço de trabalho. Theo estava a mudá-la, ela sabia, mas não encontrava em si vontade de o parar. Gostava de quem era, naquela altura.
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Equilibrar a Verdade
RomanceArden Kallis é a melhor jornalista do seu país e sabe-o. Sabe como encontrar uma história, encontrar o melhor ângulo e contá-la da melhor forma. Fez da sua vida contar as histórias e os segredos das outras pessoas mas, quando persegue uma história e...